Num ambiente cada vez mais conectado, os avanços tecnológicos têm permitido melhorar a qualidade de vida das pessoas e assegurar maior longevidade e tempo produtivo. Há cerca de seis décadas, uma pessoa com 50 anos era considerada idosa e pouco produtiva, devendo retirar-se do mercado de trabalho. Atualmente, um “idoso” de 60 anos continua em suas plenas funções produtivas: porém a continuação de suas atividades profissionais está cada vez mais desafiadora. Não somente por questões fisiológicas, mas, sobretudo, por atitudes de preconceito: o chamado etarismo ou ageísmo, que é caracterizado pela intolerância e discriminação contra pessoas com mais idade.
De acordo com dados do IBGE, atualmente, cerca de 13% da população brasileira tem mais de 60 anos e, em 20 anos, essa faixa de idade alcançará o número de 57 milhões de brasileiros. Assim, combater o etarismo deve ser um objetivo de toda a sociedade, agora e em todas as suas áreas: pessoal, social e, principalmente, no âmbito profissional, em que os casos de etarismo são ainda mais comuns e impactantes entre as mulheres, quando as primeiras rugas ou fios de cabelo branco (fora dos padrões de beleza impostos pela mídia e sociedade) podem jogar por água abaixo muitas oportunidades profissionais.
Produzido pela Organização Mundial de Saúde, o relatório Global Report on Ageism comprova que metade da população mundial tem atitudes preconceituosas em relação à idade. Neste contexto, ainda são bastante comuns as histórias de pessoas que mentem a idade no currículo para serem chamadas para entrevistas e que obviamente não são contratadas após a reunião pessoal, mesmo tendo cumprido todos os requisitos para a vaga. Mas sabe como é: “você não atende ao perfil que desejamos…”
O que as empresas precisam entender é que, assim como os investimentos na diversidade étnica, sexual e cultural podem trazer inúmeros benefícios para a gestão da inovação, os times podem se tornar ainda mais competitivos com uma maior diversidade etária, que agrega conhecimento técnico teórico e tácito, além de muita sabedoria. Qual é o custo de abrir mão da experiência? Quanto vale o aprendizado daqueles que vivenciaram, na prática, vários planos econômicos? Quanto vale o conhecimento daqueles que já cometeram vários erros em suas carreiras; erros estes que, na época, serviram de aprendizado prático e que, provavelmente, não vão mais se repetir? Quanto vale ter vivido em um mundo onde não existia Internet e que obrigou este profissional a se adaptar aos meios virtuais e a se reinventar?
Estes diferenciais, que não se aprendem em cursos nem em livros, e somente são adquiridos pela vivência ao longo do tempo, são extremamente significativos no mundo corporativo. O desenvolvimento de novas habilidades, como adaptação e resiliência; a criação de amplo networking profissional; a construção de valioso repertório cultural, são alguns exemplos de diferenciais que somente a vivência pode gerar. E, nesse sentido, possibilitam encurtar caminhos longos e improdutivos, auxiliando no fomento de uma cultura de gestão inovadora mais autônoma e sustentável. Unir o impulso e o entusiasmo da inovação com a sabedoria e o equilíbrio da experiência deve fazer parte do planejamento estratégico e da gestão da inovação das organizações de agora e do futuro. Criar um ambiente de trabalho mais saudável, colaborativo, ávido por mudanças e novas descobertas, mas bem embasado, orientado e equilibrado.
Enfim, todos vamos envelhecer, mas cada vez com mais energia para continuar no mercado. A conscientização dos benefícios da diversidade etária para as empresas de gestão da inovação é fundamental. E quando se fala em pensar de forma inovadora, pressupõe-se que esta esteja cheia, completa com conhecimento e experiência provenientes de tudo aquilo que foi vivenciado ao longo da vida e que não é possível acessar em nenhum livro ou banco de dados. Somente quem viveu possui esse repertório único, fruto das escolhas e iniciativas de cada um, que representa nosso maior diferencial e faz nossa caixa transbordar.