Havia um tempo em que os computadores eram pesados como âncoras, enfileirados em salas climatizadas, com técnicos de jaleco e óculos grossos sussurrando segredos binários. Mas o tempo, esse artefato implacável, trocou os jalecos por hoodies e os óculos por telas de retina.
Hoje, no MWC 2025, a Intel aparece com o Xeon 6 e nos vende a promessa de um divisor de águas na virtualização.
Divisor de águas. Gostei do termo. Remete a Moisés abrindo o Mar Vermelho, a um momento de ruptura, ao instante em que o passado se despede sem cerimônia. Mas será que ainda temos controle sobre as águas que dividimos?
Dizem que o novo chip reduz a necessidade de GPUs, acelera a virtualização e melhora a eficiência energética. É uma revolução para o 5G, dizem. Menos custos, mais desempenho, racks mais enxutos. Tudo parece tão simples quando está em um press release, como se o futuro fosse um gráfico de eficiência sempre ascendente.
Mas a verdade é que estamos num jogo sem freios. Hoje, o Xeon 6 nos impressiona, amanhã será substituído por outro nome, outra promessa, outra peça no quebra-cabeça da obsolescência programada.
Enquanto isso, seguimos acreditando que dominamos a tecnologia, que sabemos para onde estamos indo. Mas no fundo, não passamos de náufragos em um oceano de dados, esperando que a próxima onda nos leve para algum lugar que pareça terra firme.
A pergunta que fica é: quem está realmente dividindo as águas? E mais importante, para onde elas estão nos levando?