Você sabe: negro em cargo de liderança nas empresas é coisa rara de se ver. Uma exceção que confirma a regra do racismo estrutural que predomina na sociedade brasileira. Segundo dados levantados pela revista Você S/A no fim do ano passado, no nosso mercado de trabalho, os brancos representam 70,6% das contratações para cargos de chefia. Os negros? 3,6%. No estado de São Paulo, em 2019, dos 58 mil profissionais que foram promovidos a posições de liderança, apenas 4% eram negros. Uma disparidade se você lembrar que, nesse estado, 34% da população é negra.
Parte do problema é a falta de mão de obra qualificada, já que negros predominam entre a gente pobre do país, sem acesso a uma faculdade de primeiro nível. Mas a outra parte é o nosso conhecido racismo, que diariamente frustra negros qualificadíssimos em entrevistas de emprego ou na hora de escolher qual colaborador vai ficar com a vaga de chefe. Nesse caso, além do absurdo que é preterir alguém por causa da cor da sua pele, há um desconhecimento básico das vantagens de contar com mais negros em suas equipes – e chefiando essas mesmas equipes.
O estudo “Diversidade Importa”, da consultoria americana McKinsey & Company, revelou que empresas com mais diversidade racial e étnica têm 35% mais probabilidade de ter retornos financeiros acima da média dos segmentos em que atuam.
O mesmo estudo apontou que, nos Estados Unidos, há uma relação linear entre o sucesso da empresa e a diversidade racial em cargos de liderança: para cada 10% de aumento na diversidade racial entre os executivos sênior, o lucro antes de juros e impostos aumenta 0,8%. “A maioria das organizações deve fazer mais para aproveitar ao máximo a oportunidade que as equipes com diversidade na liderança representam”, recomendam os autores do estudo.
“Isso é particularmente verdadeiro para seus pipelines de talentos: atrair, desenvolver, orientar, patrocinar e reter as próximas gerações de líderes. Dados os retornos mais altos que se espera que a diversidade traga, acreditamos que é melhor investir agora.” Mas por que organizações com maior diversidade são mais bem-sucedidas? A diversidade, em geral, leva a mais pontos de vista e mais ideias, uma vantagem competitiva que está na origem de melhores produtos e serviços. Além disso, a população negra representa, cada vez mais, uma base importante de consumidores.
Ter negros decidindo sobre estratégias relacionadas a esse público é algo mais que sensato: é imprescindível. Para quem não acredita na consultoria sobre a urgência de se ter líderes negros nas organizações, vale outra informação: empresas com menor diversidade terão cada vez menos investidores.
Um sinal disso já foi dado pela BlackRock, a mais importante gestora de ativos do mundo, que tem sua sede em Nova York. Um relatório recente do conselho de administração da companhia afirma que, para uma empresa receber investimentos da gestora, ela precisa publicar dados que comprovem a diversidade de raça entre seus funcionários. Deu para entender, né? Se sua empresa, por qualquer motivo, mantém os negros distantes dos cargos de chefia, ela está ficando para trás. Porque a diversidade racial no mundo corporativo não é só uma questão de buscar a necessária igualdade de oportunidades entre seres humanos.
É também uma questão de quem vai ter mais condições de lucrar com a criatividade e inteligência que esse mix produz. Preconceito, além de cruel, agora significa rasgar dinheiro.