No início dos anos 2000, a Blockbuster reuniu seu conselho para aprovar o orçamento do ano seguinte. Entre previsões de expansão e metas de vendas, havia uma variável que ninguém colocou na planilha: a ascensão da Netflix e o poder da tecnologia em mudar hábitos de consumo em velocidade exponencial. O resto da história todos conhecemos — e serve de alerta.
Estamos em outubro, e nas salas de diretoria pelo Brasil e pelo mundo já se aprovam os planos estratégicos e orçamentos para 2026. Mas a pergunta que precisa ecoar em cada reunião é simples: quantos de nós estamos realmente integrando a inteligência artificial — especialmente a nova geração de IA agêntica — em nossos planos estratégicos?
Planejar como se o mundo fosse estável é confortável. Mas a realidade é que cada empresa hoje enfrenta pelo menos dois tabuleiros de jogo: o do core business, que precisa de previsibilidade, e o da disrupção, que exige velocidade, experimentação e ousadia. Em Stanford, no curso Driving Innovation in Established Companies, aprendi a metáfora do “speedboat”: enquanto o navio principal segue sua rota, um barco rápido navega em paralelo para explorar novos territórios. Esse modelo é mais atual do que nunca quando falamos de IA.
A integração de IA agêntica não é opcional. Ignorar esse movimento é correr o risco de se tornar irrelevante em poucos anos. Assim como vimos empresas inteiras desaparecerem diante da digitalização, veremos negócios inteiros se perderem por não adaptarem sua estratégia à IA. O desafio não é apenas reduzir custos ou automatizar tarefas. É repensar modelos de negócio, fluxos de receita, relacionamento com clientes, desenho organizacional e até mesmo a cultura empresarial.
A maioria dos planejamentos estratégicos ainda segue a lógica linear: projeções de crescimento, controle de despesas e expansão gradual. Mas esse modelo linear já morreu. O que vemos emergir é a necessidade de estratégias paralelas: uma que proteja o presente e outra que experimente o futuro. O equilíbrio está em manter o navio estável enquanto alguns speedboats testam, erram rápido e abrem novas rotas de crescimento.
Se no passado a vantagem competitiva vinha da escala ou da marca, hoje ela vem da capacidade de aprender mais rápido do que o mercado. Incorporar IA nos orçamentos de 2026 não significa apenas “comprar tecnologia”. Significa criar governança, definir áreas piloto, estabelecer métricas de aprendizado e, acima de tudo, reconhecer que quem não se movimentar agora pode não ter tempo de reagir depois.
Em um ambiente em que um algoritmo pode lançar novos produtos em dias, enquanto conselhos ainda discutem o orçamento do próximo trimestre, a maior ameaça para qualquer empresário não é a crise econômica ou a concorrência tradicional. É a inércia.
O convite que faço é à reflexão: será que o seu planejamento 2026 está realmente preparado para o mundo que vem aí, ou ele já nasceu obsoleto?