Compartilhe com sua comunidades

Maturidade em IA na América Latina: o Brasil está realmente à frente?

Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) deixou de ser um conceito futurista para se tornar um motor real de transformação nos negócios. De atendimento automatizado à personalização em escala, a IA está remodelando operações, acelerando decisões e criando novas formas de gerar valor.

Na América Latina, essa mudança é clara — mas não uniforme. Em meio a esse cenário, uma pergunta cada vez mais comum entre executivos é: O Brasil está realmente liderando essa revolução na região? Ou estamos apenas mais visíveis por sermos maiores?

Brasil: potencial inegável, execução ainda em evolução

O Brasil ocupa a segunda posição no Índice Latino-Americano de Inteligência Artificial (ILIA), com uma nota de 69,30, ficando atrás apenas do Chile (73,07), segundo a CEPAL em 2024. O país tem uma das economias mais digitalizadas da região e concentra cerca de 35% dos investimentos em TI da América Latina, com um mercado que cresceu 13% só em 2024, foi impulsionado em grande parte pela adoção de IA e soluções em nuvem (Nearshore Americas).

Cerca de 90% das grandes empresas brasileiras já experimentaram aplicações com IA generativa (como chatbots, copilotos e motores de recomendação), mostrando que a tecnologia entrou definitivamente na pauta estratégica do C-level. No entanto, o salto da experimentação para a maturidade plena ainda esbarra em alguns obstáculos clássicos:

• Dados desestruturados ou de baixa qualidade;

• Falta de alinhamento entre TI e áreas de negócio;

• Escassez de talentos especializados;

• Projetos que nascem como “labs” e não escalam;

• Governança pouco clara sobre ética, segurança e viabilidade financeira.

 

Chile e México: o que eles estão fazendo certo?

Apesar de terem economias menores, Chile e México oferecem aprendizados valiosos sobre foco e estratégia. O Chile, por exemplo, é o país mais maduro da região em IA segundo o ILIA. O destaque está no seu investimento consistente em infraestrutura tecnológica, na capacitação de talentos e na governança pública. Em 2024, o país anunciou o desenvolvimento do primeiro modelo de linguagem open source da América Latina, uma iniciativa que equilibra inovação com soberania tecnológica. Já o México, na sétima colocação do índice, tem mostrado força no setor privado. Em áreas como pagamentos digitais, 43% dos consumidores já utilizam ferramentas com IA (Mexico Business News). O foco mexicano é claro: projetos enxutos, mensuráveis e com impacto direto no cliente — especialmente em manufatura, varejo e logística. Ambos os países têm algo que o Brasil ainda precisa consolidar: uma ponte funcional entre visão estratégica, execução rápida e governança clara.

O papel dos parceiros e do ecossistema no Brasil

Um ponto forte do Brasil é o seu ecossistema técnico. Temos uma das comunidades de desenvolvedores mais ativas da região e um número crescente de system integrators e parceiros altamente qualificados, capazes de entregar desde estratégias de dados até arquiteturas completas com IA embarcada.

O desafio, muitas vezes, está em como esses parceiros são inseridos nas discussões estratégicas das empresas. Quando vistos apenas como fornecedores e não como aliados, a inovação fica limitada a implementações técnicas — e não a resolução de problemas de negócio.

E agora? Como transformar esse potencial em liderança real

O Brasil tem tudo para ser o hub de IA da América Latina. Mas isso não será conquistado apenas com tamanho de mercado ou orçamento — e sim com execução disciplinada, mentalidade de colaboração e coragem para mudar a cultura empresarial.

Aqui vão quatro caminhos claros que líderes C-level podem adotar a partir de agora:

1. IA é tema de negócio – não só de tecnologia

Inclua dados e IA como parte do core estratégico, com metas atreladas a KPIs de negócio. Tire a IA do “laboratório” e leve-a para o conselho.

2. Invista em governança e arquitetura de dados

Sem dados limpos, conectados e governados, IA vira promessa vazia. Organizações maduras em dados colhem resultados 5x mais rápidos em IA, segundo o MIT Sloan.

3. Capacite lideranças e times para lidar com IA na prática

IA não é só para cientistas de dados. Executivos, gerentes e times operacionais precisam entender seus limites, riscos e potenciais.

4. Traga os parceiros para a mesa cedo

Não espere o escopo estar pronto para envolver quem vai implementar. Co-crie soluções desde o início – e busque parceiros que falem a linguagem do seu setor.

Conclusão: o Brasil está pronto – agora é hora de fazer valer

O Brasil tem os ingredientes certos: talento, mercado, ecossistema e vontade de inovar. Mas liderança não acontece apenas por estar na frente — ela se constrói no dia a dia, nas decisões que tomamos, nos parceiros que escolhemos e na forma como transformamos intenção em impacto.

Não se trata de correr contra nossos vizinhos, e sim de olhar com atenção para o que podemos aprender com eles. O pragmatismo do México e a visão estruturada do Chile nos mostram que há diferentes caminhos para avançar com inteligência.

Cada empresa tem sua própria jornada. Mas todas compartilham uma responsabilidade comum: fazer com que a IA deixe de ser apenas uma promessa tecnológica e se torne um vetor real de transformação — ética, útil e humana.

O momento é de construir com calma, mas com consistência. E o Brasil, se quiser, pode — com um passo de cada vez — escrever um dos capítulos mais relevantes dessa história na América Latina.

Guilherme Tsuchida

Informação valiosa, 
no tempo certo

Assine nossa newsletter

Anúncio

O Brasil já inventou o amanhã. Há 8 mil anos. O palco era moderno, o telão gigante, a plateia conectada. Mas foi preciso que uma mulher falasse de sabedoria ancestral...
Quando Aloe Blacc subiu ao palco do Web Summit Rio 2025, trazendo no currículo os hits “I Need a Dollar” e “Wake Me Up”, era fácil imaginar que ele cantaria....
O Web Summit Rio 2025 chegou ao fim deixando algo no ar que não era apenas maresia. Era inquietação. Mas daquelas boas, que te fazem querer mudar algo quando volta...
Foi Gabriela Comazzetto, líder do TikTok na América Latina, quem subiu ao palco do Web Summit Rio para mostrar que a maior revolução cultural do país não acontece mais na...
Não é mais uma promessa. É mercado. É dado. É audiência que engole séries inteiras em uma noite e acorda comentando no grupo da família. E é sobre isso que...
Relacionamentos, estratégia e alto padrão: o dia a dia de Malu Sevieri, a mulher à frente de eventos grandiosos, que movimentam múltiplas indústrias no Brasil e no mundo....