Com movimento ousado, gigante de Mountain View supera concorrência e reforça arsenal de IA enquanto OpenAI acumula reveses
Houve um tempo em que as big techs simplesmente compravam startups para incorporar suas tecnologias. Mas, em tempos de maior escrutínio regulatório, o modelo mudou: agora, as gigantes preferem atuar como “sugar daddies”, investindo em acordos estratégicos que garantem talentos e acesso a inovações sem necessariamente adquirir a empresa por completo.
Foi assim que o Google deu um passo ousado e investiu US$ 2,4 bilhões na Windsurf, startup americana especializada em inteligência artificial para edição de código. Com isso, atropelou a OpenAI, que negociava uma aquisição direta avaliada em US$ 3 bilhões, mas esbarrou na resistência da Microsoft, sua principal investidora, quanto ao acesso à propriedade intelectual da startup.
A Windsurf, fundada em 2021 (originalmente como Exafunction, depois Codeium), rapidamente se tornou um dos principais nomes em ferramentas baseadas em IA para programadores, atingindo US$ 100 milhões de receita recorrente anual (ARR) e contando com um time de cerca de 250 profissionais. Como parte do acordo com o Google, seu CEO, Varun Mohan, e o cofundador Douglas Chen, além de parte da equipe, passam a integrar a divisão de inteligência artificial da DeepMind, fortalecendo o desenvolvimento do Gemini, ecossistema de IA do Google.
Com esse movimento, o Google garante uma licença não exclusiva sobre parte das tecnologias da Windsurf, sem assumir o controle da empresa. Enquanto isso, os demais colaboradores da startup permanecerão operando de forma independente sob nova liderança.
Este episódio aprofunda a crise vivida pela OpenAI, que vem acumulando dificuldades: nas últimas semanas, a empresa perdeu talentos para a Meta, vive um relacionamento conturbado com a Microsoft, adiou o lançamento do ChatGPT-5, perdeu o topo dos modelos de linguagem para o Grok da xAI e corre o risco de ver evaporar um investimento de US$ 40 bilhões da Softbank. Tudo isso enquanto enfrenta crescente competição de modelos de código aberto, especialmente vindos da China.
A disputa pela Windsurf também revela o apetite voraz do mercado por soluções de agentic coding, área que promete automatizar e acelerar o trabalho de desenvolvedores. Curiosamente, uma pesquisa recente aponta que agentes de programação podem, na prática, tornar o processo até 19% mais lento em algumas situações, uma ironia que não passou despercebida pelos observadores de mercado.
Ainda não está claro o destino dos funcionários da Windsurf que não foram incorporados ao Google, mas o recado está dado: na nova corrida do ouro da IA, não basta ter a melhor oferta, é preciso garantir que ela escape dos labirintos regulatórios e da influência de concorrentes poderosos.