A informação sobre propaganda e marketing no Brasil se divide entre antes e depois de Salles Neto, fundador do jornal Meio & Mensagem, o homem por trás de um complexo de notícias e eventos que sempre foram vitrines preciosas para agências e anunciantes.
Não há profissional de publicidade relevante no país, ou liderança de marketing de grande empresa, que não conheça, pelo menos de nome, Salles Neto. Esse visionário da área de comunicação fundou a Editora Meio & Mensagem quando era um jovem de 29 anos, e isso lá se vão mais de quatro décadas. Além do jornal de mesmo nome, maior referência em publicação do segmento de propaganda e marketing, Salles Neto criou o cobiçadíssimo Prêmio Caboré, o reconhecimento máximo aos profissionais e empresas que lidam com comunicação (você viu em capa recente desta revista Poliana Sousa, líder da Coca-Cola para a América Latina, que acaba de ganhar o Caboré 2021 de Profissional de Marketing). Ah, e também lançou a M&M Eventos, responsável por grandes encontros de conteúdo e networking desse mercado, sendo o Maximídia o mais emblemático deles.
Já deu para perceber o calibre do nosso entrevistado desta edição. A história da publicidade no Brasil seria diferente sem Salles Neto. Nas próximas páginas, você vai poder acompanhar um pouco da visão de mercado e de mundo desse empreendedor que continua na ativa, agora como CEO do Meio & Mensagem, se adaptando aos novos tempos e dando lições valiosas sobre o passado e o futuro do segmento.
EMPRESÁRIO DIGITAL Diante de tantos meios e tantas mensagens, como surgiu a ideia do jornal?
SALLES NETO Quando eu estava pensando em algo para o trade da comunicação e do marketing, tinha como referência uma publicação americana que se chama Advertising Age, que até no formato é semelhante ao Meio & Mensagem. Comecei a trabalhar num projeto para isso, montar um plano de ação… tudo o que se faz para iniciar uma empresa do zero. Quando estava bem elaborado, fui visitar uma agência chamada Tempo de Publicidade, que depois virou a FCB. O diretor de publicidade era o Ricardo Ramos, filho do escritor Graciliano Ramos. E eu disse para ele: “Me baseei no Advertising Age para criar esse projeto. Se fosse exatamente como o Advertising Age, eu teria de chamar a publicação de ‘Tempo de Publicidade’, traduzir e pronto, mas vocês já têm esse nome”. Então começamos a conversar, e ele disse: “Olha, agora a moda é o McLuhan, e o que ele coloca é que o meio é a mensagem. “Por que você não põe o nome de ‘Meio e Mensagem’?”. Fiquei com isso na cabeça, e assim nasceu o Meio & Mensagem.
EMPRESÁRIO DIGITAL E o nome do prêmio Caboré?
SALLES NETO Quando você faz uma revista para um mercado específico, na verdade você vive esse mercado, então é justo que você também homenageie esse mercado a cada ano, tanto empresas quanto profissionais. A minha ideia era a seguinte: não seria só pela performance de cada um, mas pela performance e a contribuição para o desenvolvimento do mercado. O que ele está fazendo para que esse mercado evolua, cresça, seja ético? Claro que me baseei no Oscar, porque fica um negócio diferente. Montei toda uma estratégia, o regulamento do prêmio… e eu sabia que queria uma coruja como troféu. E por quê? Porque a coruja é o animal símbolo da sabedoria. Então tinha uma simbologia, uma ligação com esse mundo da comunicação. Fui até o Aldemir Martins, que já era um artista plástico bastante renomado na época, e pedi que ele fizesse um troféu em forma de coruja. Ele fez e me disse: “Você sabe que eu sou do Nordeste, e me inspirei numa coruja que é típica da região, só tem lá, e se chama caboré”. Eu pensei que Caboré era um nome forte para o prêmio e ficou assim.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como foi no começo da premiação?
SALLES NETO Na primeira edição, eu era mestre de cerimônia, entregava o prêmio, servia bebida, eu fazia qualquer coisa… Tinha 29 anos. Na plateia, só líderes do mercado. Quando fui entregar o prêmio de profissional de pesquisa, a vencedora, que era uma senhora bastante conhecida e respeitada, disse o seguinte na hora do agradecimento: “Eu estou muito feliz, satisfeita por ter sido escolhida, mas queria dizer para o Salles Neto que, como profissional de pesquisa, fui pesquisar o que era Caboré. Descobri que é uma coruja típica do Nordeste.
Só que é cabUré, com u”. Pensei: “é só a primeira edição e ela já vai me estragar o prêmio”. Não tive dúvida, fui ao microfone e falei: “Olha, obrigado pela gentileza de me avisar, mas quem me falou que a coruja chamava caboré foi Aldemir Martins, que é do Nordeste. Eu não fui pesquisar, então o meu prêmio vai se chamar CabOré. Se a coruja quiser, ela que mude o nome dela”.
EMPRESÁRIO DIGITAL Lá se vão mais de 40 anos de prêmio. Que profissional você consideraria hors concours do Caboré?
SALLES NETO É difícil escolher um porque esse mercado teve gente muito relevante para o desenvolvimento do segmento. Mas, se eu tivesse de escolher um hors concours, esse troféu iria para o Roberto Civita. Ele realmente foi muito importante e contribuiu de todas as formas para que o mercado fosse cada vez maior, mais ético, mais profissional, e mais desejado pelas empresas e pelos clientes.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você sempre fez perguntas muito profundas para os CEOs que participavam dos grandes eventos do mercado. Questões que abordavam não apenas o trabalho, mas o dia a dia, os grandes desafios. Então queria ir na mesma linha e perguntar: quais são os desafios, hoje, que mais…
SALLES NETO Que deixam sem dormir, né? A pandemia evidentemente tirou o sono de todo mundo. No nosso caso, em 2020, foi bastante forte o impacto que a gente sofreu, sem poder fazer evento, com quase nada de anúncio na mídia, enfim… Foi um ano em que tivemos de investir dinheiro na empresa para poder tocar para a frente. Mas já neste ano [2021], tivemos um resultado bastante favorável. Só que a pandemia é um fato isolado. O que eu acho que hoje preocupa grande parte dos empresários do setor de mídia são as transformações que o mercado passa a cada momento. Porque não são duradouras. No passado, você fazia um tipo de negócio que perdurava anos, tinha uma mudancinha qualquer lá na frente, você dava uma ajustada e ficava em ordem. Hoje você acabou de acertar alguma coisa no mundo novo e aquilo já fica velho. Então eu acho que o que tira o sono atualmente de qualquer empresário nesse segmento é estar atualizado com o que existe de tecnologia e inovação, a forma de gerar e transferir conteúdo para o seu público-leitor, como continuar sendo relevante e consultado, e visto e lido permanentemente pelo mercado. Aliás, tem um capital para ficar investindo em tecnologia nova, que também é um investimento caro. E um caro que acaba ficando irrelevante muito rápido. Acho que isso é uma mudança drástica na vida de todos nós, que acabou com muitas empresas não só no Brasil, mas no mundo. Negócios que não conseguiram se adaptar e se atualizar.
EMPRESÁRIO DIGITAL Inclusive para o ambiente online…
SALLES NETO Exato, como é que você faz essa mudança para o online sem perder a força do offline? A gente está full time no mundo online com notícias em real time no celular. Ainda tem o podcast, um mundo de coisas nesse meio digital. Ao mesmo tempo que você tem uma publicação impressa que foi o nascedouro de tudo, a audiência é muito maior no digital. Porém, no impresso, você tem uma audiência superqualificada. Quando alguém quer dar uma notícia importante para o Meio & Mensagem, para sair aqui em primeira mão, geralmente pede a garantia de que vai sair no impresso. Isso é relevante.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como você equilibra esses dois meios?
SALLES NETO Estamos fazendo hoje duas coisas diferentes. No online a gente tem notícias, até alguns artigos, debates que a gente faz no podcast, na live… Já o impresso é mais analítico, se aprofunda mais nos fatos. É mais envolvente, conta com colunistas de grande reputação no mercado, aos quais as pessoas querem prestar atenção.
EMPRESÁRIO DIGITAL É preciso estar antenado a todas essas mudanças e se adaptar a essas condições…
SALLES NETO Você não pode perder o que você tem e também tem de ganhar o que está construindo. E não é só no mundo de conteúdo de informação, no impresso e no online. Nos nossos eventos também. Como no Maximídia, que de uns anos para cá tem discutido o mercado, suas premissas e encaminhamento. Daí nós partimos para outro evento chamado Proxxima, em que a gente só está focado no mundo digital. Ainda bem que nesta empresa aqui o único velho sou eu. A turma é bem mais jovem, bem mais dinâmica.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você mencionou a pandemia, mas ao longo de mais de 40 anos você testemunhou e teve de lidar com várias crises…
SALLES NETO Nossa, só crise. Nós vivemos num país que é o rei das crises. O Meio & Mensagem surgiu na ditadura. E a ditadura era um regime de altos e baixos, porque a economia às vezes subia, aí impunham alguma coisa e ela despencava. Você nunca tinha uma regularidade de trabalho. Quando o regime ditatorial acabou, o próximo presidente, Tancredo, morreu antes de tomar posse. Precisamos recomeçar do zero de novo. Aí vem o Collor, tem impeachment e aí para o país! Quando que isso aqui andou direito? Posso falar que teve um período um pouco mais tranquilo na área de economia e desenvolvimento do país que foi o Plano Real com o Fernando Henrique. Foi quando a gente teve uma economia um pouco mais estabilizada, mais em ordem, mais dentro de um patamar normal. E recentemente veio o governo da Dilma para estragar tudo, depois um Bolsonaro que quer caminhar para outro lado. A gente vive ao sabor das ondas. É por isso que eu acho que o empresário brasileiro é seguramente um dos mais bem preparados do mundo. Está permanentemente atento e mudando a forma de atuar de acordo com as mudanças do jogo. Uma hora você está expandindo seus negócios, fazendo investimento, na outra já precisa botar o pé no freio porque tudo está piorando. É nesse mundo que a gente está acostumado a viver.
EMPRESÁRIO DIGITAL Ao longo de 43 anos, como você tem conseguido que várias gerações se mantenham ávidas por estar conectadas pelo Meio & Mensagem?
SALLES NETO Às vezes, nas reuniões do board da empresa, eu falo que a gente tem de estar polindo a marca todo dia. Na minha opinião, o que faz uma empresa é a marca dela. É a percepção, a identidade que essa marca tem e transmite para o mercado. Marca é como ser humano: você tem que ser desejado. Por que as pessoas querem estar ao seu redor, querem estar próximas a você, querem trocar ideias com você?
Porque você é carismático, conhece, respeita os outros, enfim… Eu acho que a marca tem essa identidade. Então muitos querem trazer suas empresas para perto dessa marca porque ela transfere um pouco de prestígio, de honestidade de mercado. E isso traz o jovem para cá, procurando estágio. Muitos se desenvolvem aqui e ficam com a gente. O turnover é muito baixo. Também fico satisfeito quando sei que a pessoa saiu daqui para se desenvolver, ter uma carreira de maior sucesso junto a outras organizações. Acabamos formando mão de obra para o mercado, o que me deixa muito lisonjeado, porque isso é um aspecto importante para a gente.
EMPRESÁRIO DIGITAL Falando em renovação, a gente viu até o TikTok levando prêmio na última premiação do Caboré. Isso mostra o quanto sua organização está antenada e valida esses novos meios.
SALLES NETO Novos meios e novos profissionais. Para se ter uma ideia, só um homem ganhou. O resto foi tudo mulher. Hoje você pega um grupo aí de CMOs dos anunciantes, mais de 50% são mulheres. É o que eu digo: é um mercado em permanente mutação. Ah, e gente jovem! É uma dicotomia, porque as pessoas vão viver cada vez mais, então você encontra no mercado uma pessoa com 85 anos. Do outro lado, o jovem ocupa cada vez mais espaços importantes. Entre as maiores agências de publicidade, a pessoa com mais idade comandando tem 50 anos. Seja em banco, mercado de higiene e limpeza… dá uma olhada nos executivos lá: é tudo jovem. Porque esse processo de transformação constante é muito mais fácil na cabeça do jovem.
Quanto mais idade você tem, menor é o seu interesse em ficar descobrindo. Não tem mais essa vontade de absorver novas formas de trabalho, novas tecnologias, novos parâmetros.
EMPRESÁRIO DIGITAL Mas hoje ele passa a contribuir de uma forma diferente, num conselho, com a experiência que a vida foi dando…
SALLES NETO Tem um espaço em posições no conselho, num processo associativo que ajude a desenvolver o mercado. Eles podem fazer parte desse grupo de pessoas porque continuam jovens na cabeça, com um baita know-how e vontade de realizar. Mas a faixa que vai estar no comando não será mais a dos 60, será a dos 40, até 55 anos, no máximo. No passado, quanto maior a sua experiência, mais você era endeusado pelo mercado. Hoje falam: “pô, esse cara está velho, falando coisa que não tem mais sentido”. Você tem de se adaptar para estar atualizado com o que acontece, mas, ao mesmo tempo, respeitar uma geração que está vindo aí muito competente, muito boa na faixa mais jovem.
EMPRESÁRIO DIGITAL Nas décadas de 80 e 90, era muito comum você ter uma massa maior indo para faculdade fazer publicidade, propaganda e marketing… Entrar numa agência era um caminho muito desejado. Como é que você vê a educação hoje nesse segmento de comunicação e marketing?
SALLES NETO Eu acho que ela é muito bem trabalhada, muito bem estruturada. Você tem os cursos específicos para a área, mas também tem os cursos paralelos. Quem faz administração de empresas numa GV, nessas faculdades mais elevadas, tem entrada aqui de portas abertas, porque a contribuição para o nosso mercado é muito grande. Esse profissional não tem uma formação específica, mas traz outros conhecimentos que também são relevantes.
EMPRESÁRIO DIGITAL O mercado de comunicação está muito voltado para as agências. Hoje, para você atender um anunciante, às vezes o cara é uma consultoria, certo? Temos outros players entrando nesse mercado porque é um jogo que gera recurso e tem toda uma prosperidade…
SALLES NETO Em qualquer organização, só há sucesso se você tiver profissionais qualificados. Se você não tiver um time de primeira linha embaixo de você, esquece! Dito isso, eu acho que a consultoria hoje passou a ser uma coisa que faz parte da vida do empresário. Ouvir gente de fora. Como é que a empresa dele, como é que ele tem sido visto pelo mercado? Você é um representante da marca. Então, se você não tem essa presença, essa participação no mercado que é muito ligada à sua marca, muito próxima do projeto que a sua marca tem dentro do mercado, essa marca não está perfeita ainda. Ela tem que parecer com quem está no comando. Depois ela vai ganhar uma notoriedade e prestígio tamanhos que não é mais você que muda a marca, é a marca que muda você. E você é relevante e importante
enquanto essa marca está por trás de você. Se você trabalha numa grande organização na qual a marca é muito forte, eles chamam: “Fulano de Tal, da empresa x”. Eu tive alguns amigos que se achavam os reis da cocada; no dia que tiraram essa marca de trás, viraram pó! Porque a marca projeta a pessoa. Por isso que os executivos estão precisando cada vez mais de consultoria: para ver tudo isso. E até se consultar sobre um projeto, ouvir sobre diretrizes, caminhos… Quando vem alguém de fora, traz formas diferentes de ver o mundo.
EMPRESÁRIO DIGITAL A necessidade do resultado agora tem uma importância igual à que a criatividade tinha no passado?
SALLES NETO A criatividade foi e continua sendo um ponto central dentro do nosso negócio. Agora, marcas se constroem no dia a dia. Não é com comercial, com anúncio, com presença num lugar. É um trabalho permanente de dia a dia… E somando pontos para ganhar mais prestígio, mais visibilidade. Leva tempo para ter uma marca forte, potente, destacada. Já para destruir essa marca é coisa de meia hora! Na hora em que você vê uma pessoa matar a outra num hipermercado lá no Rio Grande do Sul… Acho que a marca não teve culpa.
EMPRESÁRIO DIGITAL Foi um fato isolado que não representa a quantidade de funcionários que a marca tem.
SALLES NETO Você joga a marca num buraco assim. Volta e meia alguém comenta: “Ah, mas vocês ficam batendo em gente, destratam pessoas”. Até porque a marca hoje não é só o trabalho que ela faz com aquilo que ela produz. É com sustentabilidade, é com todo o processo de engajar mulher, pessoas de cor, LGBTQIA+, trazer isso tudo para a sociedade, para o mercado de trabalho… Tudo isso conta ponto para sua marca hoje em dia, então a pessoa precisa ter um cuidado absurdo até com o que fala, como se coloca. Não pode falar de uma pessoa LGBTQIA+ de uma maneira meio grosseira porque vira ofensivo. Por outro lado, quanto mais a empresa trabalha esse lado social, mais valor tem a marca dela, mais prestígio.
EMPRESÁRIO DIGITAL Isso comprova também que antes a gente tinha poucos meios, poucos veículos, e de repente, como todos temos um aparelho de telefone conectado, há 150 milhões de meios…
SALLES NETO Temos 150 milhões de meios e temos mídia social, na qual qualquer um publica qualquer coisa. Todo mundo virou gestor de comunicação. Você tem direito de pegar um celular e arrasar com a vida de uma empresa ou de uma pessoa. São dois minutos. E tem mais! Quando você publica alguma coisa negativa de uma empresa, de alguém, isso dá uma repercussão enorme! O que não dá repercussão é quando você fala positivamente. É uma coisa impressionante.
As empresas convivem hoje com uma máquina de divulgação, de fatos, que podem ser para o bem e para o mal, à disposição de qualquer pessoa. O que dificultou ainda mais construir marca e estar presente no mercado, porque você não pode ter o menor deslize. Nada vai ficar debaixo do tapete.
EMPRESÁRIO DIGITAL Dá para você imaginar hoje como é que seria o futuro desses meios?
SALLES NETO Eu acho que os meios de comunicação vão estar cada vez mais montados numa plataforma na qual eu consiga oferecer algumas bases de alavancagem de marca e de produto de forma que vá somando pontos, de modo que essa marca tenha mais sucesso quando ela estiver investindo em algum tipo de mídia. Aqui, além das mídias online e offline, temos um portfólio de cada uma das agências mais destacadas. E a gente tem uma linha de eventos de conteúdo e de networking. Isso sem falar nos eventos de premiações, nos quais a gente destaca aquilo que merece ser exposto para o mercado. Então a gente tem opções de negócios, opções de entrada, opções de ligar profissionais de marcas conosco e para se desenvolver no mercado de diversas formas. É isso que eu acho que vai acontecer cada vez mais nos meios de comunicação. Um leque de produtos para você ter acesso ao mercado da melhor maneira possível. E tem mais: eu sou o seu consultor, vou dizer para onde você está indo. E eu quero que você tenha muito sucesso! Quanto mais sucesso você tiver, mais você vai investir comigo, entendeu?
EMPRESÁRIO DIGITAL Isso fica evidente nos eventos…
SALLES NETO Para você ter uma ideia, nós não temos mais espaço para patrocínio nos nossos eventos de 2022, na área master, que é a que importa. Por quê? Porque a gente, de alguma maneira, tem feito com que esses clientes saiam satisfeitos daqui. E 99% é renovação, não é que entrou gente nova.
EMPRESÁRIO DIGITAL Dá para você falar mais ou menos qual é o tamanho hoje da base que vocês têm desse público de agência, assinantes?
SALLES NETO Eu não sei te dizer exatamente o tamanho, mas o que eu posso te dizer é o seguinte: ele é grande, mas precisa ver o que é representativo. Se você for avaliar agências de publicidade, nós devemos ter umas 3 mil e poucas agências. Quantas são representativas? Quantas são aquelas que realmente têm um volume de negócio substancial? Cerca de 50. Na área de mídia, quantas temos? Quantos jornais tem este país? Quantas rádios? Aí surgiu o mundo da internet, que você tem mais x empresas atuando, mas quantas são relevantes?
EMPRESÁRIO DIGITAL O restante divide verba?
SALLES NETO Vai buscar verba lá no mercado. Claro, umas com mais expressão, outras menos. Mas nenhuma que tenha um poder, uma pujança. A gente tem a Globo, de bandeira bem clara, que detém mais de 50% da verba de televisão do mercado. O resto é dividido pelo extra. Na internet, tudo bem, aí a gente tem o Google, tem o Facebook, tem o Instagram. Então o mercado é pujante. Tem muita empresa? Tem. Mas quantas você realmente pode falar “isso aqui é coisa grande, de bilhões de resultado financeiro”?
Antigamente, mídia aqui no Brasil era só para empresa do país, aliás era proibido você ter empresa internacional de mídia por aqui que fosse majoritária. O capital estrangeiro pode ter 30% de participação numa empresa de mídia aqui no Brasil. Hoje, se você pegar a Globo, Abril, Estadão, Folha, a gente vê cada vez mais a internacionalização da mídia, tanto no mundo digital quanto na área de televisão. Você pega os canais de TV fechada, quantos são produções do Brasil? Perto do volume total, é um número deste tamanhinho, o resto vem pronto de fora, você só coloca no ar aqui e acabou. E são empresas importantes? São. São marcas fortes? São. Têm um faturamento alto aqui? Não. No caso dos canais fechados, é um faturamento pequeno perto de outras mídias. Mas pega uma verba desse mercado. Eu acho que somando tudo pode chegar perto de uns 15 bi de receita, de dinheiro que circula na mídia, não estou falando de dinheiro que está em investimento.
EMPRESÁRIO DIGITAL No que diz respeito a eventos, o Maximídia tinha um formato muito peculiar, era todo charmoso no sentido de experiência. Acho que foi o primeiro evento de experiência que eu fui na minha vida…
SALLES NETO Hoje ele é um evento fechado, com palestras, e tem os patrocinadores masters. Não tem estande, o que tem são marcas expostas, um projeto para dar uma visibilidade.
No passado, o Maximídia tinha três, quatro andares de feira no WTC, mais o teatro deles para fazer as apresentações de conteúdo. Mas chegou uma hora em que a gente teve de acabar com a feira porque começou a ficar muito caro para as empresas que participavam.Um expositor queria ter um estande maior que o do concorrente, então você precisa ter alimentos e bebidas lá dentro, servir alguma coisa. E, quando terminava a parte de apresentação, era a hora de começar a tomar um drink, happy hour. Todo consumo que você tem de alimentos e bebidas precisa ser absorvido do hotel. O hotel te cobra muito mais caro que qualquer prestador de serviço nessa área, então começou um volume de investimento para os nossos clientes muito alto. E eles reclamavam conosco. E aí, para acabar com isso, até porque era um dinheiro que não vinha para cá, resolvemos acabar com a feira. Mas foi uma fase bonita na época, era uma demonstração de um mercado pujante. Era muito legal para os outros ganharem dinheiro, não para nós.
EMPRESÁRIO DIGITAL E isso tudo porque você tinha um pessoal que queria se mostrar de maneira criativa para um público cada vez mais criativo…
SALLES NETO O Maximídia surgiu para promover a criatividade na mídia. Ele nasceu assim. Reunia os principais jornais do país, ou então as principais televisões, e falava “olha, eu vou te dar a manhã para vocês montarem uma programação, indo lá mostrar como se utilizar do jornal de maneira criativa.
Eu vou te dar o espaço e o público e você monta o que você quiser lá. Eu vou te dar das 9h ao meio-dia”. E aí eu fazia com rádio, com televisão, e era um sucesso! Porque cada uma dessas mídias queria sair de lá melhor do que a outra, dizendo “eu sou mais relevante”. Eles preparavam uma programação maravilhosa para o horário que eles tinham, e assim nasceu o Maximídia. Até chegar um momento em que isso passou a não ser tão importante. E aí a gente foi mudando o conteúdo que passava para o mercado. E nunca mudamos o nome, ele continua chamando Maximídia, que para muitas pessoas dá a conotação que continua sendo um evento de mídia, só que, quando você chega lá, não tem nada de mídia. Tem um conteúdo muito profundo até, de análise, e um mergulho no mercado de comunicação e marketing, em mudanças de comportamento, de atitude, da forma de trabalhar. Como é que ele está indo, para onde está caminhando… A gente entende que ser essa bússola é um papel do Meio & Mensagem.
EMPRESÁRIO DIGITAL E promove essa função sempre colocando as pessoas no centro da conversa. A tecnologia é tão somente um meio para fazer parte disso tudo…
SALLES NETO A gente sempre está buscando esse lado junto aos profissionais que estão fazendo um trabalho diferenciado, que estão em busca de algo novo, que estão trazendo novidades aqui e fora daqui. Se você for pegar o nosso time aqui, no fim de fevereiro já tem um evento internacional que a gente participa, que é o Mobile Marketing, na Espanha. De lá, a gente vai para o South by Southwest, que é nos EUA, depois para Cannes… Fazemos cobertura jornalística dos principais eventos do mundo na área de tecnologia ou de comunicação, e trazemos para cá por meio do jornalismo. Esse é o nosso papel no mercado.