Malu Sevieri

Como o desenvolvimento da cadeia de valor impulsiona a sustentabilidade e reduz riscos em setores produtivos

Por cinco anos consecutivos, o maior risco de negócios apontado pelo Allianz Risk Barometer 2017, estudo realizado com mais de 1200 experts em risco de vários países do mundo, tem sido a interrupção de fornecimento na cadeia de valor. As principais causas desta interrupção são: fogo e explosões, catástrofes naturais, falência e gestão insuficiente do risco social e ambiental. Estas informações reforçam a importância da antecipação das empresas em mitigar e monitorar tais riscos, bem como atuar na Cadeia de valor que, segundo Porter (1985), é a combinação de valores gerados e adicionados entre os elos da cadeia e que juntas adicionam valor ao cliente.

Os desafios são enormes, tanto para grandes empresas, que enfrentam diariamente a mudanças de mercado e do ambiente de negócios, riscos atrelados às práticas de seus fornecedores e a necessidade de apoiar as empresas de sua cadeia para criação de valor compartilhado com atributos de sustentabilidade, quanto para as pequenas e médias empresas, seja para acessar grandes mercados, atender às demandas de produtos e práticas de gestão com atributos de sustentabilidade exigidos pelas grandes empresas ou ainda para homologação em novos clientes, que em geral são grandes empresas. 

Entendendo estes desafios, cada vez mais grupos de empresas e associações estão se unindo para impulsionar boas práticas na cadeia, bem como adicionar diferencial competitivo nas relações comerciais. 

No setor químico, a iniciativa “Together for Sustainability (TfS)” foi fundada em 2011 por seis multinacionais da indústria química para ser a abordagem do setor com foco na performance em meio ambiente, governança, saúde e segurança dos fornecedores. Foi criada com o objetivo de estabelecer critérios padronizados de sustentabilidade e compartilhar as avaliações e auditorias de sustentabilidade dos fornecedores desta cadeia entre os membros da iniciativa e impulsionar as práticas de sustentabilidade na cadeia de valor. Atualmente, conta com 19 membros incluindo a indústria química e farmacêutica, além de diversos fornecedores presentes na cadeia das empresas membro.  

Os fabricantes de tinta possuem o Programa “Coatings Care”, criado no Canadá há mais de 20 anos e coordenado por um comitê internacional formado por dirigentes das associações que representam os fabricantes de tintas no mundo todo. Ele define define diretrizes para administrar as responsabilidades dos fabricantes de tintas com relação à saúde, segurança e aos cuidados com o meio ambiente. É adotado em diversos países das Américas, Europa, Ásia e Oceania e, no Brasil, a responsável por sua implantação e coordenação é a Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (ABRAFATI), que inclusive, o estabelece como critério mandatório aos associados ABRAFATI, bem como às empresas que desejam se associar. 

No Brasil, entre os anos 2010 e 2013 surgiram duas iniciativas em setores em que há grandes discussões sobre o impacto de suas cadeias produtivas: o setor do varejo têxtil e o calçadista. 

Criada em 2010 pela Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), o Programa de Certificação da cadeia de fornecedores da ABVTEX tem por objetivo permitir ao varejo certificar e monitorar seus fornecedores quanto às boas práticas de responsabilidade social e relações do trabalho. Buscando assegurar condições de trabalho adequadas aos trabalhadores empregados nos fornecedores e seus subcontratados e promover um controle e monitoramento unificado dessa certificação. Atualmente conta com 23 varejistas signatárias e abordam temas como trabalho forçado ou análogo ao escravo, trabalho estrangeiro irregular, meio ambiente, saúde e segurança no trabalho, bem como monitoramento da cadeia e atendimento a requisitos legais. 

Outra iniciativa, lançada em 2013 pelo setor calçadista brasileiro, é o “Selo Origem Sustentável” realizado pela Associação das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couros, Calçados e Artefatos (Assintecal) e Instituto by Brasil em parceria com a Poli-USP e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). A iniciativa tem como propósito promover o engajamento da Cadeia Produtiva do Calçado em relação ao tema, ampliando as oportunidades no mercado de exportação para países que possuem regulamentação orientada à aquisição de produtos sustentáveis e ainda, garantir o alinhamento da indústria com iniciativas internacionais, tais como Dow Jones Sustainability Index e Sustainable Apparel Coalition (SAC). 

Existem outras iniciativas, não relacionadas a um setor em especial ou iniciativas individuais, mas que também buscam assegurar melhores práticas e gestão do risco da cadeia de valor. Em dezembro 2016 a International Organization for Standardization (ISO) aprovou a Norma Internacional de diretrizes para compras sustentáveis – ISO 20400. Esta publicação é o resultado do trabalho iniciado em 2013, liderado pela França e Brasil e que contou com as representantes de mais de 50 países e diversas organização internacionais como Pacto Global, The Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), dentre outras, esta norma oferecerá diretrizes e recomendações às empresas sobre como incorporar a sustentabilidade em seus processos de compras. 

O fato é que cada vez mais este tema será discutido e as empresas compreenderão o tamanho da responsabilidade de construir uma relação comercial que vai além da compra e venda de produtos e sim, da união de esforços para impulsionar melhorias e reduzir riscos compartilhados e adicionar valor para todos os demais elos da cadeia (clientes, consumidores, trabalhadores e sociedade). 

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Novembro 2024

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