Depois de um ano difícil chegou o momento de planejar 2019 visando colocar em prática as ações que preferimos postergar até aqui esperando dias melhores. São muitos os desafios que enfrentaremos neste final de década e se estivermos bem preparados não haverá motivos para continuar deixando nossos projetos em banho-maria. Não faltam razões para voltarmos a ser mais agressivos nos nossos investimentos e aqueles que não adotarem esta postura já a partir do próximo ano certamente correm o risco de ficar para trás.
Antes de mais nada, precisamos entender de uma vez por todas que o mundo mudou. É notório e incontestável. Basta um rápido olhar para percebermos as inúmeras transformações que impactaram a economia global nos últimos 10, 15 anos. Queiramos ou não, fato é que não dá mais para gerir nossos negócios com a mesma cartilha impressa desde a revolução industrial.
Big Data, Machine Learning, Inteligência Artificial, Cloud Computing, Internet das Coisas, Bitcoin, Blockchain, Crowdfunding, Gamification, App, Wireless, Dashboard e por aí vai. Pare para pensar quantos termos passaram a integrar o dicionário corporativo desde a invenção da rede mundial de computadores.
Com o desabrochar da Internet, foi criado um novo ecossistema empresarial sustentado por modelos e tecnologias até então presentes apenas no imaginário de futurólogos e roteiristas de filmes de ficção. Fechar os olhos para estas transformações é caminho certo para abrir espaço à concorrência.
E com a perspectiva de uma economia mais liberal – é o que vem indicando o novo Governo de Jair Bolsonaro – será preciso, mais do que nunca, ser competitivo, arrojado, visionário e, por que não dizer, ‘startupeiro’.
Embarcar na revolução 4.0 não será mais uma opção e, se ainda não começou a chacoalhar sua organização, passou a hora de planejar (e implementar!) a transmutação das suas estruturas em direção a novos modelos que, respire, talvez nem ainda tenham sido inventados.
Longe de ter a pretensão de exaurir a lista de atitudes que deve priorizar em 2019, me atrevo a listar aqui 5 delas que julgo primordiais considerar em seu planejamento estratégico para o próximo ano. Vamos a elas:
1 – Seja Agile na prática; não no discurso.
Os modelos de gestão menos lineares não são mais apenas uma tendência. Sãomainstream. E não devem ser privilégio das startups e empresas de tecnologia. Se quiser trazer maior eficiência operacional, e não há outra opção na era da disrupção, é essencial seguir os ensinamentos do guru Tom Peters – teste rápido, falhe rápido (e sem medo!) e, claro, conserte rápido.
Estruture equipes enxutas, autônomas e conectadas em todos os setores; e não somente na área de desenvolvimento. Compartilhe o poder de decisão e elimine os entraves para acelerar seu ‘time to market’. Lembre-se que sempre haverá novos empreendedores armados com um arsenal digital para abocanhar seu market share. Portanto, vista-se de coragem e desprendimento para dar vez e voz aos millenials. Não tenha dúvidas que eles sabem muito sobre quais são os caminhos e as ferramentas tecnológicas necessárias para atravessar a ponte rumo à inovação.
2 – Tecnologia é estratégia; não é inovação.
O relatório “Latin American Big Data and Analytics (BDA) market” elaborado pela Frost & Sullivan mostrou que este mercado encerrou 2017 no Brasil com um movimento de US$ 1,35 bilhão, o que representa 46,7% do mercado latino, cujo faturamento foi de US$ 2,9 bilhões.
De acordo com o estudo, a perspectiva é de que este mercado alcance US$ 8,5 bilhões até 2023, registrando um crescimento ano a ano de 19,2% neste período. A estimativa leva em consideração o crescimento acelerado da Internet das Coisas, que é sustentada pela captura e análise de dados.
É inevitável o avanço da análise de dados para ser competitivo em qualquer indústria. É um caminho sem volta. Mas não é porque você implementa tecnologia e investe pesado na sua área de TI que sua empresa se torna automaticamente inovadora.
Não tem mágica. A transformação digital do seu negócio não virá dos softwares, mas sim de uma total mudança de mindset. De nada adianta ter o melhor sistema de big data e analytics do mercado se sua mentalidade de gestão continua jurássica.
Então não pague pra ver. Se o seu concorrente souber mais sobre seu cliente do que você mesmo é certo que irá perdê-lo. Não custa lembrar que a explosão do mercado de smartphones levou a decisão de compra para ponta dos dedos; um simples toque na tela e bye, bye cliente. Portanto, vire a chave.
3 – A maior ameaça ao seu negócio provavelmente não virá dos concorrentes tradicionais.
Já deu para perceber que um novo líder no seu mercado poderá surgir, ou até já surgiu, de onde menos se espera; talvez da cabeça de um jovem geek capaz de convencer investidores de risco a apostarem na sua ideia.
Quantos negócios nasceram nesta última década que romperam modelos tradicionais até aqui considerados indestrutíveis? Já parou para fazer este mapeamento na sua área? Onde está seu futuro (ou atual) concorrente que você ainda não enxergou?
Um dos nossos associados no Experience Club dá o exemplo. A Athié Wohnrath, o maior escritório de arquitetura corporativa do Brasil, lançou um modelo de aluguel mais barato de um imóvel instalado em um prédio novo e decorado para trazer inspiração às ideias inovadoras. A oportunidade veio da crise imobiliária, que deixou imóveis comerciais novos às moscas. O novo negócio trouxe receita adicional de R$ 350 milhões em 2017.
Mas a empresa quer ir mais longe. De olho nas oportunidades do mercado de startups e disposto a se aproximar desta cultura, seu CEO, Ivo Wohnrath, se associou com a portuguesa Fábrica de Startups, que está transferindo seu escritório para o Brasil, para oferecer aos seus clientes os serviços da Use, uma joint venture das duas empresas que, além de disponibilizar os espaços, passará a dar mentoria para ajudá-los a implementar um ambiente de inovação.
Reflita se sua empresa também não tem potencial para criar novas frentes de negócios e saia na frente. Só sai perdendo quem não arrisca e não olha fora da caixa.
4 – Prepare-se. Uma nova crise global poderá chegar ainda em 2019.
Aqui vale a velha máxima: transforme um limão em uma limonada.
O relatório sobre a perspectiva econômica divulgado recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) acende um sinal de alerta: a economia global deverá atingir seu ápice de crescimento do PIB global de 3,7% este ano para iniciar uma desaceleração que levará a uma redução para 3,5% em 2019 e 2020. A previsão anterior era de que se mantivesse no mesmo patamar de 3,7%.
A OCDE aponta como algumas das principais razões para um cenário global mais desfavorável as tensões comerciais, especialmente entre Estados Unidos e China, o reflexo do Brexit, que também aumentou a incerteza política e geopolítica na Europa, as altas dos juros do Federal Reserve (o Fed, o banco central americano), cuja taxa básica deverá ficar entre 3,25% a 3,50% até o fim de 2019, contra os atuais 2% a 2,25%, e o aumento do preço do petróleo.
Nem é preciso dizer que se as reformas não caminharem como previsto, especialmente a fiscal e a previdenciária, passar ao largo da crise será uma missão quase, para não dizer totalmente, impossível. Dito isso, fique atento ao andar da carruagem da economia para não ser atropelado por ela e, se possível, tirar o melhor proveito.
5 – Assuma o protagonismo.
A considerar o discurso do novo governo, que já anunciou a Secretaria Geral de Desestatização e Desimobilização, vinculada ao Ministério da Economia, podemos esperar uma gestão federal abrindo maior espaço à iniciativa privada. O estímulo é mais que bem-vindo, mas precisamos deixar de lado a velha mania de esperar passivamente pelas decisões do Poder Executivo para depois buscar compensações no varejo.
Se defendemos uma economia orientada pelo mercado, nossos líderes empresariais precisam assumir o papel de protagonistas e comandar o reaquecimento dos negócios. Não dá para continuar depositando tudo na conta de Brasília e a cada solavanco ameaçar abandonar o barco.
Agora é hora de acreditar e, mais do que nunca, participar ativamente da gestão do País apoiando o que nos colocar novamente na estrada do crescimento e combatendo o que possa barrar os avanços necessários a um mercado doméstico fortalecido e pronto para ganhar posição de destaque na economia global.
Só assim faremos de 2019 o ano da superação. Vamos nessa?