Durante sua recente palestra em um dos mais prestigiados fóruns da Ásia, a XV Caixin Global Summit, sob o tema “Finding Opportunity in an Uneven World”, o professor Marcos Troyjo, ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), apresentou um diagnóstico sobre as transformações econômicas e geopolíticas do mundo contemporâneo.
Sua fala não apenas revelou números impressionantes, como o comércio Brasil-China alcançando 1 bilhão de dólares a cada 55 horas, mas também traçou caminhos para países e empresas navegarem um ambiente onde a eficiência divide o cockpit com a geopolítica. Mais do que uma palestra, foi uma aula sobre como identificar oportunidades em meio à desigualdade global. Este artigo explora os principais insights e números que marcaram sua participação e como eles podem redefinir estratégias para um mundo em reconfiguração.
Em um mundo marcado pela fragmentação geopolítica e mudanças econômicas, os números falam mais alto do que nunca. Eles revelam tendências, destacam dinâmicas e, sobretudo, apontam as oportunidades ocultas para aqueles dispostos a ouvir. Vamos explorar como os números, aliados a uma análise estratégica, são as chaves para navegar neste cenário global desigual e repleto de potencial.
Enquanto 184 dos 193 países representados na ONU enfrentarão declínios populacionais até 2050, nove deles verão um crescimento tão dramático que adicionarão o equivalente a “uma nova China, Estados Unidos, Rússia e Alemanha” à Terra. Índia, Indonésia, Paquistão e cinco países da África subsaariana (Nigéria, Etiópia, Congo, Tanzânia e Uganda) lideram essa expansão, enquanto os recursos naturais e a infraestrutura em muitas dessas regiões permanecem subdesenvolvidos.
Esse crescimento coloca questões fundamentais:
• Quem alimentará essas pessoas?
• De onde virá a energia necessária para sustentar suas economias?
• Como garantir uma transição fluida para uma economia verde em regiões ainda emergentes?
Com 2 bilhões de novos consumidores e trabalhadores, as oportunidades são tão vastas quanto os desafios.
O domínio econômico do G7 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) está diminuindo. Hoje, seu PIB combinado em paridade de poder de compra representa cerca de 50 trilhões de dólares. Mas o E7, as sete maiores economias emergentes, como China, Índia, Brasil, Rússia, México, Indonésia e Turquia, está rapidamente ganhando espaço.
A China, que há 22 anos possuía um PIB equivalente ao da Itália, hoje é uma economia de 19 trilhões de dólares. Mais impressionante ainda, o comércio entre Brasil e China saltou de 1 bilhão de dólares por ano em 2000 para 1 bilhão de dólares a cada 55 horas.
Esses números não são apenas grandes, eles mudam o eixo da economia global, criando novas redes de valor e desafiando os padrões tradicionais de comércio.
Os números também trazem alertas importantes. Se as criptomoedas fossem um país, elas seriam o 27º maior consumidor de energia do mundo, superando nações como o Paquistão. Da mesma forma, data centers que suportam inteligência artificial consomem quantidades monumentais de energia, colocando a sustentabilidade no centro do debate tecnológico.
Ao mesmo tempo, regiões com abundância de água e fontes renováveis, como Brasil e Colômbia, surgem como destinos ideais para projetos de “IA verde”. Essa convergência entre tecnologia e recursos naturais redefine o conceito de vantagem comparativa, conectando o mundo de David Ricardo ao futuro impulsionado pela IA.
Enquanto em 2006 o comércio externo representava 67% do PIB chinês, hoje ele responde por apenas 35%. Isso reflete a transição de uma economia de exportação para uma economia em rede, onde multinacionais chinesas, como a BYD, integram-se a mercados estrangeiros de forma local.
Mas, para manter sua ascensão global, a China precisa mais do que alta tecnologia. É necessário contar uma história convincente, uma narrativa que mostre como sua presença beneficia os parceiros locais e contribui para o desenvolvimento mútuo.
Como os números mostram, estamos testemunhando o “choque das globalizações”. Se os EUA recuarem de sua liderança global, outros atores regionais, como Oriente Médio, Sudeste Asiático e Europa, ocuparão o espaço vazio. O mundo não será mais liderado por uma única globalização, mas por várias ondas de integração regional e bilateral.
Olhando para as dinâmicas que definem nosso tempo, uma coisa é certa: os números guiam não apenas o diagnóstico, mas também as soluções. Do impacto de 2 bilhões de novas vidas à redefinição do comércio global entre G7 e E7, passando pela energia demandada por criptoativos e IA, as oportunidades estão em todos os cantos.
O desafio está em entender essas tendências, adaptá-las ao contexto local e, acima de tudo, agir com propósito. Porque, como disse o professor Marcos Troyjo, “o mundo ficou maior”. E os números confirmam: as possibilidades cresceram junto.