Entre anúncios de novos modelos, cifras bilionárias e entusiastas exaltando a próxima revolução, subiu ao palco um homem tranquilo, direto, sem firulas. Chris Stephens, CTO e professor em Carnegie Mellon, não parecia ali para deslumbrar ninguém. Mas em poucos minutos, parou a plateia com uma das falas mais lúcidas do Web Summit Rio. Ele não nos levou a pensar em qual será a próxima IA mais poderosa. Levou a refletir sobre o que realmente importa. Disse, com a calma de quem já viveu os dois lados do balcão o das grandes empresas e o das startups, que a nova era da inteligência artificial não é sobre treinar modelos cada vez mais complexos, mas sobre inferir. Tomar decisões. Fazer acontecer. E fazer rápido.
Inferência. A palavra que parece técnica demais, mas que pode definir o futuro da experiência humana com a tecnologia. Porque a questão, agora, não é se a IA vai funcionar. É se ela vai funcionar no tempo que você precisa para não perder a atenção do seu cliente, a vida de um paciente ou a curiosidade de um estudante. Ele falou de milissegundos. Da urgência de sistemas que respondem antes que o usuário desista. E enquanto mostrava gráficos de performance, embutidos em chips que cabem em uma mão, largou a frase que transformou uma palestra técnica em uma reflexão existencial. Citou Kent Beck, um dos criadores do desenvolvimento ágil, que confessou em um tweet: “90% do que eu sabia perdeu valor. Mas os 10% restantes valem mil vezes mais.”
É aí que a coisa muda de nível.
Porque essa constatação não vale só para programadores. Vale para todos nós. Em todas as áreas. A pergunta é universal: quais são os 10% do seu ofício que ainda valem a pena?
Enquanto muitos estão preocupados com o que será substituído, talvez a real revolução seja descobrir o que permanece insubstituível. A velocidade da IA só escancara o que já era verdade: estamos gastando tempo demais com tarefas que não precisam mais de nós, e tempo de menos com aquilo que só nós podemos fazer. Chris não entregou uma solução mágica. Mas apontou uma direção. Não se trata de resistir à tecnologia. Nem de se entregar a ela. Trata-se de escolher melhor. Escolher o que treinar, o que deixar ir, e onde aplicar o que temos de mais raro, nossa atenção, nossa curiosidade, nossa capacidade de conectar o invisível.
No fim, sua fala não foi sobre chips. Foi sobre escolhas. E sobre aquilo que, mesmo cercado de algoritmos, ainda depende do nosso toque humano.
Talvez o futuro seja mesmo dos mais rápidos. Mas também e principalmente, dos que souberem identificar os 10% certos.