É possível ter lucro mantendo a produção com consciência e sustentabilidade?
Em 2019 mais de 150 milhões de metros de tecidos foram estampados por meio de impressão digital no mercado brasileiro de moda. Esse pode parecer um número impressionante, mas é importante saber que o mercado de moda brasileiro tem potencial para muito mais. Existe hoje um novo desejo e um novo formato de consumo para a indústria têxtil como um todo. As estampas impressas digitalmente são um novo formato de consumo, o que antes era tratado apenas como tendência, já é realidade e precisa ser levado em consideração pelas marcas.
Os consumidores estão buscando comprar mais de empresas das quais sabem a procedência. Há uma preocupação crescente em ter a certeza de que aquele produto que ele consome foi desenvolvido em condições humanitárias corretas e com consciência ambiental. As pessoas estão entendendo que existe um custo, um peso muito grande por trás da produção de grandes marcas que não se preocupam com isso.
É completamente possível produzir com lucratividade e apelo ambiental. Hoje há uma gama muito variada de produtos que permitem melhor aproveitamento de tecidos e de insumos. Tintas ecológicas para impressão, por exemplo, e a própria técnica de impressão digital, que usa menos água no processo, são exemplos de que dá para entregar valor agregado com boas práticas de ESG [governança ambiental, social e corporativa].
Consumir menos para consumir melhor será tendência no pós-pandemia.
Um levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), feita também em 2019, aponta que 24% de tudo que se produz no mercado de moda vai para perdimento, ou seja, é remarcado ou até mesmo queimado. Como contraponto, podemos citar o exemplo da Amazon, nos EUA, onde o item mais vendido são roupas. Mais de 1 milhão de peças são estampadas digitalmente todos os dias, garantindo entregas de qualidade, sem a necessidade de estoque e com redução de desperdícios.
Com iniciativas mais assertivas na hora de produzir, podemos mudar essa realidade e atingir um novo momento de consumo, garantindo a democratização da moda. Sobre o consumir menos para consumir melhor, a lógica é simples e clara: esta é uma realidade e a experiência do consumidor é o que fará a diferença para o fortalecimento das marcas.
Acredito muito no varejo físico, mas entendo que essa experiência híbrida e fluida (compra no site, retira na loja, compra na loja, entrega em casa) é essencial para criar identificação com o consumidor. O brasileiro tem a característica de gostar de provar a peça antes de comprar e de ter na compra física um lazer. No pós pandemia, o têxtil brasileiro deve voltar a crescer fortemente, mas precisará se adequar a um novo momento.