Num mundo cada vez mais impactado pelo desenvolvimento tecnológico e por temas humanitários, sociais, culturais e ambientais, o ambiente de negócios vem buscando se adaptar para lidar com as diversas mudanças. É fundamental manter sua competitividade e longevidade, além do alinhamento do seu propósito de negócio (core business) com as crescentes demandas regulatórias para a construção de um mundo mais ético e sustentável.
Nesse cenário, o cumprimento dos critérios ESG (sigla em inglês para Ambientais, Sociais e de Governança) torna-se cada vez mais relevante na gestão dos negócios, condicionando, inclusive, investimentos no desenvolvimento das organizações. No contexto global, empresas consideram iniciativas como o Pacto Global, os Princípios para Investimentos Éticos e os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU como instrumentos que fomentam o fluxo de novos recursos nessa direção. Na União Europeia, o Regulamento 2020/852 e a Diretiva nº 2013/34 buscam fomentar a governança e aumentar investimentos mais sustentáveis. Segundo a agência Reuters, até o final de novembro de 2021, cerca de US$ 649 bilhões foram investidos em fundos ESG em todo o mundo, um valor recorde, quando comparado com os US$ 542 bilhões investidos em 2020 e aos US$ 285 bilhões aplicados nesses fundos em 2019.
No Brasil, quando comparado com Europa e América do Norte, o comprometimento com as iniciativas corporativas endereçadas ao contexto ESG ainda é tímido, conforme dados do Relatório de Sustentabilidade da Anbima – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (2018). O estudo, que contou com a participação de 110 gestoras de recursos (das 520 convidadas a participar), mostrou que 66% das respondentes não tinham uma área específica para tratar das questões ESG e apenas 18,7% das gestoras tinham mais de 10% do seu patrimônio sob gestão aplicado em investimentos de impacto em fundos, ativos ou negócios de impacto social e/ou ambiental. A adesão voluntária em iniciativas para o desenvolvimento responsável, como o CDP (Carbon Disclosure Project), o PRI (Principles for Responsible Investment) e o B Corp (Sistema B), não foi efetivada por mais de 48% das empresas participantes.
Entretanto, mais recentemente, ações como a criação do Pacto de Promoção da Equidade Racial e a Resolução 59/2021 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vêm ampliando o debate e impulsionando as empresas em relação aos critérios ESG. A primeira pretende implementar um Protocolo ESG Racial para o Brasil e trazer a questão racial para o centro do debate econômico no país.
A Resolução 59/2021, que propôs alterações nas Instruções CVM 480 e 481/2009, determina e esclarece a padronização das informações sobre as questões sociais, ambientais e de governança corporativa em seus Relatórios de Referência disponibilizados ao mercado.
Sem dúvida, é de se esperar um comprometimento cada vez maior das companhias em aplicar recursos em organizações que atuam para a execução da sua missão em acordo com padrões ambientais, sociais, éticos e legais. Contudo, uma vez firmado o compromisso da organização em implementar ações em acordo com os critérios ESG, surge mais um desafio: como garantir o engajamento efetivo de colaboradores e gestores com esses objetivos que, na maioria das vezes, são de longo prazo? Uma das respostas pode ser a remuneração variável. A partir do estabelecimento de indicadores chave de desempenho (KPIs – Key Performance Indicators, em inglês) e das respectivas métricas para seu acompanhamento, é possível atrelar a remuneração do time a seus resultados e ao cumprimento das metas definidas para a agenda ESG.
Existem alguns modelos de remuneração que têm o objetivo de atender as demandas do negócio – frente aos concorrentes, à legislação e aos clientes, assim como as expectativas dos colaboradores, em seus respectivos momentos de crescimento e desenvolvimento profissional. Busca-se recompensar não somente a conclusão do trabalho, mas também o comportamento alinhado com a cultura organizacional da empresa, suas normas e políticas.