Como diria Mário de Andrade, em O valioso tempo dos Maduros, “Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para viver a partir daqui, do que o que eu vivi até agora”
Eu me sinto como aquela criança que ganhou um pacote de doces: o primeiro comeu com prazer, mas quando percebeu que havia poucos, começou a saboreá-los profundamente. Estou lambendo as embalagens, aproveitando cada segundo ou, ainda me apropriando das palavras do Mário de Andrade, sinto que estou roendo os caroços.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis em que são discutidos estatutos, regras, procedimentos e regulamentos internos, sabendo que nada será alcançado, ou para aquelas reuniões que poderiam ser um e-mail.
Não tenho mais tempo para apoiar pessoas absurdas que, apesar da idade cronológica, não cresceram.
Meu tempo é muito curto para discutir títulos, tenho pouco interesse no cargo que você ocupa ou em quantos funcionários você tem. Eu quero a essência, eu quero saber quem você é, seus sonhos, seus planos.
Minha alma está com pressa… Sem muitos doces no pacote… Quero viver ao lado de pessoas humanas, muito humanas, defeituosamente humanas. Que sabem rir dos seus erros. Que não ficam inchadas com seus triunfos e conquistas. Que não se consideram eleitos antes do tempo, que não caem no conto de ser o escolhido. Que não ficam longe de suas responsabilidades.
Que defendem a dignidade humana e querem andar ao lado da verdade e da honestidade, gente que não tem medo de dar de cara com o lado feio da vida.
O essencial é o que faz a vida valer a pena.
Quero cercar-me de pessoas que sabem tocar os corações das pessoas…
Pessoas a quem os golpes da vida, ensinaram a crescer com toques suaves na alma. Sim, estou com pressa, meu pacote de balas está ficando vazio, minha bacia tem mais caroços do que cerejas… Estou com pressa para viver com a intensidade que só a maturidade pode dar.
Eu pretendo não desperdiçar nenhum dos “doces” que eu tenha ou ganhe…
Tenho certeza de que eles serão mais requintados do que os que comi até agora.
Meu objetivo é chegar ao fim satisfeita e em paz com meus entes queridos e com a minha consciência.
Nós temos duas vidas e a segunda começa quando você percebe que você só tem uma.
No fim, tudo que temos que fazer é decidir o que fazer com o tempo que nos é dado.
Esse texto foi inspirado pelo poema “O valioso tempo dos maduros” de Mário de Andrade.