Susan Li, âncora da Fox Business e uma das jornalistas mais respeitadas em economia global, chamou ao palco do WebSummit um dos nomes mais influentes do sistema financeiro moderno… Nigel Morris, cofundador da Capital One, o sexto maior banco dos Estados Unidos e terceiro maior emissor de cartões do país. Um executivo que ajudou a colocar mais de cem milhões de clientes dentro de um novo modelo de crédito e que hoje comanda a QED Investors, um fundo de 4 bilhões de dólares focado em fintech.
A conversa começou leve, lembrando o clássico what’s in your wallet… mas a pauta escalou rápido para aquilo que realmente move o mercado… números, mudanças de ciclo e disrupção acelerada.
Nigel resgatou um dado incômodo…
Em 2021, vivemos uma explosão de IPOs que parecia eterna. No ano seguinte, veio o colapso. E durante quatro anos inteiros, praticamente nenhuma empresa abriu capital. Agora, em 2025, alguns sinais de volta aparecem… Circle, eToro e algumas fintechs romperam o silêncio. Mas Nigel foi pragmático… ninguém sabe se é retomada ou miragem.
O número que prendeu a respiração do auditório foi outro…
200 bilhões de dólares correram para a inteligência artificial em apenas um ano.
Uma migração violenta que drenou capital de quase todos os outros setores.
Segundo Nigel, hoje o dinheiro procura três palavras mágicas… IA, stablecoin e narrativa. Quem não apresenta IA no discurso, mesmo que o negócio seja excelente, debate capital com o freio de mão puxado. A pressão é tão grande que metade das empresas do portfólio da QED levanta rodada por prevenção, apenas para não perder o timing.
E ele citou um estudo do MIT como alerta…
só 4% dos projetos de IA chegam à produção.
O resto é promessa, slide bonito, demo controlada e pouco valor real. Para Nigel, isso é sintoma clássico de bolha… valuations irracionais, rodadas seed para empresas sem produto, sem receita, apenas com tese.
A conversa então migrou para cripto, e aí veio a lucidez de quem mudou a própria opinião.
Um ano atrás, Nigel achava stablecoins uma ideia mais elegante do que prática. Agora, afirma sem hesitar… o uso disparou pelo mundo. Pessoas de países instáveis convertem moeda local para USDC como forma de proteção e transferência internacional. Virou ferramenta de sobrevivência financeira.
E veio outro número preciso…
250 mil pessoas no mundo possuem mais de 1 milhão de dólares em Bitcoin.
E quase nenhuma quer vender, para evitar imposto. Isso está criando um novo mercado de crédito colateralizado em BTC, como sempre fizemos com ouro.
Quando o debate chegou no embate entre bancos e fintechs, Nigel trouxe o dado mais estrutural… Serviços financeiros movimentam 14 trilhões de dólares por ano.
E tudo o que chamamos de fintech representa apenas 3% disso. Mas cresce 21% ao ano, enquanto os bancos crescem 6%.
Para Nigel, é um experimento darwinista ao vivo…
Fintech inova, banco protege território.
Fintech erra rápido, banco não pode errar.
E quem entende evolução sabe que velocidade vence escala.
A parte mais dura veio quando ele falou de sociedade. Nigel não floreou nada…
Milhões de empregos de call centers vão desaparecer. 70% dos cargos de colarinho branco podem sumir, segundo Dario Amodei, CEO da Anthropic.
Ele falou de carros autônomos da Waymo em Los Angeles e do impacto sobre motoristas, entregadores, logística inteira.
E ainda reforçou… o Gini Index, que mede desigualdade, tende a piorar.
A tecnologia abre o fosso antes de criar pontes.
Mesmo assim, Nigel enxergou luz onde normalmente só vemos sombra. Ele disse que todas as transições históricas foram assustadoras… agrícola, industrial, informacional. E que sempre surgiram novas funções, novos negócios, novas maneiras de viver. Ele citou os grandes cases europeus… Revolut, Monzo, Klarna, ClearScore… como lembrete de que empreendedorismo sempre encontra caminho.
No fechamento, Nigel entregou o mapa do que realmente atrai capital hoje…
embedded finance, stablecoins e inclusão financeira.
E confessou sua própria ambição… impactar 1 bilhão de vidas.
Já está em 600 milhões graças a Capital One, Klarna, Credit Karma e outras.
O restante virá, segundo ele, da Europa, Índia, Nigéria e mercados emergentes.
A crônica termina aqui, mas a sensação no auditório foi clara…
Não estamos assistindo mudanças.
Estamos dentro delas.
E, no fundo, a pergunta que Nigel fez há décadas volta com força… o que você guarda na carteira, nos seus dados e na sua visão… é suficiente para atravessar o próximo ciclo?