Em 1947, a participação da indústria no valor adicionado à economia brasileira foi de 11% do PIB. No ano de 2014, a indústria nacional deteriorou 67 anos, “involuindo” a meros 10,8% de representatividade do PIB. Em 2016 estima-se que a indústria corresponderá a menos de 9% do PIB (dados apresentados por Luiz Guilherme Schymura, diretor do IBRE / FGV).
É evidente que todos os setores da economia sentem profundamente os impactos da desindustrialização. No setor de embalagens flexíveis, etiquetas e rótulos, isso não será diferente.
O processo de desindustrialização numa economia considerada “madura” é algo natural – em países onde a renda per capita atingiu patamares na ordem de USD 19 mil. No Brasil, a indústria começou a encolher quando ainda não havíamos sequer superado os USD 7,5 mil, o que sugere algo precipitado – uma retração muito longe do pleno potencial ou ápice da atividade industrial.
Rumamos para o setor de serviços, em searas que não geram emprego suficiente e de qualidade, tais como a financeira, vigilância, comunicação etc. (uma análise apresentada por Nelson Marconi, coordenador do Centro de Estudos sobre economia brasileira da FGV).
Em edições passadas, discorremos algo sobre os diversos fatores atribuídos a este fenômeno: a apreciação cambial de outrora, o “custo Brasil”, a falta de uma política orientada ao desenvolvimento industrial, as lacunas infra estruturais dentre tantos outros temas.
Trazendo o problema para a nossa realidade setorial, a indústria convertedora vem diminuindo sobremaneira na última década. Em parte, pelo processo de consolidação do segmento, como também o aumento gradual e expressivo das concordatas.
Houve ainda uma fragilização cada vez maior da posição do convertedor em sua cadeia, espremido de um lado pelo oligopólio das matérias-primas (principalmente as resinas termoplásticas) e, pelo outro, seus clientes (os brand owners ou donos de marca), que também tiveram que consolidar-se mundialmente para enfrentar à altura as grandes cadeias varejistas. Não se consegue mais repassar integralmente os sucessivos aumentos das matérias-primas e os custos para se manter no jogo só aumentam (licenças de operação, mão-de-obra, energia, requisitos de segurança das máquinas e equipamentos, sistema da qualidade etc.).
Ano após ano, indústrias têm morrido na praia. O mecanismo de controle fiscal e tributário da máquina pública ganhou eficiência a níveis inimagináveis (não é à toa que ostentamos o título de maiores pagadores de impostos do mundo), dificultando a vida de competidores que obtinham resultado operacional em estratagemas não ortodoxos. Esta “moralização forçada” do mercado também contribuiu com a redução do número de indústrias em diversos setores, incluindo o nosso.
Lembro-me que, na ocasião de prestar consultoria industrial em um cliente há alguns anos, este reclamava muito da derrocada dos preços, praticada especialmente por empresas quebradas que ainda estavam operando. O cliente havia apelidado estes concorrentes de “mortos-vivos”. E, a bem da verdade, há cinco ou seis anos atrás o setor era quase um episódio de “The Walking Dead”. Todavia, muitos destes mortos-vivos pararam de sair de seus respectivos túmulos.
Em 2016, haja o que houver – a menos que algo miraculoso para o bem ou para o mal (uma hecatombe nuclear, um novo dilúvio, uma invasão alienígena ou a chegada do Messias) mude completamente o curso dos acontecimentos, sabemos que teremos um ano muito, muito difícil.
O PIB será negativo e a discordância é somente em quanto ele o será. A maioria das previsões sugere algo igual ou menor a menos 3%. Sabemos que todos os principais índices econômicos e de confiança também serão negativos e que as únicas coisas em franca expansão são a taxa de desemprego, a inflação, a dívida pública em todos os seus aspectos, o dólar frente ao real, o número de vezes em que o Brasil será mencionado por escândalos de corrupção nos noticiários em todo o mundo, o estresse e desconforto generalizados da população em respeito a um cenário tão nebuloso.
O que todos estes itens comungam entre si é que são externalidades. Portanto,…
Por Aislan Baer
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