ABTCP aponta vocação natural do setor de papel e celulose para atuar na área de combustíveis renováveis
Para a ABTCP (Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel), a indústria de celulose e papel possui diferenciais competitivos em relação às outras indústrias, por contar com biomateriais que podem ser explorados pelo setor. No Brasil essa indústria é uma das maiores do mundo e detém desenvolvimento tecnológico bastante significativo, capaz de tornar realidade a implementação de biorrefinarias nos parques fabris, em busca de uma competitividade ainda maior aliada à sustentabilidade.
Segundo a ABTCP, as operações de celulose e papel em plantas com o conceito de biorrefinaria – unidade industrial que converte biomassa em energia e produtos refinados – agregaria valor à cadeia de produção do setor. Isso porque ela não só permite a geração do vapor a partir da gaseificação do licor negro, mas também possibilita a obtenção de etanol, biodiesel, tall oil, dimetil éter e outros produtos, que, assim como o papel e a celulose, podem ser comercializados.
Isso já vem acontecendo com alguns produtores de papel e celulose europeus, os quais utilizam a biorrefinaria em suas plantas para transformar a lignina, os carboidratos, as gorduras e outros componentes da biomassa em produtos úteis. Há casos inclusive de uso da lignina na fabricação de tall oil – componente usado em biodiesel de segunda geração (combustível gerado a partir de resíduos, rejeitos ou de produtos não comestíveis) e em aplicação de química fina.
No entanto, para viabilizar as biorrefinarias no Brasil, são necessárias não só pesquisas e a definição de objetivos tanto pelo governo quanto pelas indústrias, como a otimização do consumo energético das indústrias. “A energia poupada significará insumo valorizado como produto a ser vendido em nossas biorrefinarias no futuro”, afirma Lairton Leonardi, presidente da ABTCP.
Os maiores desafios a serem superados pela indústria de papel e celulose na implementação de biorrefinarias e no processamento da biomassa a partir da lignocelulose estão baseados no desenvolvimento de estratégias para a produção de plataformas químicas de moléculas; aplicações de plataformas químicas para a produção de especialidades químicas e hidrocarbonetos; estratégias para a desconstrução de biomassa; métodos para a combinação de hidrolíticos e termoquímicos em biorrefinarias totalmente integradas; implementação de processos combinados com o desenvolvimento de esquemas de separação e purificação de produtos e metodologias para a utilização de lignina.
Na produção de tall oil, por exemplo, é sabido que o produto de maior qualidade é produzido exclusivamente de celulose kraft de madeira de pinus, que possui resina e ácidos graxos ideais para a produção do produto. As árvores desta espécie ocupam 404 mil hectares, o que corresponde a 18,4% das áreas de florestas plantadas que abastecem as fábricas de celulose instaladas no Brasil. “As possibilidades são amplas. Por isso não podemos continuar utilizando o licor negro e a biomassa única e exclusivamente para a geração de energia. É preciso um olhar diferente para as mesmas coisas, a fim de observar nossos negócios sob um enfoque novo”, conclui Leonardi.