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Um Trilhão de Dólares de Desperdício e Como o Digital Pode Salvar o Setor Têxtil

A revolução da moda sob demanda tem um ponto de encontro, e ele se chama Kornit Konnections. Na edição deste ano, realizada no final de abril em Miami, 250 participantes de diversos países se reuniram para trocar experiências, antecipar tendências e ver de perto o futuro que já está sendo tecido com dados, propósito e muita inovação. Criado há três anos como um pequeno encontro de usuários da Kornit, o evento cresceu e agora assume o papel de catalisador do ecossistema de impressão digital têxtil, reunindo clientes, marcas, fornecedores, influenciadores e executivos de alto nível. E o que antes era uma reunião informal, agora tem estrutura: um board oficial com representantes da T-Formation, ShirtHub, Sutex, Monster Digital e lideranças da própria Kornit.

Mas o que atraiu tantos nomes a Miami não foi só a boa organização. Foram os números e as perspectivas de um mercado que está rompendo com velhos paradigmas. O CEO da Kornit, Ronen Samuel, foi direto: até 40% de toda a produção global de roupas, equivalente a cerca de 1 trilhão de dólares por ano, é descartada ou vendida com grandes descontos por causa do modelo ultrapassado de produção em massa. A solução? A virada para um modelo sob demanda, mais ágil, sustentável e conectado.

Para os empresários brasileiros que enxergam além do presente, o evento foi um chamado à ação. Continuar preso à serigrafia tradicional é, na prática, desperdiçar eficiência, margem e velocidade. Mais do que adquirir uma impressora digital, trata-se de adotar uma nova mentalidade produtiva onde a digitalização passa a definir não apenas o que se produz, mas quando, como e para quem. Cerca de 15 empresários do Brasil estiveram presentes em Miami, representando desde grandes marcas consolidadas até operações inovadoras em expansão. Todos participaram ativamente das discussões e voltaram com ideias claras e aplicáveis para impulsionar a transformação do setor no mercado nacional.

Um dos momentos mais inspiradores foi a fala de Tom Hassell, presidente da Life is Good, que compartilhou como a tecnologia da Kornit foi vital para a sobrevivência e reinvenção da marca durante e após a pandemia. Com uma operação robusta em New Hampshire baseada em impressão sob demanda, a empresa não só manteve sua produção, como criou um novo negócio de fulfillment para outras marcas.

Steve Nigro, conselheiro da Kornit e ex-HP, reforçou a urgência dessa transição ao comparar a revolução têxtil com o que já vimos acontecer em fotografia digital, impressão 3D e mercado editorial. A analogia mais provocativa veio na comparação entre Zara e Macy’s: enquanto a Zara responde a pedidos em dias ou semanas, a Macy’s ainda trabalha com ciclos de até 18 meses, prevendo hoje o que o consumidor vai querer daqui a um ano e meio.

Outro ponto que chamou atenção foi a discussão sobre manufatura local. Enquanto os EUA perderam quase 90% dos empregos na indústria têxtil desde os anos 1990 caindo de quase um milhão para cerca de 100 mil há uma tentativa de reindustrializar o setor com hubs de print, cut and sew totalmente digitais, voltados para o e-commerce e a personalização.

A Kornit, que deve fechar 2025 com faturamento próximo de US$ 200 milhões, já se posiciona como a Amazon do setor têxtil. A proposta é clara: o primeiro passo da cadeia produtiva não é mais a fábrica, e sim o clique do consumidor.

Entre os destaques emocionais, a apresentação de Jed Seifert, fundador da Stakes Manufacturing, arrancou aplausos de pé. A empresa, que já conta com 200 funcionários, tem 10% do seu quadro formado por pessoas com deficiência de desenvolvimento muitos deles, entre os melhores da equipe. O impacto da inclusão não é apenas social: é estratégico.

No encerramento, a Kornit apresentou seu roadmap de inovação sob confidencialidade, mas com clareza sobre o que está por vir. A promessa é que o Konnections não será apenas um evento anual, mas uma plataforma viva, com trocas contínuas ao longo do ano, conteúdos exclusivos e, possivelmente, o reconhecimento formal como associação sem fins lucrativos no modelo 501(c)(6).

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a maturidade da impressão digital na indústria da moda, Miami tratou de dissipá-las. A mensagem é simples, mas poderosa: a disrupção já começou. E a Kornit está liderando o desfile.

Marco Marcelino

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no tempo certo

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