A pergunta da maioria dos meus interlocutores nos últimos meses é a mesma: quando você acha que a crise vai passar? Quase sempre minha resposta era que eu adoraria enxergar por uma bola de cristal para ter certeza, mas que não via um cenário de mudança no curto prazo. Porém, tudo ficou mais claro quando tivemos acesso a um estudo da Ipsos sobre os cenários econômico, político e social colocados em perspectiva, analisando os acontecimentos dos últimos 10 anos e como eles, na ponta, influenciaram a decisão de consumo, e a partir deste histórico, como o futuro tende a se desenrolar.
Tirei duas certezas dos dados aos quais você terá acesso nesta quarta e quinta-feira em duas reportagens especiais assinadas pela nossa repórter Priscilla Oliveira (assinantes terão a apresentação completa do Pulso Brasil, da Ipsos). A primeira é que não devemos aguardar por uma alteração política ou econômica antes de 2018, ainda que um impeachment aconteça. Se houver uma substituição no Planalto, até que se desenrole o processo, um novo comandante assuma, comece a governar, conquiste a confiança de todos e implemente ações que traga luz ao fim do túnel, já teremos percorrido um par de anos no passo que anda o toma-lá-dá-cá de Brasília.
Para o caso de Dilma permanecer no Palácio da Alvorada, vamos nos arrastar no estado em que estamos até que as eleições de 2018 traga alguma esperança de mudança. Primeiro porque as chances de um sucessor de da Presidente vencer são remotíssimas, praticamente nulas conforme mostra a Ipsos. Segundo: ainda que os virtuais candidatos em 2018 não representem nenhuma salvação instantânea ou se assemelhem ao jogo político corrupto que temos vivenciado, os brasileiros ainda mantêm uma esperança no futuro e, historicamente, conforme mostra o Pulso Brasil, temos importantes alterações econômicas e sociais de quatro em quatro anos. Isso quer dizer que a recessão econômica vai nos acompanhar até 2018. E, dado que estamos perto ou já chegamos ao fundo do poço, a tendência é que haja uma melhora. Ou, no máximo, mais uma piora para depois os índices apontarem para curvas positivas.
A segunda certeza é de que não temos mais incertezas do que pode acontecer no País. E isso faz toda a diferença. Os cenários acima descritos são claros. Por causa deles estamos em recessão, desinvestimentos, quebra de empresas (de janeiro até agora quase 500 mil pequenas e médias empresas fecharam as portas), com inflação em alta, desemprego e com a mais baixa confiança de consumo de todos os tempos. São estes ingredientes que estão em nossas mãos para planejar. São estes os desafios que temos que vencer. Não são poucos e não são fáceis, mas é que temos hoje.
O principal combustível do motor de crescimento no Brasil foi frontalmente abalado e apresentará índices piores a cada mês, com a alta da inflação e do desemprego.
O consumo das famílias, e em especial da Classe C, já apresenta baixas. Os volumes estão diminuindo. As trocas por preço aumentando. A disposição para gastar cada vez menor. Enquanto isso, aumenta o trabalho que as empresas precisam fazer vender. Não é de hoje que vemos um consumidor mais exigente. Virou até lugar comum falar sobre isso, mas o histórico do Pulso Brasil deixará isso claro.
O caminho apontado pela Ipsos é segmentar e entender os compradores. Além de ter a melhor oferta, produto, serviço e marca – que faz ainda mais diferença em tempos difíceis – as empresas precisam localizar dentro de seus clientes aqueles mais propensos a adquirir o que se está vendendo.
As ações de Marketing de boa parte das grandes companhias já foram alteradas. Vemos a comunicação da Fiat com um foco grande na crise e um Burger King intensificando a distribuição de cupons de desconto pelas ruas da cidade e em metrô. Não dá para ficar parado. Todo dia tem que ser uma segunda-feira. O cenário está pintado. Só falta você fazer a moldura.
Por Bruno Mello