Presidente da Oracle no Brasil, Alexandre Maioral sabe conciliar o melhor da tecnologia com o foco nas pessoas. Sua gestão humanizada é referência num setor onde o olhar mais técnico predomina.
Pense em alguém que gosta de contato com as pessoas. Dificilmente você formará na mente a imagem de um profissional voltado para a tecnologia de ponta. De Exatas. Mas existe gente extraordinária, capaz de unir um conhecimento técnico ímpar com uma visão muito humanizada de gestão e de vida.
Alexandre Maioral é um desses indivíduos iluminados. Ao longo de sua trajetória profissional, que acabou culminando com a cadeira de presidente da Oracle (especializada no desenvolvimento e comercialização de hardware e de software), sempre buscou se aproximar das equipes e abrir caminhos de crescimento para as pessoas, com um estilo acolhedor e motivador também.
Saiba mais sobre a carreira e o estilo
de liderança desse executivo nesta entrevista exclusiva.
EMPRESÁRIO DIGITAL Queria que você primeiro falasse sobre a sua trajetória, desde o seu começo até a posição que você ocupa agora.
ALEXANDRE MAIORAL Eu nasci em Curitiba, fiz um curso técnico em eletrônica, que era o equivalente ao segundo grau, e depois fui para a engenharia.
Nesse período eu já comecei a trabalhar com tecnologia, com empresas de automação, e meu primeiro emprego foi fazer manutenção de placa eletrônica dos produtos de automação com os quais a gente trabalhava. Ficava sozinho ali, apenas o osciloscópio, o multímetro e eu. E isso foi um período importante da minha vida, porque com duas, três semanas fazendo essa atividade solitária, eu percebi que queria ver gente, falar com as pessoas. E aí me colocaram para fazer suporte técnico de campo. Depois o pessoal gostou da forma que eu estava agindo e fui para uma outra parte, que era de treinamento para o ecossistema da empresa, em que eu tinha mais contato ainda com pessoas, não só com clientes, mas com todos que se relacionavam com o negócio.
EMPRESÁRIO DIGITAL Houve um período de intervalo na sua carreira em que você foi empreender, correto?
ALEXANDRE MAIORAL Sim, foi exatamente nessa época, eu ainda estava na engenharia e acabei fazendo migração para o empreendedorismo. Fui fazer festas, eventos, tinha um bar-restaurante no centro gastronômico e de balada de Curitiba. Foram cinco anos, o período em que mais trabalhei com a diversidade das pessoas e me preparou para a liderança. Foi o que realmente me moldou. Só que acabei cansando, porque trabalhava de dia na administração, à noite na operação de todos os eventos, do bar, do restaurante… Até que um grande amigo me convidou a trabalhar na empresa do pai dele, que por acaso era uma parceira da Oracle. Foi quando me reconectei fortemente com a tecnologia.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como foi
essa volta?
ALEXANDRE MAIORAL Fiquei um tempo nessa empresa, já mais preparado para gerir pessoas, até que a IBM me contratou, e passei sete anos lá. Após esse tempo, recebi o convite para vir para a Oracle e, numa entrevista de cinco minutos com a pessoa que me contratou, 13 anos atrás, já me apaixonei pela empresa. Vi que era aqui que eu queria fazer meu plano de vida.
EMPRESÁRIO DIGITAL O que te impressionou tanto?
ALEXANDRE MAIORAL Existem vários pontos de sinergia na forma como a Oracle atua. Desde os estagiários até o time executivo, todo mundo está focado em executar, com um DNA de alta performance. Aqui eu me encontrei. E tive a oportunidade de passar por várias áreas na companhia. Entrei como vendedor de contas estratégicas, que era um grupo pequeno, passei para contas muito grandes aqui do Brasil. Na sequência, eu assumi uma vice-presidência, já na América Latina, para a solução de customer experience da Oracle. Passei dois, três anos nisso, voltei para o Brasil como vice-presidente de tecnologia. Então, saí de tecnologia e fui para a área de aplicativos. Até que, quando estava no segundo, terceiro ano disso, recebi o convite para assumir a presidência da Oracle do Brasil, da operação inteira.
EMPRESÁRIO DIGITAL Esse seu gostar das pessoas, você acha que é o que tem a ver com a gestão humanizada que faz parte da sua característica de liderança?
ALEXANDRE MAIORAL Tem tudo a ver. Como disse Simon Sinek, os investidores são pessoas, os colaboradores são pessoas, os clientes são pessoas. Então, se você não gosta de pessoas, você não entende de negócios. Mesmo com toda a tecnologia, são pessoas que estão do outro lado procurando algum tipo de objetivo. E a gente entender e cuidar dessas pessoas nos traz mais sucesso como resultado. Também acho que sempre existiu uma confusão a respeito de liderança humanizada. Durante muitos anos, confundiu-se gentileza com fraqueza. Mas agora vejo esse tabu se quebrando com muita força. Para você ser um CEO de uma companhia, não precisa ser um super-homem nem esconder o quanto você é vulnerável em alguns pontos. Eu acho que é o contrário. Mostrar que você é humano e que pode errar te deixa muito mais forte diante da equipe que você está liderando.
EMPRESÁRIO DIGITAL Que experiências você acha que moldaram essa sua visão de liderança humanizada? Principalmente no campo da transformação digital.
ALEXANDRE MAIORAL Começou na minha infância. Meu pai é psiquiatra. Daí vem uma questão de querer entender o ser humano. E ele sempre falava uma coisa para mim que ficou muito marcada: o maior segredo da humanidade é a relação humana. Não importa se é entre pai e filho, marido e mulher, irmãos, líder e liderado. É aí que está o maior segredo.
E como eu liguei isso com tecnologia? As minhas experiências de liderar equipes de alta performance sempre foram de sucesso onde eu cuidei melhor das pessoas. Onde eu me interessei, realmente tive o ouvido ativo, de escutar quais eram os objetivos de cada um, as fortalezas de cada um… para poder complementar com as fortalezas de outras pessoas da equipe. E essa diversidade conseguiu trazer a transformação que a gente queria.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como as tecnologias podem ajudar na melhoria da sociedade e do meio ambiente?
ALEXANDRE MAIORAL Acho que tecnologia pode ajudar em tudo. A gente tem um grupo aqui, os trainees da companhia, que, pela situação de algum colega, resolveu fazer um projeto de identificar antecipadamente o câncer de mama. E estão usando inteligência artificial, uma outra solução nossa de saúde, para poder conectar isso e antecipar o diagnóstico. E o projeto nasceu de uma geração nova chegando, que é apaixonada por tecnologia, mas quer resolver problemas da humanidade. Ninguém da liderança pediu isso. Eles viram o problema de alguém próximo e resolveram fazer. A Oracle fomenta muito o intraempreendedorismo. Tentamos empoderar as pessoas para isso.
EMPRESÁRIO DIGITAL Quais são os principais desafios para as empresas quando elas começam a adotar tecnologias avançadas, como inteligência artificial?
ALEXANDRE MAIORAL Acho que o principal desafio é a cultura. É o medo, o receio que o ser humano tem de sair da zona de conforto e aprender coisas novas. E ter que fazer de forma diferente. Isso gera uma resistência. Então é preciso treinar essas pessoas, explicar, dar visibilidade do porquê de essas tecnologias estarem sendo implementadas. Quando as pessoas resistem, você pode ter a melhor tecnologia do mundo, ela vai estar fadada a falhar. Agora, quando as pessoas estão engajadas para aquilo dar certo, os benefícios são absurdos.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como você vê um treinamento adequado para desenvolver pessoas e equipes de alto desempenho?
ALEXANDRE MAIORAL Aqui eu vou falar um pouco da minha experiência e o que a gente faz na Oracle. A primeira coisa é uma avaliação na escolha das pessoas em relação a soft skills e hard skills. Soft skill são os valores. São coisas mais difíceis de você treinar.
Porque as pessoas vêm das bagagens que tiveram na vida delas. O hard skill é a parte técnica. A gente consegue treinar as pessoas mais facilmente. Então, a primeira coisa que a gente olha é o soft skill. Esses valores. Inclusive é a forma como a gente hoje contrata os nossos trainees aqui. A atitude é muito importante. Se as pessoas que escolhemos têm as habilidades, as atitudes de querer correr atrás, de aprender, de conhecer, de crescer, fica muito mais fácil.
E uma outra parte de treinamento é não achar que há uma vacina para tudo. Procuramos entender quais são as debilidades de alguns e as fortalezas de outros, até para achar mentores para esse grupo que precisa de algum ajuste para desenvolver alta performance.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você pode compartilhar exemplos de políticas eficazes que você implementou para maximizar o potencial das equipes por meio do treinamento?
ALEXANDRE MAIORAL Há uns quatro anos, juntamos os trainees da época e vimos que precisávamos de diversidade na companhia. Eram sempre as mesmas pessoas, das mesmas faculdades, das mesmas classes sociais.
Então chamamos esses jovens e lhes demos um desafio de implementar um projeto para isso. Após cerca de dois meses, eles voltaram com o projeto, de fazer a seleção tirando qualquer viés de preconceito. Avaliando valores e atitudes das pessoas. Do grupo que entrou passando por essa seleção, a grande maioria está aqui com a gente, são funcionários aqui da Oracle, e trouxeram uma diversidade muito grande. Não só diversidade de mulheres, pessoas pretas, mas diversidade de bagagem, de conhecimento, de geografia.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como a empresa pode criar um ambiente acolhedor e que dê segurança psicológica para os colaboradores?
ALEXANDRE MAIORAL Acolher os colaboradores é algo complexo, porque todas as empresas são focadas em negócio, elas precisam existir, precisam cobrar, ter alta performance. Mas na Oracle fazemos esse acolhimento empoderando as pessoas, dando espaço para que criem, possam ter voz ativa, inclusive com críticas do que acontece para que a gente possa melhorar sempre.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como você engaja uma pessoa sem dar ascensão hierárquica para ela?
ALEXANDRE MAIORAL Com reconhecimento. E reconhecimento não é dar um cargo. É reconhecer perante as pessoas, perante a empresa, a habilidade ou algo de diferente que algum colaborador está fazendo. Eu não preciso dar mais dinheiro, mais posição, cargo.
Eu preciso reconhecer as pessoas.
É óbvio que dinheiro é importante, é óbvio que continuar crescendo e fazer uma carreira é importante. Mas eu falo muito aqui dentro que pensar o tempo todo em fazer uma carreira não é muito legal. O mercado muda o tempo todo. Principalmente quando a gente fala em tecnologia. Então eu pontuo muito para todos aqui que façam um plano de vida. É você se preparar sempre, querer aprender, conhecer e se preparar para coisas novas. Assim, no momento que as oportunidades aparecem, você tem as competências para fazer e crescer.
EMPRESÁRIO DIGITAL Qual é o seu estilo de abordagem para dar um feedback construtivo para as pessoas?
ALEXANDRE MAIORAL Feedback sempre é complicado. Geralmente quem está recebendo o feedback acha que está sendo criticado. Mas a minha abordagem é muito de transparência. Num feedback com alguém do time, eu falo das fortalezas que a pessoa tem e mostro que as debilidades não são a porção maior daquela pessoa, mas elas precisam ser redirecionadas. É preciso ter aprendizagem para que essas debilidades não comecem a influenciar a fortaleza da pessoa. E eu também peço um feedback ao contrário. Como eu posso melhorar o seu dia a dia aqui? Aprendi muito com isso. Vários feedbacks reversos que eu recebi foram construtivos.
EMPRESÁRIO DIGITAL Eu queria que você comentasse sobre iniciativas sociais e projetos comunitários que realmente têm impacto.
ALEXANDRE MAIORAL A gente tem algumas, mas eu queria destacar a educação. Criamos, em 2019, um programa chamado ONE, que é o Oracle Next Education. Qual é a ideia? É chegar em pessoas que não tiveram acesso à educação de qualidade para treinar tecnologia, empreendedorismo, desenvolvimento Java… Isso com algumas trilhas que a gente tem, que formam um curso totalmente gratuito e online, de mais ou menos 600 horas de duração. A pessoa sai preparada para iniciar um trabalho no mundo de tecnologia.
Só que o programa não é só sobre educação, é para empregar as pessoas. Então, fizemos parcerias com uma série de clientes nossos, parceiros nossos, que se comprometem de, numa abertura de vagas, colocar uma porcentagem desse grupo formado no ONE.
Para você ter uma ideia, das 60 mil pessoas que se formaram pelo ONE, 10 mil foram contratadas.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como essa responsabilidade social, que às vezes vem da liderança, às vezes vem do RH, passa a impregnar realmente a cultura da empresa?
ALEXANDRE MAIORAL Essa responsabilidade passa a fazer parte da cultura da empresa quando a gente empodera e traz as pessoas para serem aliadas. Temos uma área de voluntários aqui, e eles participam, escolhem as frentes, as trilhas que eles querem, que se conectam genuinamente com o que eles acreditam. E fazer parte dessas trilhas, automaticamente, de uma forma muito natural, entra na cultura dessas pessoas.