leandro_futurum

Criador de unicórnios

Após levar a 99 a se tornar a primeira startup brasileira a valer mais de 1 bilhão de dólares, Leandro Barankiewicz, ex-CEO da SouthRock Lab, agora revoluciona o conceito de fundo de investimento com a Futurum Capital, mostrando como os aportes de dinheiro precisam estar acompanhados por uma parceria na execução.

Leandro Barankiewicz é a tradução perfeita de um self-made man, expressão nascida nos Estados Unidos que descreve um homem que atinge sucesso por conta própria, mesmo que as circunstâncias não sejam as mais favoráveis. Criado em uma família de poucos recursos, Baran, como é chamado por quem o conhece, teve uma ascensão tão impressionante no mundo dos negócios que a sua carreira certamente será contada, no futuro, em qualquer publicação que fale de startups, empreendedorismo e executivos inovadores no país.

Foi diretor comercial da Oracle no Brasil antes de fazer história no business, levando a 99TAXIS a se tornar o primeiro unicórnio brasileiro (termo para as startups que passam a valer mais de 1 bilhão de dólares). Igualmente marcante foi a sua trajetória como CEO e cofundador da SouthRock Lab, o laboratório de inovação e experiência do cliente da SouthRock Capital, grupo que detém marcas como Starbucks e TGI Friday’s.

A sua mente inquieta o levou, agora em agosto, à frente da Futurum Capital, um fundo de investimento nada convencional – que tem papel decisivo não só no aumento de capital das marcas nas quais aposta, mas também na operação dessas empresas. Baran afirma que só a capacidade de execução irá fazer com que o capital investido transforme as perspectivas desses negócios. E, por isso, “coloca a mão na graxa”. Algo nada estranho para um profissional que começou a trabalhar ainda no começo da adolescência e nunca mais parou de surpreender.

Agora, o seu desafio autoimposto é desenvolver pessoas através de conhecimentos e habilidades que escola nenhuma ensina. No próximo ano, já teremos profissionais no mercado formados por sua Fábrica de Talentos. Ele quer ver mais “Barans” por aí, chegando tão longe quanto ele chegou.

EMPRESÁRIO DIGITAL Queria que você começasse falando quais foram as suas grandes escolas da vida, que você teve antes de se tornar um expoente de empresas como a 99 e a South Rock.

LEANDRO BARANKIEWICZ Sou neto de poloneses, o que traz uma questão histórica importante de luta, com meus avós fugindo de guerras, meu pai foi o primeiro que estudou na família. Foi um pai muito disciplinador, muito focado, acabou me ensinando a pescar em vez de me dar o peixe. Até porque a gente não tinha o peixe. Eu na verdade nunca passei fome, nada disso, mas passava muita vontade na minha infância. Então comecei a trabalhar com 13 anos, numa loja de som e alarmes, na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo, com meu pai. Depois fui ser vendedor em loja de sapatos, minha primeira carteira CLT.

Aos 15 anos, eu já pagava meu colégio. E comecei a me desenvolver daí.

EMPRESÁRIO DIGITAL O aprendizado é um fator-chave da sua trajetória, não é?

LEANDRO BARANKIEWICZ A melhor coisa que eu faço na vida é aprender. Desde cedo, eu aprendia muito rápido e fácil. Quando fui para a faculdade, precisei fazer estágio na minha área, mas acabei caindo no negócio de consultoria. E consultor faz o quê? Primeiro, ele tem que aprender muita coisa e desenvolver projetos diferentes; a segunda coisa é ter uma capacidade de entendimento, de resolução de problema, acima da média. Você não ganha muito dinheiro, trabalha bastante, mas na época eu gostava porque viajava muito, conhecia muita gente. Era uma vida bem diferente da que eu tinha antes, e eu conseguia ter um ambiente com pessoas – tanto cliente quanto consultores – de uma formação muito maior do que a minha, com hard skills, soft skills… E eu era uma esponja, aprendia o tempo todo.

EMPRESÁRIO DIGITAL Queria que você fizesse um balanço da sua passagem pela 99, do aplicativo de táxis.

LEANDRO BARANKIEWICZ

Comecei a perceber, desde 2009 ou 2010, quando eu estava na Oracle ainda, que os empreendedores precisam de duas coisas: uma é o dinheiro, capital; outra é a capacidade de execução para fazer o trabalho da maneira como deve ser feito. Quando eu cheguei à 99, os investidores tinham na cabeça que os empreendedores haviam feito um trabalho excepcional, mas que aquilo que os tinha levado até ali, não era o que nos levaria aonde a gente ainda queria chegar. Minha missão era fazer o roll-up da companhia. Primeiro era responsável por toda a área de novos negócios, passava pela área comercial e novos produtos. E eu tinha uma posição de COO, o cara de operações, mas cuidava de um outro negócio, que era o B2B.

E trabalhando em uma organização que era quase um negócio de software dentro de uma empresa de logística. Tivemos muitos êxitos, mas também muitas dificuldades. Quebramos três vezes na época, e a partir daí fizemos o caminho todo até a venda final, virando o primeiro unicórnio brasileiro. Foi um aprendizado gigante para sair desenvolvendo uma série de coisas.

EMPRESÁRIO DIGITAL Quais foram os seus maiores desafios já como CEO da SouthRock Lab, de um grupo com tantas marcas importantes?

LEANDRO BARANKIEWICZ

As características dessas marcas são de uma experiência muito física com o consumidor. Vou dar o exemplo da Starbucks, que é o mais icônico. A gente não vende café, vende experiência. E onde é que a gente vende experiência? Primeiro nas nossas lojas.

O colaborador é o grande vendedor, então investimos pouco em marketing. Não anuncia na mídia tradicional, e ainda assim é uma das marcas queridinhas do planeta. O lado sombra disso é que o mundo está cada vez mais digital, exigindo uma transformação na Starbucks. E não era simplesmente fazer delivery de café, até porque os nossos produtos têm uma resiliência muito baixa: o que é quente chega frio, e o que é para ser frio chega quente. No digital a gente perde o acolhimento do colaborador e toda a coisa de seu nome vir escrito no copo, toda a experiência. Então o meu papel foi criar o braço de inovação e de venture building do grupo, mas também desenvolver toda essa estratégia de redesenhar e implementar o conceito de omnicanalidade, para que a Starbucks, o Friday’s e todos os outros negócios não sejam só marcas físicas, mas tenham força em todos os outros canais.

EMPRESÁRIO DIGITAL Uma necessidade que a pandemia acelerou…

LEANDRO BARANKIEWICZ Sim, a pandemia mudou o jogo completamente. De um lado, coisas que aceleram de uma forma muito forte; do outro, desafios de sobrevivência. Surgem questões a todo minuto sem que a gente tenha um manual. Precisei trazer uma capacidade que desenvolvi ainda quando comecei com empreendedorismo, de aprender a desaprender, para me reinventar, me manter vivo e cuidar da minha família, dos meus sócios e colaboradores, de toda a cadeia. Jogar fora tudo o que a gente já sabia e redesenhar o negócio dentro desse contexto.

EMPRESÁRIO DIGITAL Após essa jornada extraordinária que teve como executivo, foi para a frente de um fundo de investimento. Como aconteceu essa virada para você?

LEANDRO BARANKIEWICZ Não foi nada planejado, Alexandre. A minha vida é um caminhão de quase acasos. Dez, onze anos atrás, eu tinha essa tese de que os empreendedores precisavam de dinheiro mais execução. Depois da venda da 99, a ficha caiu na minha cabeça, me juntei com amigos e fiz um MVP de um fundo [nota do repórter: MVP é a sigla de minimum viable product – significa construir a versão mais enxuta de um produto, empregando o mínimo possível de recursos, para entregar a principal proposta de valor], no qual a gente entrava com nosso próprio capital e smart money, ou seja, cooperando também. Só investíamos em negócios nos quais podíamos operar junto com os empreendedores.

E não apostávamos no negócio em si, apostávamos no time. Dentro da Futurum Capital, fizemos uma simbiose perfeita de tudo o que eu vim testando nesses últimos anos: enfiamos a mão no bolso e também na graxa, junto com os empreendedores, cooperando com eles, fazendo um conceito de venture developer. De cara, mostro que nosso fundo tem um diferencial, porque eu entro com o dinheiro, mas também com a execução em si. Além disso, acabamos investindo muito forte no desenvolvimento do ecossistema como um todo, formando talentos, criando um modelo antifragilidade.

EMPRESÁRIO DIGITAL Em que tipo de empresa você tem interesse em investir?

LEANDRO BARANKIEWICZ Eu invisto em gente boa. Pode ser um negócio incrível, se as pessoas não forem boas, não vai para frente. Além disso, você verá que todos os meus negócios estão relacionados a tecnologia e dados. Por quê? Na minha cabeça, tecnologia e dados resolvem dois tipos de problemas: a jornada do consumidor e a experiência dos colaboradores. Dando um pouco mais de informação técnica, tem duas características de investimento: aquele muito early stage, ou seja, para fazer venture developer, e agora também temos colocado no portfólio o que chamamos de scale-ups, fazendo aportes em empresas maiores. Se eu resolver problemas de produto e tecnologia, de crescimento e de pessoas, eu resolvo 80% dos problemas de qualquer empresa. E eu desenvolvi, junto com os meus sócios, características e expertises para resolver essas três coisas.

EMPRESÁRIO DIGITAL Você, pessoalmente, atua nessas três pontas ou tem um foco mais específico?

LEANDRO BARANKIEWICZ Excelente pergunta! Pelas minhas características, eu jogo muito bem nas três. Mas não dá para fazer tudo. Se eu tiver que escolher uma, eu sou o cara de growth, de crescimento, de expansão.

EMPRESÁRIO DIGITAL Nessa situação econômica do Brasil hoje, com risco até de ter estagflação, como isso impacta um fundo de investimento?

LEANDRO BARANKIEWICZ

Essa situação tem problemas e oportunidades. Essa ideia de antifragilidade, que a gente sempre coloca nos nossos negócios, a forma de investir smart money e execução… isso também traz uma proteção para nós do ponto de vista do negócio e para as empresas nas quais a gente investe. Tudo depende muito da capacidade de execução. Não adianta eu ter muito capital se eu não souber o que fazer com ele. A segunda coisa: não são os mais fortes que predominam, são os que têm mais capacidade de adaptação e de entendimento do ambiente. Com isso, desenvolvemos uma confiança de que, mesmo com todos esses problemas, conseguiremos sobreviver e passar bem por essa. Existe a categoria dos pessimistas e a dos otimistas, mas eu sou dos “intimistas”: aquele que confia que as coisas darão certo, mas não fica esperando, ele trabalha para que dê certo.

EMPRESÁRIO DIGITAL Você tem um projeto muito especial de educação. Fale um pouco sobre isso.

LEANDRO BARANKIEWICZ Se os nossos tataravós entrassem numa máquina do tempo e chegassem aqui, não reconheceriam quase nada. A única coisa que eles reconheceriam imediatamente é uma sala de aula. Isso porque ela se mantém exatamente igual. Continuamos decorando as coisas, sendo que já existe um Google. Não se ensina a pensar, a resolver problema. Não se ensina a ter oratória. Não se ensina planejamento financeiro, não se ensina empreendedorismo e aí você vê o resultado: as startups não falham por falta de dinheiro ou ideias inovadoras, elas falham pela má execução dos projetos. E o que resolve isso? Pessoas e cultura. Não adianta nada eu desenvolver toda uma parafernália de operação, tecnologia e de metodologia, se eu não tiver um drive de pessoas e cultura desde o zero. Pessoas são a nossa maior matéria-prima, mas há um apagão de talentos no mercado como um todo. Então esse é o meu projeto de vida daqui para a frente. Tocar um negócio de educação: a ideia é, em vez de ficar contratando gente, formar dentro de casa, o que gera um engajamento maior, tem um custo muito menor e, principalmente, retroalimenta o ecossistema como um todo, de bons profissionais. Cansei de depender de governo ou de terceiros para resolver os meus problemas. Então estou desenvolvendo uma formação que vai trazer de hard skills a soft skills para as pessoas. Afinal, o grande segredo da perpetuidade do negócio é o talento.

EMPRESÁRIO DIGITAL Em que ponto está esse projeto?

LEANDRO BARANKIEWICZ Eu estou construindo isso agora, e da mesma forma como faço com as minhas startups. Já fiz o MVP, já busquei os recursos todos. Não estou chamando isso de uma Ed-tech nem de uma empresa de educação, o nome é Fábrica de Talentos. Acho que em janeiro já teremos as primeiras pessoas formadas. É um legado que eu quero deixar.

O que de verdade empodera as pessoas, o que muda uma civilização é o conhecimento e a educação. No fundo de investimentos de startups, normalmente se coloca grana, a gente acredita que grana é graxa, que de verdade faz a diferença. Muita gente me pergunta se eu invisto em tecnologia, no que verdadeiramente investimos é em pessoas. Tecnologia e dados são meios, são ferramentas para resolver um problema das pessoas. O que de verdade acreditamos e investimos, que é o presente e é o futuro da nossa tese de investimento, são as pessoas.

Esse lugar é o lugar que aterrissa algumas coisas, que passam pela nossa cultura, então esse jeitão é o nosso jeitão, é o jeitão de foco em resultado, em execução, em trabalho duro, mas ao mesmo tempo em celebração, sermos felizes, em nos sentirmos bem em qualquer lugar e com as pessoas certas onde estamos. Acreditamos que quando a gente cria um ecossistema desse jeito, nós, inclusive, diretamente, não é nem indiretamente, conseguimos atrair as melhores pessoas para cá. E mais importante, as pessoas ficam aqui.

Essa estrutura também, como falamos da estrutura da holding e a parte da graxa, acreditamos que para suportar a nossa tese de investimento, tem quatro pilares importantes de que qualquer negócio precisa.

O primeiro deles é o pilar de operação e gestão, que aterrisamos isso e oferecemos isso como parte do investimento, como parte daquilo que chamamos de cápsulas de startups de scale-ups, que é a estrutura de back office onde eu tenho financeiro, fiscal, tributário, toda parte legal e a parte de departamento pessoal. Essa parte é uma parte importante que eu vejo, inclusive, que muitos negócios grandes não conseguem fazer uma gestão pelo menos razoável dessa estrutura e que muitas vezes, as pessoas que eu converso me questionam “mas Baran, um negócio não aumenta ou diminui o valuation por contabilizar melhor ou pior alguma coisa…” eu falei “é verdade, não muda o conteúdo, mas tem que fazer direito”.

E para nós, isso é uma forma nossa desde o D 0 dos negócios que nascem, até os negócios mais consolidados, aportamos esse primeiro pilar dessa cápsula, com a parte de gestão. Tudo aquilo que precisa de gestão, controle, padronização e eficiência. Essa é a nossa estrutura do centro de serviço compartilhado. Esse é o primeiro pilar dessa cápsula de startups e scale-ups.

A segunda coisa que todo mundo precisa, não é só coisa relacionada a tecnologia, todo mundo precisa produzir um aplicativo, todo mundo precisa integrar coisas, todo mundo precisa ter um motor de kpi’s, todo mundo precisa ter uma série de nomenclaturas, dessas que no nosso mundo estamos acostumados, mas talvez a maioria das pessoas que não fazem parte não estão acostumados com essa sopa de letrinhas, que de verdade eles precisam ter uma fábrica de software, uma fábrica de squad para produzir a tecnologia e para gerenciar os dados lá dentro.

Todo negócio precisa disso. Então, também temos uma estrutura dentro do Futurum Tec, com todos os nossos conglomerados de empresas que investimos, desenvolvendo isso para todo ecossistema. Esse é o segundo pilar.

O terceiro pilar, todo mundo e toda empresa precisam, que é a parte de vendas, a gente chama de growth machine, é a máquina de vendas, de crescimento, que eu junto marketing, vendas, pós-venda e toda essa estrutura diante de uma esteira, daquilo que fazemos com nós mesmos, então dentro dessa estrutura toda temos produtora, nós temos ilha de edição, tenho estúdio, aqui dentro. Como conhecimento e educação é base do nosso negócio, temos uma estrutura de vídeo cast muito legal, muito bacana, que eu conheço poucas empresas que têm. Nós estamos aqui, daqui um mês, inaugurando o nosso auditório. Auditório que, dependendo da forma que colocarmos, traz 60, 80 pessoas… e o foco de toda essa estrutura é para aportar todos os nossos melhores conhecimentos e a nossa melhor capacidade de execução de growth no geral, com toda parte de novo marketing, vendas, custumer success e custumer experience, fazendo isso para os nossos negócios investidos, para os nossos negócios da holding e para o mercado como um todo. Esse é o terceiro pilar.

E, finalmente, o chapeuzinho, aquilo que sempre quando eu falo é difícil disfarçar o sorriso do meu rosto, que eu descobri, inclusive, que é meu grande barato, é a Fábrica de Talento. Esse negócio aqui ou outros negócios como esse só param de pé se tivermos as melhores pessoas, com o melhor engajamento, com a melhor formação – tanto em hard skills como soft skills, que não estejam aqui só por conta da grana ou por conta do qual é o melhor ou pior, mas esteja aqui por acreditar na cultura que temos. E a melhor forma de fazer isso é fabricando nossos talentos. De alguma maneira a gente tem hoje uma oportunidade e ao mesmo tempo um problema gigante no mercado, de apagão de talentos, a pandemia veio e, assim, mostrou um problema enorme que a gente tem, principalmente no ramo de tecnologia, mas não é só nesse ramo. Precisamos ter outros caras, os baranzinhos, os marquinhos, os guguinhas e os jeanzinhos, preciso ter todos esses caras de novo, pra que as nossas investidas consigam absorver essas pessoas, a holding consiga absorver as pessoas, inclusive os nossos concorrentes, porque assim eles param com essa história de rouba monte, que é o que temos visto muito no mercado, inflacionando os salários e todos os pacotes de retenção, enfim, criando esse ciclo vicioso. Então acreditamos que dessa maneira, criando a Fábrica de Talentos, além de endereçar, junto com os outros três pilares, a nossa tese de antifragilidade da Futurum, conseguimos também aportar todo um diferencial para, de novo, atrair os melhores negócios, para desenvolvermos o tema de ecossistema e criarmos e prosperarmos da maneira que acreditamos.

Mais em

Outubro 2024

Publicidade

Newsletter

Ao se cadastrar você declara concordar com nossa Política de Privacidade.