Ser inovador nada mais é do que fazer melhor aquilo que já existe. E a liderança é fundamental para abrir caminho para a inovação. Não pela possibilidade de exercer poder, forçando uma transformação, mas pela forma como conduzimos as mudanças. Para isso, sem dúvida, precisamos de conhecimento sobre o negócio, além da necessidade de ajustar as práticas da organização com o atual contexto em que vivemos.
Com o advento da transformação digital, vimos diferentes interpretações. Na minha opinião, quem discute tudo a partir da tecnologia não entendeu que estamos falando em automatizar processos para humanizar as relações. E que todas as relações são entre pessoas (P2P). Às vezes, escutar um cliente, um fornecedor, cria um novo fluxo operacional. Às vezes, escutando os colaboradores, entendemos novas necessidades. Mas será que esse “às vezes” realmente tem acontecido no dia a dia? Será que estamos liderando da melhor forma?
Os casos de exaustão psicológica, depressão e outras patologias mentais têm avançado a passos largos, o que me leva a questionar se a revolução digital tem sido benéfica ou potencializado esses transtornos.
Antes de uma empresa parecer digital, é indispensável que ela tenha pessoas felizes, e nos cargos certos. Investir em tecnologia, claro, é essencial. Mas sem pessoas, nem mesmo os algoritmos mais bem escritos vão ter capacidade de aprendizagem. Ter equipes despreparadas tampouco transfere conhecimento, independentemente de quão complexos sejam os sistemas. Muitas organizações ainda sofrem com um bando de dados e indicadores pouco eficientes.
Aliás, eu creio que a próxima tendência da moda será sobre cultura analítica e o que faremos com tantas informações. Talvez tenhamos novas transformações, e setores da economia deixem de existir. O que acontecerá quando a tecnologia evitar com eficiência a colisão entre veículos (os carros autônomos estão cada vez mais próximos de ganhar as ruas). E quando a nanotecnologia ajudar na prevenção de doenças? Quando nossa existência for sobre ser em vez de ter, quantos negócios deixarão de existir? As empresas estão se preparando para criar alternativas que envolvam seres humanos quando a tecnologia predominar?
E não é por caridade. É porque a habilidade humana é essencial para que a empresa tenha diversidade de pensamento, criatividade e atendimento capaz de lidar com um público diversificado. Explorar essa possibilidade exige líderes de visão, que não se percam por autoritarismo ou vaidade. Frases bonitas em redes sociais, escritas por um time de comunicadores, não engajam ninguém se, na realidade do dia a dia, as práticas deixam sempre as pessoas em segundo plano.
Aliás, é possível escutar um líder pela voz de uma subordinada. O tom do respeito se espalha por reflexo nas organizações que já entenderam que empatia é sentir a necessidade do outro.
Se você quer entender onde está errando, chame um ex-funcionário, seis meses depois da demissão, para uma conversa franca. E esteja preparado para escutar sem interromper.
Outro dia, enquanto tomava um café com uma amiga, escutei o áudio de uma executiva em prantos, dizendo não aguentar mais a sua chefe. Mas a empresa da qual ela faz parte vende uma imagem com valores de inovação, sustentabilidade e boas práticas. Ser um bom líder, que faça seus colaboradores chorarem de emoção, não de desespero, implica promover uma cultura de respeito, de ética, de transparência e colaboração.
Será mesmo que estamos liderando com o devido nível de atenção? Como podemos ter certeza de que estamos no rumo de um mundo melhor? Essas questões provocam em mim momentos de reflexão produtiva. E em você?
Precisamos de líderes verdadeiramente mais digitais e inovadores, é evidente. Mas, antes de tudo, precisamos de lideranças mais humanas. Porque nada que não venha do estofo de nossos corações e mentes é capaz de prosperar – pelo menos de maneira sustentável.