Empresa busca ampliar influência na farmacêutica mesmo após proposta rejeitada
A EMS, controlada por Carlos Sanchez, está em movimento para obter espaço no conselho de administração da Hypera Pharma. O grupo tem feito contatos diretos com investidores da companhia com o objetivo de viabilizar a indicação de até três conselheiros na próxima assembleia de acionistas. Entre os nomes cogitados está o investidor Lirio Parisotto, que mantém relações próximas com Sanchez.
A movimentação ocorre após a tentativa de aquisição da Hypera pela EMS em outubro, quando foi feita uma proposta avaliada em cerca de R$ 30 por ação, prontamente rejeitada pelo conselho da farmacêutica. Desde então, o controlador da EMS tem ampliado suas ações nos bastidores, buscando apoio entre minoritários. Hoje, Sanchez detém entre 6% e 8% da Hypera, enquanto Parisotto possui algo entre 1,5% e 3%. Juntos, com base no voto múltiplo, teriam força para eleger um único conselheiro, mas pretendem aumentar esse número com o apoio de outros acionistas.
A possibilidade de um concorrente direto obter assento no conselho gerou reação imediata entre membros do board e investidores relevantes da Hypera. O próprio fundador, João Alves de Queiroz Filho, conhecido como Júnior, sinalizou intenção de reagir à ofensiva da EMS. Desde a tentativa de aquisição, Júnior fortaleceu sua posição societária por meio de um novo acordo com investidores estratégicos. A aliança inclui o Grupo Votorantim e sócios mexicanos, que juntos passaram a controlar 54% do capital da empresa, formando um bloco suficiente para bloquear qualquer iniciativa adversa.
A proposta de nova composição do conselho, divulgada recentemente, reflete essa reorganização. A Votorantim indicou dois membros, incluindo seu CEO, João Schmidt. Júnior também retorna ao conselho, após sete anos afastado.
A disputa acontece em um mercado que movimenta cifras bilionárias. A Hypera, resultado de 26 aquisições e mais de cinco vendas de ativos, encerrou o último pregão com valor de mercado de R$ 12,7 bilhões. As ações da companhia estão cotadas a R$ 20, abaixo do valor atribuído pela proposta da EMS no ano passado.
A tensão jurídica também pode se intensificar caso o relacionamento entre Sanchez e Parisotto seja considerado uma possível coligação informal. Os dois mantêm vínculos financeiros e pessoais, o que poderia levantar questionamentos sobre a independência das indicações ao conselho.
A administração da Hypera está sendo assessorada por Bank of America e pelos escritórios BMA, Cescon Barrieu e Trindade Advogados. A expectativa é de que o embate se intensifique até a assembleia, em um cenário que envolve estratégias corporativas, alianças societárias e a governança de uma das maiores empresas do setor farmacêutico nacional.