É muito comum o conceito de que “todos devem fazer de tudo” no começo de uma startup e a afirmação é correta em sua essência, porque espera-se que em uma empresa deste tipo, todos estejam dispostos a sair de suas áreas e atividades específicas e possam colaborar com o negócio no que for necessário. Entretanto, isso não significa que não deve existir, desde o início, uma divisão clara das responsabilidades de cada um dos sócios fundadores para com o negócio, preferencialmente alinhada com suas habilidades e competências. Até porque, é esse conjunto de habilidades que norteou a participação do sócio na sociedade.
Aliás, problemas decorrentes da não divisão de responsabilidades claras entre sócios, são temas comuns em empresas de quaisquer tamanhos e, nas empresas maiores, muitas vezes são a fonte de desentendimentos, términos de sociedade ou mesmo de má performance da organização como um todo.
Tendo esse conjunto de coisas em mente: (1) que os sócios de uma startup têm habilidades e competências específicas, que são os ativos que eles aportam na sociedade e (2) que a falta de divisão de responsabilidades é um problema estrutural a ser resolvido para evitar problemas no futuro, imaginamos um modelo de distribuição de Equity (participação acionária) em uma startup que leva em conta essas duas questões e pode ser empregado de forma objetiva na definição do papel de cada sócio, seu impacto para a sociedade e, ao mesmo tempo o benefício e o prêmio econômico gerado para o sócio.
Para os efeitos deste artigo, entenderemos Equity como o conceito relacionado ao meio empresarial e a participação dos shareholders de uma empresa. Nesse sentido, Equity é entendido como a parcela que corresponde a cada um dos sócios de uma companhia. A distribuição de Equity pode ser uma boa estratégia para impulsionar o crescimento das organizações, motivando seus sócios a buscarem resultados cada vez melhores.
Em uma das mais importantes pesquisas sobre o assunto, realizada pelo Instituto Rutgers, da Universidade de Nova Jersey, nos EUA, foi possível identificar que as empresas que compartilharam Equity com seus colaboradores têm 25% mais chance de permanecer no mercado, além de obter uma melhora da produtividade de cerca de 5% ao ano e aumento das vendas em até 2,4% anuais.
Entretanto, como frequentemente acontece, o desgaste gerado no processo de divisão do Equity pode gerar conflitos entre os sócios e acabar minando as possibilidades de sucesso do empreendimento. Nas empresas já consolidadas, por exemplo, a distribuição do Equity entre os seus sócios já está consistente e a inclusão ou não de outras pessoas, tipicamente envolve operações de compra e venda entre os sócios ou investimentos de terceiros (não vamos abordar aqui os planos de stock option e partnership, que visam incluir colaboradores no quadro acionário da companhia como uma forma de retenção, recompensa e incentivo de longo prazo; deixaremos isso para um artigo futuro).
Porém, nos casos das empresas que estão iniciando as suas atividades, a distribuição do Equity pode ser um pouco mais complexa, pelas diferentes participações dos seus sócios e, sobretudo, pelo seu potencial de crescimento no mercado onde elas (as empresas) atuam. Portanto, é fundamental realizar a distribuição do Equity através de uma metodologia que possibilite a todos os associados participarem e entenderem a avaliação das respectivas partes, de forma clara e justa.
Dessa forma, propomos um modelo de atribuição bastante simples e muito útil nestes casos. Vejamos como funciona.
- Separe a contribuição para o Equity em duas grandes variáveis: dinheiro (50%) e contribuição da forma de trabalho (50%);
- No caso monetário, a participação é binária – dos 50%, cada sócio recebe Equity proporcional ao valor investido no negócio. Se nenhum entrou com capital, então a divisão aqui é proporcional;
- Agora, vamos à segunda variável: força de trabalho. A primeira coisa é listar todas as áreas de negócio (funções) da empresa e pedir que cada um dos sócios dê notas relativas, da maior importância para a menor importância, para cada uma dessas áreas. A ideia é que se forem 5 áreas temos notas de 1 a 5, sendo 5 a de maior importância e 1 a de menor importância na visão daquele sócio. Uma vez que todos os sócios repetirem o processo você terá um conjunto total de notas e terá uma soma de notas para cada função da empresa. Isso definirá a importância relativa daquela função para o negócio, na visão coletiva dos sócios.
Por exemplo, supondo que foram elencadas três áreas principais da empresa, dê notas de 1 a 3, cinco áreas, notas de 1 a 5, e assim sucessivamente.
Após isso, some as notas relativas a cada área e divida pelo total de notas atribuídas somadas. No caso, se a área de vendas totalizar sete de um total de 15, então você divide sete por 15 e obterá o peso relativo de importância daquela área, no caso, 0,4667 = 46,67%. Agora, com essa definição cabe aos sócios definirem qual o papel de cada um na sociedade e, ao fazê-lo, aquele sócio recebe a participação que foi definida de acordo com esse método de distribuição.
Longe de ser perfeito, esse modelo tende a objetivar as discussões relativas às participações dos sócios com base no valor gerado por eles para a sociedade e evita uma discussão “igual” de participações.
Por mais que possa parecer justa, divisões iguais dificilmente capturam a realidade, pois nos médios e longos prazos, as contribuições dos sócios não são iguais e as importâncias das áreas tampouco são idênticas no que se refere ao sucesso do negócio.
Assim, no final do dia, o que é “aparentemente simples e justo” vira uma armadilha de desalinhamento entre a percepção de valor das pessoas e o valor efetivamente percebido por elas, o que é uma das principais causas raiz dos conflitos societários.