Robson Harada deixou o cargo de head de growth marketing no Itaú para advogar por um ecossistema no qual as novas tecnologias de Web3, as finanças descentralizadas e as criptomoedas possam prosperar.
Você deixaria uma posição no topo de uma das maiores instituições financeiras do Brasil para mergulhar de cabeça num mercado incipiente e ainda muito instável? Foi o que ousou fazer Robson Harada. Ele trocou um cargo de head de growth marketing no Itaú para ser CMO de uma startup de 450 pessoas (para efeito de comparação, o Itaú tem mais de 79.000 colaboradores) ligada a uma novidade que a maioria dos indivíduos com conta em banco ainda nem entende muito bem: a das criptomoedas.
Sim, estamos falando em Bitcoin, o nome mais conhecido desse universo, mas não só isso. O MB (Mercado Bitcoin) é uma corretora que, além de intermediar a compra e venda de criptoativos, assumiu um papel proeminente na construção desse novo mercado. Porque, se você ainda não pode pagar seu café na padaria com Bitcoin e moedas virtuais semelhantes, é porque ainda não existe uma regulamentação sendo colocada em prática para o uso delas. Falta todo um ecossistema que permita que as criptos se tornem algo tão rotineiro na nossa vida quanto usar cartão de crédito. Só que elas já estão sendo negociadas em Bolsa de Valores, já tiveram ciclos incríveis de alta… E, se isso está acontecendo, é porque muita gente acredita que vai escalar.
Harada é uma dessas pessoas. E, mais do que na compra e venda das criptomoedas, ele crê na descentralização das finanças e na tecnologia blockchain [mecanismo de banco de dados avançado que permite o compartilhamento transparente de informações interligadas em uma cadeia], que podem revolucionar o setor financeiro e o nosso dia a dia também. Crê tanto que, com sua expertise em marketing, tomou para si a responsabilidade de convencer empresas, executivos e governos das infinitas possibilidades desse novo mundo.
Se ele é um visionário ou alguém que simplesmente ama correr riscos? Você vai descobrir nesta matéria exclusiva que Robson Harada concedeu à reportagem da Empresário Digital.
EMPRESÁRIO DIGITAL O que passou pela sua cabeça ao trocar um alto cargo numa instituição financeira de tamanho porte por uma corretora de criptomoedas?
ROBSON HARADA Essa mudança está muito relacionada ao meu histórico em inovação. Enxergo esse novo momento da internet que chamamos de Web3 como algo muito promissor para se estar presente agora. É uma nova onda. E estar numa empresa que é completamente nativa nesse novo ciclo me faz mais próximo das possibilidades de construir em cima disso. Tenho muito respeito e admiração pela minha antiga casa, ela foi uma escola muito especial para mim, mas eu queria de fato me jogar de cabeça nesse novo universo. Tanto que eu tenho um Ethereum tatuado na minha mão. Esse é o tanto de crença que eu tenho na blockchain. Acho importante que as pessoas entendam que esse novo mundo não é somente especulação financeira, do tipo “compre cripto para ficar rico”.
Eu me coloquei numa missão de evangelizar sobre o poder de transformação que essas tecnologias têm. E estar no MB hoje me dá o poder de fazer isso na prática, com velocidade e dentro de um propósito. Por mais que minha antiga casa olhasse para essas novas tecnologias, não era seu core business. Aqui é. Então me permite ajudar a construir esse ecossistema, que ainda está nascendo.
EMPRESÁRIO DIGITAL Para os leitores não familiarizados com esse universo, o que exatamente a sua empresa faz e qual é o seu papel dentro dela?
ROBSON HARADA O MB (Mercado Bitcoin) foi a primeira corretora de criptoativos e digital assets da América Latina. Nasceu em 2013, muito antes de eu ter entrado. O core é ser uma corretora, que compra e negocia Bitcoin, Ethereum e outros ativos. No entanto, nos últimos anos, a empresa caminhou para um outro sentido, que é desenvolvimento de ecossistema. Então, além da negociação de cripto, estamos num papel de evangelizar e escalar o poder da tokenização das tecnologias blockchain. Vendemos produtos financeiros tokenizados, que chamamos de renda fixa digital. Por exemplo, tokenizamos um precatório, para você ter acesso no varejo, ou cotas de consórcio, para você ter acesso com rendimento fixo usando a tecnologia de blockchain. Ou seja, nos tornamos um ecossistema e uma porta de entrada para essa nova tecnologia digital. E isso é um grande desafio. Trabalhamos no desenvolvimento de uma infraestrutura regulatória, uma infraestrutura de tecnologia, de produto… Nosso papel não é só fazer as pessoas comprarem e venderem Bitcoin, mas também entender que essas tecnologias de blockchain vieram para transformar a sociedade. E estamos na liderança dessa transformação.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como você vê o ritmo dessa transformação digital acontecendo?
ROBSON HARADA Hoje o ritmo está muito mais acelerado que dois, três anos atrás, principalmente porque o tema está na pauta global. Quando você vê a Lei de Regulamentação dos Criptoativos ser aprovada no ano passado e sancionada pelo antigo presidente. Quando você vê
o Biden discutindo formas de evitar lavagem de dinheiro com a utilização de criptoativos… O que estamos vivendo hoje nessa revolução é um caminho sem volta. Esse ritmo vai ficar cada vez mais acelerado conforme o regulador, seja regional ou global, entrar como ator e conforme acontecer uma otimização das cadeias produtivas com o uso dessas tecnologias. No aspecto financeiro, a evolução será mais morosa. Porque envolve dinheiro, risco e as economias das pessoas. E aí implica Banco Central, FMI, órgão regulador, CVM… Cada país com sua regulamentação, cada país com seus parâmetros. Então isso para mim vai ser o mais desafiador, onde teremos mais trabalho para botar em prática.
EMPRESÁRIO DIGITAL Já a tecnologia tende a ser mais rápida?
ROBSON HARADA Colocando a lente para o outro lado, tem todo o poder de desenvolvimento e transformação da tecnologia blockchain. E hoje ela pode ser usada para otimizar a cadeia produtiva de supply chain e inclusive para escalar produtos e serviços que não eram possíveis no passado. Esse outro lado da blockchain como um todo, seu uso como infraestrutura, eu vejo isso acelerando exponencialmente. Do lado financeiro, como eu regulo a compra e venda de bitcoin, ganho de capital, impostos etc., vai ser o mais desafiador, como qualquer revolução financeira foi. Ela vai estar associada ao apetite de risco e ao apetite de desenvolvimento econômico que existe ao redor disso. Então é muito mais complexo. O financeiro vai ser mais devagar, o tecnológico vai ser exponencial.
EMPRESÁRIO DIGITAL Há muitas matérias pintando as criptomoedas como uma aventura. Você acha que as grandes mídias estão sabendo explicar direito o que é esse novo mundo?
ROBSON HARADA Eu respeito muito todas as opiniões e pontos de vista. Ninguém é obrigado a ser crente em relação ao futuro do Bitcoin, por exemplo. No entanto, a minha análise é que esse ativo digital tem toda uma infraestrutura por trás, muito robusta no que tange a blockchain, supply limitado, escassez, reserva de valor… Se você acredita nessa tese, você vai investir nisso. Depende muito também do perfil de cada investidor. Não tem o agressivo, o moderado e o conservador? Se você está dentro do espectro do mais arrojado, você tem apetite de risco para investir em ativos de renda variável. E o Bitcoin é um ativo de renda variável com as mesmas características de uma ação, só que dentro de um outro contexto, que é tecnológico. E muito mais do que isso. Há o poder dos tokens dentro de cada projeto. Sou mais entusiasta disso que propriamente do Bitcoin. Vou dar um exemplo do próprio Ethereum, que é a segunda maior criptomoeda. Ela é um criptoativo financeiro, só que é uma infraestrutura tecnológica, de desenvolvimento sobre essa cadeia. Você pode criar e desenvolver diversas coisas lá dentro. E conforme esses desenvolvimentos de projetos, decentralized applications, têm sucesso, mais a rede é utilizada, mais taxa ela consegue rentabilizar, maior fica o poder financeiro dela, maior é a valorização desse token. E isso existe para uma cadeia de centenas de outros tokens, que têm uma função dentro da blockchain.
EMPRESÁRIO DIGITAL Fale mais sobre essa analogia com o mundo das ações.
ROBSON HARADA Você investe na ação de uma empresa porque algum analista estuda essa companhia e conclui que ela tem um potencial de valorização. Com o token é a mesma coisa. Cada um deles na Web3 ou na blockchain está resolvendo algum problema. Se você acredita que aquele segmento em que ele está inserido vai ter poder de valorização, você investe nisso. Então é normal encontrar muitos críticos, mas quem vai dizer o que está certo ou errado é o futuro. Eu não estou aqui jogando meus búzios e dizendo “olha, compra bitcoin que você vai se dar bem”. Eu estou nessa porque acredito muito na tecnologia. É um mercado com altas e baixas muito rápidas, só que, se você avaliar o histórico, a tendência é sempre de crescimento. Se hoje estamos na baixa, é porque somos dependentes do cenário macro. Atualmente com uma guerra, uma crise, estamos mais suscetíveis. E aí você vê que não é o Bitcoin que está sensível. É a cadeia econômica global que está.
EMPRESÁRIO DIGITAL Quais você acha que são os maiores desafios para evangelizar esse mercado com relação à blockchain?
ROBSON HARADA É entrar numa agenda regulatória com os atores do governo, institucionais, econômicos, atuando em prol do desenvolvimento tecnológico. Isso para mim é o central. Tem algumas pessoas que são mais xiitas e não querem regulação, preferem que as criptomoedas sejam ativos alternativos, mas, se ficar nisso, não vai acontecer. Então, para mim, o grande desafio é, de fato, a regulamentação acontecer, os governos e bancos centrais olharem para isso e tudo escalar. Por exemplo, o Campos Neto [presidente do Banco Central] é um grande entusiasta. Está lá desenvolvendo a CBDC (Central Bank Digital Currency), que é totalmente baseada em blockchain. Esse tipo de movimento vai ao encontro de um desenvolvimento e de uma estabilização desse mercado. Só que isso vai ter de acontecer em escala global. O FMI já está trabalhando num texto para colocar essa bola no chão. Não adianta ter o anarquista que diz que vai fazer de um modo a passar por baixo do radar dos governos…
Não é assim que essa tecnologia vai prosperar. E só olhar para o ganho financeiro não é a forma mais correta. Tem de olhar para o que está por trás, para a pedra filosofal, que é a blockchain. Essa é a grande inovação que vai transformar o mundo.
EMPRESÁRIO DIGITAL Dá para ser otimista em relação à descentralização das finanças num país em que, mesmo em governos de esquerda, os grandes bancos sempre bateram recordes de lucro e são onipresentes?
ROBSON HARADA Eu acredito que sim, mas com todos os pormenores referentes à defesa de mercado que existe dentro desses órgãos. A história humana mostra que grandes corporações fazem a moldagem de toda uma economia. E não estou criticando, é como o mundo funciona. Mas esses grandes atores já estão olhando para a tecnologia. O próprio Itaú já anunciou que está olhando para a tokenização. Você vê o Santander com iniciativas como essa. O Nubank lançou o nucoin, sua própria moeda digital, totalmente baseada em blockchain. Vejo que esses grandes atores vão começar da forma que for mais prudente para eles, e tudo bem. Não vão iniciar apostando tudo em compra e venda de criptoativos. Mas vão entendendo que tokenizar uma cadeia financeira vai otimizar a receita deles. E o que eles estão sempre buscando? Otimização, redução de custos e aumento de lucro. Essa tokenização do mundo vai acontecer e eu vejo que, nos próximos anos, os principais atores disso serão os grandes bancos. Porque é onde eles vão conseguir extrair mais eficiência. Hoje a principal rede de desenvolvimento é o Ethereum, e eles lançaram uma atualização que reduziu o consumo de energia e o custo de transação. Quando isso estiver reduzido ainda mais, quando começar a acontecer de maneira escalada, eles vão ser os principais investidores e usuários dessas tecnologias.
EMPRESÁRIO DIGITAL Fale um pouco sobre a importância da inteligência de dados na Web3.
ROBSON HARADA Ela é bem importante no que tange a você entender movimentos. Há inteligência de dados numa das maiores belezas que eu vejo na blockchain: as transações são todas transparentes. Tenho uma wallet, minha carteira, que é a forma como eu interajo com esses novos modelos de aplicações descentralizadas, transações, corretoras, carteiras quentes ou frias, aqueles tradicionais pendrives nos quais as pessoas podem eventualmente guardar as custódias dos seus ativos… Todos os dados que você gera numa transação vão para a blockchain. E o endereço da minha carteira é público. Uma das minhas carteiras está associada a um ENS domain, quando você vê meu perfil no Instagram, é robsonharada.eth. Esse .eth comunica que, sim, essa carteira é do Robson Harada, que está associado a um domínio ethereum, e que eu quero que todo mundo saiba que essa carteira é minha. Eu pego o endereço da minha carteira, copio e colo em uma plataforma de scan, e eu vejo tudo que eu fiz. Para onde eu mandei ativo, de onde eu recebi ativo, qual foi a NFT que eu comprei, de qual coleção, com qual interação… Isso gera uma massa de dados. Chega até a me emocionar a quantidade de informação e ação que você pode tomar em cima disso, sabendo de maneira transparente, registrada nesse cartório digital, que é a blockchain, tudo o que está acontecendo no mundo. Todas as análises para saber se o mercado está indo bem ou mal, se está num ciclo de alta ou de baixa.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você pode dar um exemplo pessoal do uso dessas análises?
ROBSON HARADA Sim. No começo do ano teve uma alta muito grande, de uns 20%, no Bitcoin, e eu cheguei para o meu head de research, que é o André Franco, e perguntei se era um ciclo de alta. Ele então me explicou que não, que era um squeeze de pessoas que estavam segurando para vender num melhor momento de mercado, e com a oferta menor o preço dos ativos subiu. Ou seja, você tem uma possibilidade infinita de análise de dados, que estão lá e são públicos… A característica da blockchain é exatamente descentralização e transparência. Você tem a possibilidade de ver movimento de mercado, quem são as baleias que estão movimentando mais ou menos ativos. Com essa transparência, você faz com que as pessoas fiquem mais atentas ao que elas estão fazendo, e consegue gerar uma massa de informação financeira e comportamental segura, o que vai promover insights poderosos para marcas e negócios. O uso de inteligência de dados aqui é mais do que peremptório, ele é nativo.
EMPRESÁRIO DIGITAL Que conselho você daria para um empresário imerso no conforto da Web2, mas que quer entrar nesse universo da Web3?
ROBSON HARADA Primeiro é entender qual é o seu segmento. Cada setor tem suas características e possibilidades de uso dessas tecnologias. Entendendo seu segmento, aí é procurar referências e cases. O Walmart está usando blockchain para otimizar sua cadeia de supply chain, um exemplo que está até na Harvard Business Review. Então, se eu sou um varejista, vou estudar esse case e ver se pode ser aplicado a mim de alguma forma. Outro exemplo: a Starbucks lançou seu programa de fidelidade tokenizado, que eles chamam de colecionáveis digitais, que nada mais são que NFTs. E está tendo um grande sucesso em cima disso. Vale, então, entender se isso se aplica para uma rede de cafeterias locais. Também é interessante entender o case de NFTs da Reserva, para fazer criação e gestão de comunidades. Eu não quero gerar um Fomo [“medo de ficar de fora de uma novidade”, na sigla em inglês], mas incentivar que os empresários entendam que não é sobre “compre bitcoin e fique rico”. É sobre uma tecnologia que vai impactar o seu negócio, o seu mundo. As novas gerações já vão vir com isso chipadas com o poder da descentralização, dos criptoativos, da blockchain, de comunidade, de NFT…
E a segunda dica que eu dou é fazer criação e gestão de comunidade. Para mim as marcas e empresas que vão prosperar no futuro são aquelas que têm comunidades fortes, que conseguem fazer a gestão dessa comunidade, identificando quem são seus alfas, seus advogados, e vão ter um mix de usar influenciador e ter um grupo de pessoas, que não necessariamente são milhares, que vão entender a sua marca, o seu serviço, o seu produto, e vão espalhar a palavra. Uma das formas de você tangibilizar uma comunidade é por meio de um ativo digital, como o NFT, que é o que a Reserva está fazendo, o que Starbucks está fazendo, o que diversas marcas já estão prototipando. Isso vale para uma empresa de pequeno porte com 50 funcionários e para uma companhia com 100 mil.
EMPRESÁRIO DIGITAL Com o seu currículo, dá para dizer que você tem portas abertas em qualquer empresa. E hoje você está trabalhando num convencimento do mercado sobre um novo mundo. Você tem uma perspectiva de, se não der certo em determinado tempo, voltar ao mercado
mais tradicional?
ROBSON HARADA Quando eu fiz essa mudança é porque eu tenho um apetite de risco muito grande, que está totalmente relacionado ao meu contexto social, familiar… Hoje não tenho filhos, não sou casado… Em outra situação eu precisaria discutir com minha esposa se vale a pena correr um risco tão grande. O risco que estou tomando hoje, estando numa startup de criptoativos, num contexto global financeiro e econômico delicado, é muito grande. Só que o prêmio que tem do outro lado também é muito grande. Então, eu tenho o meu prazo mental aqui que conta com alguns parâmetros para eu tomar uma decisão de nova mudança ou não. Existe o advento do próximo halving do Bitcoin, que acontece no ano que vem, e, de acordo com o histórico dos dados, o halving costuma ser o próximo ciclo de alta. Eu estou nessa corda bamba, mas é de um risco calculado. Não mudei por uma questão financeira. Foi por uma questão de propósito, e por acreditar nessa tecnologia. Mas pode chegar a hora em que você atinge seu limite de resiliência, e a corda pode estourar. Eu dependo de a Rússia não postergar ou gerar novos conflitos, das Coreias não entrarem em algum atrito mais severo, da China e Estados Unidos não entrarem em confronto direto, em suma, do macro global e fatores que são totalmente não controláveis por mim, pelo meu trabalho ou mercado. Mas se não der, tudo bem, ainda me considero uma pessoa relativamente nova, dá para fazer outras coisas. Pelo menos eu aprendi, me joguei e não vou me arrepender de não ter me jogado.
EMPRESÁRIO DIGITAL Neste mundo instável, de guerras e pandemia, as finanças descentralizadas acabam funcionando melhor que as instituições tradicionais, por serem mais flexíveis?
ROBSON HARADA Apesar de a flexibilidade ser boa nesse contexto, com crise você não tem dinheiro para descentralizar. A descentralização das finanças trabalha dentro da inclusão financeira, que é superimportante, mas, de novo, ela vai esbarrar na regulamentação. Se há uma crise global e acontece uma fuga de capital, as pessoas não vão se interessar em investir em Ethereum porque elas estarão sem nome limpo no banco para poder comprar um crédito. Na teoria, sim, a descentralização deveria dar mais poder num contexto desses. E até na pandemia nós vimos acontecer, quando os ativos digitais tiveram grande alta. Só que, se entramos numa situação de uma crise global, isso não vai ser o tema mais sexy para as pessoas. E nem para os governos, e nem para as empresas. Eles vão estar com outras preocupações na cabeça. Para isso prosperar, precisamos torcer para que o mundo entre numa estabilização. E, na minha visão, o que estamos vivendo hoje é mais um ciclo de desafios, como já vivemos outros na história da humanidade, e vamos sair dessa.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como você vê o metaverso hoje?
ROBSON HARADA Metaverso tem muita conexão com Web3 também. Esse é outro caminho sem volta, é a forma como as marcas vão interagir com os consumidores. Ah, mas por que as pessoas não estão usando? Por uma questão de processamento de dados, de informação… Conforme device e banda de internet ficarem cada vez mais robustas, e as pessoas já chegarem nativas dentro desses universos, o metaverso vai fazer parte da vida. Para os mais jovens, poder usar uma expressão deles num ambiente virtual digital já é bastante natural. Daqui a cinco, dez anos, isso vai ser ainda maior. E o nosso papel aqui é entender como nos conectamos com esses novos universos. Conforme software e hardware evoluem, você vai ter ali seu avatar também. Já teve um hype, o próprio Facebook mudou seu nome para Meta, mas depois não se sustentou porque, na hora em que você vai para a usabilidade, ela ainda não é a mais perfeita possível. Mas, quando isso estiver mais sofisticado, e com as novas gerações entrando, o metaverso fará parte da nossa vida como hoje fazem as redes sociais.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você é remunerado na empresa em criptomoeda?
ROBSON HARADA Não. Muitas empresas e corretoras fazem isso. Só que o MB vai fazer tudo by the book. Nós reportamos para o Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], incentivamos a declaração do imposto, temos conexão com a Receita Federal. Tanto que muitas vezes perdemos pessoas e clientes por causa disso. Aqui não tem operação embaixo do radar. Tudo o que nós fazemos é como numa empresa normal.
Então não tenho remuneração em tokens. Isso porque, hoje ainda, do ponto de vista fiscal, não seria o mais correto. E é por fazer tudo certinho que somos vistos como a exchange mais segura, mais tradicional… Todo o nosso trabalho de confiança, credibilidade e compliance advoga em nosso favor. Aquela pessoa que quer entrar nesse ecossistema sem perder a conexão com o mundo mais tradicional vem para cá. E o meu trabalho com marketing também é um pouco isso: tangibilizar esse posicionamento para as pessoas.