Tem dias em que parece que a vida nos empurra para o alto, mas num balão de um só. Quanto mais subimos, mais rarefeito o ar, mais difícil respirar. Dizem que no topo é solitário e talvez seja mesmo, mas só é assim porque fomos ensinados a escalar sozinhos, como se a companhia nos atrapalhasse o passo.
A verdade é que não dá. Sozinho é impossível.
Mesmo quando achamos que temos certeza do caminho, mesmo quando acumulamos medalhas e cicatrizes de batalhas vencidas, é no outro que mora o próximo passo. Não falo só de networking, de parceria comercial ou de brainstorm em mesa de reunião. Falo de estar aberto. De não ignorar a ajuda, ainda que pareça pequena, ainda que venha de onde não esperamos.
Vivemos numa era de excesso de conexão e escassez de vínculo. Curtimos, repostamos, reagimos, mas não nos vemos. Um café, no entanto, pode ser milagre. Numa conversa solta, sem pretensão, às vezes alguém fala algo simples que abre uma porta. Que conecta uma ideia à outra. Que lembra que tem gente querendo fazer parte, construir junto, pertencer.
Quantas vezes viramos a página antes da história fazer sentido? Julgamos pela aparência, pela posição social, pelo tom de voz, pelo cargo no crachá. Descartamos, sem nem nos dar conta de que ali, naquele rosto comum, podia estar uma chave, um mapa, uma ponte. Não temos consciência do todo. E ainda assim, teimamos em escolher sozinhos.
O curioso é que a vida dá voltas e reencontros. Às vezes, esbarramos de novo com alguém que passou batido. E aí vem aquele estalo: “Poxa, esse cara pode me ajudar”. Não porque ele mudou. Mas porque agora a gente enxerga diferente. Sozinho é impossível. Não importa o quanto você saiba, o quanto você tenha vivido, o quanto você tenha planejado. O caminho mais potente é sempre o que cabe mais gente. Que acolhe as diferenças, que soma ideias, que aceita ajuda, que reconhece valor.
E, no fundo, não é sobre chegar.
É sobre ir, com alguém.