A sala estava cheia, os olhos atentos. Marc Tawil, com sua eloquência quase teatral, pintava um quadro que misturava a urgência do presente e o futuro nebuloso também para as indústrias. Não falava apenas à Associação Alemã de Fabricantes de Máquinas e Instalações Industriais, a VDMA; falava para todos nós, presos nessa engrenagem do tempo, entre o ontem e o agora.
Não somos os mesmos de quatro anos atrás. E como poderíamos ser? A pandemia não foi apenas um vírus, mas um divisor de águas. Trouxe consigo o trabalho remoto, esse híbrido inquieto entre a sala de estar e o escritório, e a ascensão de algo que, dois anos atrás, nem sequer sabíamos nomear: inteligência artificial generativa. “ChatGPT”, ele mencionou. Um nome que permeia cada conversa, entre elogios e temores sobre um futuro onde humanos e máquinas se fundem.
Mas a análise não parou por aí. Tawil observou as guerras, dentre elas a crise climática que já não bate à porta, mas invade sem cerimônia. Enchentes no Rio Grande do Sul, secas no sul da França. O mundo está desabando. E ainda assim, no meio desse caos, tentamos construir algo novo. Ou, pelo menos, evitar que tudo desmorone.
As gerações foram outro ponto de reflexão. Da Geração Silenciosa, baby boomers, X, Y, Z, alfas até o conceito de geração de transição, formada por pessoas de todas as idades que enfrentam um momento de transformação coletiva no mundo digital e híbrido. Cada uma com suas demandas, cada uma uma ilha cercada por desafios. Crianças com telas na mão e algoritmos na mente convivem com aqueles que ainda enxergam as máquinas como ameaças. Um campo de batalha entre o analógico e o digital, onde o tempo e a tecnologia ditam as regras.
E o trabalho, sempre ele. A âncora das nossas vidas. Tawil propôs uma atualização de identidade. Como softwares que precisam de upgrades, não somos os mesmos. Nem poderíamos ser. Não temos mais um ponto final. Só reticências. Como se definisse a era em que vivemos.
A inovação, nesse contexto, ganha novos contornos. Ela não é mais apenas criar; às vezes, é melhorar o que existe ou destruir para reconstruir. Tawil mencionou Uber, iFood, os super aplicativos que transformaram o modo como nos movemos e nos alimentamos. E lançou a pergunta: nao da para imaginar um mundo sem eles? O silêncio da sala foi a resposta mais honesta.
Mas a tecnologia, ele lembrou, é apenas um espelho de quem somos. Ela é moldada por medos, desejos e necessidades humanas. Tawil trouxe à tona o etarismo, um preconceito tão sutil quanto cruel, que marginaliza os mais velhos e despreza os mais jovens. Vivemos o paradoxo de idolatrar os jovens de 60 e descartar os de 20, deixando no ar a urgência de um equilíbrio que ainda parece distante.
O tema inevitável é a colaboração. Não como escolha, mas como condição. Sem ela, tudo desmorona, deixando claro que o sucesso não está nos algoritmos ou nas máquinas, mas nas conexões humanas.
A sala, antes tensa, se abriu. Havia algo libertador na sua mensagem, uma permissão para sonhar com um futuro diferente, mas não sem esforço. Quando terminou, os aplausos vieram, não apenas pelo que foi dito, mas pelo que ficou implícito.
Estamos em transição. A direção ainda é incerta. A colaboração pode ser o caminho, mas quem ousará liderar?