Photo by Sam Barnes/Web Summit via Sportsfile
A gente piscou, e o Brasil virou vitrine do streaming global.
Não é mais uma promessa. É mercado. É dado. É audiência que engole séries inteiras em uma noite e acorda comentando no grupo da família. E é sobre isso que se falou no palco do Web Summit Rio, não só sobre entretenimento, mas sobre o futuro de uma indústria que virou hábito, rotina, espelho. De um lado, Manuel Belmar, CFO da Globo, representando o peso de 60 anos de acervo cultural, novela, futebol, jornalismo e aquela capacidade que só a Globo tem de entrar na casa das pessoas sem pedir licença. Do outro, João Mesquita, do Amazon Prime Video LATAM, carregando nas costas 200 milhões de assinantes e uma máquina de dados que entende mais da gente do que a gente gostaria de admitir.
Mas o mais curioso é que, embora rivais em tese, eles falam como cúmplices. Porque o inimigo agora é outro, talvez seja a distração constante, o abandono de carrinho no meio da série, o polegar impaciente no controle remoto. E aí surgem as estratégias. A Globo aposta na força do conteúdo local. Diz que o Brasil é feito de histórias brasileiras contadas por brasileiros. A Amazon também diz que sim, mas com o porém, de que o Brasil precisa aprender a exportar o que tem de melhor. As séries brasileiras, se bem contadas, podem funcionar em Mumbai, Berlim ou Sydney. E funcionam. A primeira guerra foi pela atenção. A segunda, pelo bolso. Agora, o combate é pela permanência. Porque assinar não é mais o desafio. É ficar. E para isso, entram os hubs, os combos, os conteúdos agrupados, os streamings dentro dos streamings. A Amazon quer ser o shopping do entretenimento. A Globo, a livraria de bairro onde todo mundo sabe seu nome.
Mas aí veio a palavra mágica da inteligência artificial. Não mais só para recomendar filme, mas para criar o trailer, dublar em 30 idiomas, cortar mil versões de um mesmo banner em segundos. O tempo virou ativo estratégico. Quem entrega antes, ganha. Quem personaliza melhor, fideliza. E quem entende o que não foi dito, esse, talvez, sobreviva. No fim, ninguém ali falou de tela. Falaram de gente. De experiências que criam vínculo. De como o streaming virou extensão da vida. E de como o Brasil, com sua mistura improvável de novela, favela, samba e São Paulo Fashion Week, virou território de prova e de futuro.
O streaming não passa mais pela América Latina. Ele para, escuta, testa. E volta. Em português.