Venda de ações da Vale permite redução de dívida e maior flexibilidade financeira
A Cosan anunciou a venda de 173,07 milhões de ações da Vale, correspondentes a 4,05% do capital da mineradora. A operação gerou aproximadamente R$ 9 bilhões em receita para a companhia, com cada papel negociado por R$ 52,29. A transação, intermediada pelo J.P. Morgan, foi concluída com um pequeno desconto de 0,60% em relação ao valor de fechamento do pregão anterior.
A empresa, liderada por Rubens Ometto, justificou a venda como parte de uma estratégia de otimização da estrutura de capital. Segundo a Cosan, o objetivo é reduzir a alavancagem financeira em meio a um cenário de juros elevados no Brasil, o que encarece o custo do capital. Marcelo Martins, CEO da companhia, destacou que a decisão reforça o compromisso com uma trajetória de menor endividamento.
O mercado reagiu ao anúncio com volatilidade. As ações da Vale chegaram a ser suspensas para negociação durante parte da manhã devido ao grande volume vendido, o que caracteriza um “blocktrade”. Após a retomada, os papéis oscilaram, mas encerraram o dia em leve queda. Já as ações da Cosan apresentaram alta no início da tarde, impulsionadas pela perspectiva de maior estabilidade financeira.
De acordo com análise do Itaú, a venda representará uma redução de 0,4 vezes na relação entre dívida líquida e Ebitda da Cosan. O movimento também gerará um alívio anual de R$ 1,3 bilhão em despesas com juros. No entanto, a companhia deixará de receber aproximadamente R$ 900 milhões anuais em dividendos pagos pela Vale.
A Cosan, que já investiu em setores como logística, energia e gás natural, busca agora reforçar seu foco nesses segmentos. Segundo analistas da XP Investimentos, o desinvestimento já era esperado e não comprometerá a capacidade da empresa de cumprir suas obrigações financeiras. Para a Vale, o aumento na liquidez das ações, agora mais disponíveis no mercado, pode atrair novos investidores, conforme observado pelo especialista Daniel Teles, da Valor Investimentos.
Historicamente, a Cosan investiu cerca de R$ 22 bilhões para adquirir até 6,5% da Vale em 2022. O cenário econômico atual, porém, levou à decisão de vender parte de sua participação. A medida, segundo o BTG Pactual, é um reflexo da necessidade de adaptar-se a um contexto de custos financeiros elevados e alta competitividade no mercado global.
Mesmo com os impactos diretos da venda, analistas acreditam que a transação não afeta significativamente a gestão da Vale, que possui uma estrutura acionária ampla. Sob o comando do CEO Gustavo Pimenta, a mineradora segue focada em sua estratégia de longo prazo.
A Cosan, que também controla marcas como Raízen e Comgás, planeja usar os recursos para explorar novas oportunidades de expansão, com potencial para fortalecer sua posição em setores estratégicos. A empresa reforça seu compromisso em manter-se financeiramente sólida e preparada para os desafios econômicos atuais.