Numa analogia direta às lentes multifocais, invenção que possibilitou enxergar ao mesmo tempo de perto, meia-distância e longe utilizando um único óculos, sinto que alguém poderia nos salvar quanto ao foco de nossos pensamentos e sinapses com tamanha quantidade de informações e assuntos em todos os campos de nossas vidas.
Às vezes faço um exercício de tentar olhar minha mente trabalhando do lado de fora e confesso que mais parece um grande tiroteio de faroeste do que linhas retas e conectadas com início, meio e fim. E, assim, logo paro o exercício e retorno ao centro, na tentativa de, de alguma forma, organizar as caixinhas, prioridades do dia, estratégias, objetivos e execuções em curso, tanto na vida pessoal quanto na profissional.
Lembrando de como a vida era com as trocas de óculos para enxergar mais perto ou mais longe, a vida não disponibiliza mais esse tempo de troca. Hoje, mais do que nunca, viajamos em nossas mentes com uma velocidade enorme para processarmos todos os acontecimentos, perspectivas de resultados e a avaliação dos efeitos diante de suas causas.
Assim como as lentes, de tempos em tempos é necessário irmos ao oftalmologista “das mentes”. Abrir nossos corações de forma franca, colocar para fora nossas visões destorcidas e monofocais, pois somente assim teremos oportunidades de experimentar correções possíveis na leitura das minúsculas letras à nossa frente.
Escrevendo estas palavras, lembro com total sensibilidade do nosso comportamento e esforço quando estamos na cadeira do consultório, com o médico nos questionando sobre o que estamos lendo e nós não aceitando o fato de não conseguirmos ler com nitidez algumas daquelas letras sequenciais. É quando não temos saída e acabamos por chutar aquela leitura turva.
Em nossas mentes não é tão diferente. Sentados em nossos postos, frente aos nossos desafios, temos que nos posicionar, independentemente do quanto estamos conseguindo ou não enxergar com nitidez. A vida nos cobra uma resposta definitiva, uma opção, uma escolha, e dela tudo irá se desencadear.
Chega a ser trágico quando nos deparamos com incapacidades contextuais, às quais tentamos ao máximo nos adaptar, utilizando e trocando lentes e graus na busca por mais clareza e nitidez de tudo o que está ao nosso redor.
Mas, assim como os olhos se adaptam às lentes, nossas mentes pouco a pouco vão se adaptando às novas exigências de toda essa nova leitura. Não é fácil nem simples, mas acredito ser possível por meio da persistência e da certeza do alcance.
Toda adaptação nos incomoda, nos ameaça, nos desafia. Mas são elas, em sua maioria, as grandes alavancas da evolução.