O dono do segredo

Alto executivo do Google para a América Latina, David Politanski tornou-se sócio-proprietário de um impressionante bar (quase) secreto, acessível apenas a um grupo muito exclusivo de influenciadores, empresários, artistas e outras personalidades. Para chegar ao Sweet Secrets, é preciso ser convidado por um desses privilegiados. Ou ser um deles.

A primeira impressão que se tem é de estar numa parte da Fantástica Fábrica de Chocolate, aquela do cinema, comandada pelo excêntrico Willy Wonka. A decoração tem muito rosa, lembrando chicletes, e há vitrines com doces à venda. Mas essa não é uma doceria como as outras. Embora realmente funcione como comércio, é apenas a fachada que esconde um mistério bem guardado: um grandioso bar, por trás da pequena loja, ao qual só chega quem faz parte de uma lista muito vip de membros (ou convidados desses membros): influenciadores, expoentes em seus ramos de atividade, gente interessante e bem relacionada.

Somente esses privilegiados passam por uma espécie de portal (um corredor escuro que lembra ambientes de parque de diversão) e são convidados a montar um cavalo de carrossel que atravessa o pequeno túnel. Ao final desse curto trajeto, há um bar extraordinário. Lá dentro, a arquitetura e a decoração nada têm a ver com a da doceria. Estamos em outro universo, tão fascinante quanto cheio de mistérios – a que este repórter teve acesso fora do horário de funcionamento.

Sobre ele, só posso dizer que você não vai encontrar no Instagram de ninguém, porque, assim que o cliente desce do cavalo de brinquedo, é gentilmente orientado a ter a câmera do seu celular tampada por um adesivo. Não são permitidas fotos ali. Nem vídeos. Trata-se de um bar secreto. Para poucos. Seu endereço não é divulgado, e suas atrações só estão registradas na memória de quem teve (ou tem) a sorte de estar na lista.

O Sweet Secrets é uma experiência exclusiva de entretenimento pensada em cada detalhe por seu empreendedor, David Politanski. Um feito ainda maior quando se sabe que, além de investir e se envolver completamente na montagem do espaço, Politanski passa a maior parte de seu tempo como alto executivo de uma das maiores empresas do mundo, o Google: ele é Head de Vendas para PMEs para Google Cloud, na América Latina.

Um pouco mais sobre esse empreendimento raro, caro leitor, você vai saber agora pelas palavras do próprio David Politanski. Além de explicar a inspiração que o levou a montar um bar secreto, o sócio-proprietário conta como consegue conciliar essa dupla atividade, de empresário da noite e executivo do Google.

EMPRESÁRIO DIGITAL O Sweet Secrets não é o primeiro bar no qual você investe. O que te atraiu para

esse ramo?

DAVID POLITANSKI Desde o meu período de faculdade, sendo que eu fiz o Insper, sempre gostei do setor de entretenimento. Na Atlética, eu já era o diretor de eventos. Depois comecei a ajudar amigos a organizar alguns, até que realizei um evento próprio. Sempre me interessei por motivar alguém a sair de casa para se divertir, ter uma noite agradável e uma experiência boa. E aí surgiu a oportunidade de investir em bar. Hoje sou sócio-investidor de dois grupos de bares: o Seu Justino e o Trabuca. E gostei de entender como esses grandes grupos funcionam, como trabalham os conceitos de bar-restaurante ou bar-balada… então fui aprendendo muito.

Era uma coisa de que eu gostava desde jovem e, quando tive a oportunidade, comecei a investir.

EMPRESÁRIO DIGITAL Qual foi a inspiração para criar um bar secreto?

DAVID POLITANSKI Depois de entrar para o ramo, gostar desse setor e ver que tem um potencial financeiro também, eu cultivava o sonho de criar o meu próprio bar. E eu não queria só criar mais um bar, eu queria algo fora da caixa, algo único no Brasil. Viajo muito a trabalho, minha esposa é blogueira, a gente acaba conhecendo coisas incríveis pelo mundo, e é daí que vêm as inspirações. Eu nem gosto de chamar o Sweet Secrets de bar, prefiro “experiência”, porque a pessoa vai ter uma experiência inesquecível durante a noite. De tudo o que eu vi pelo mundo, o conceito de bar secreto foi o que trouxe uma experiência mais diferenciada: desde você não saber onde é, ter de pesquisar, chegar ao lugar e se deparar com um ambiente que não tem nada a ver com o que você esperava. E nesse ambiente ter de descobrir como entrar, com quem falar, e ao entrar ter um contraste com o que você viu na área externa. A principal inspiração para ser um bar secreto é de Nova York, onde houve a Lei Seca entre 1920 e 1930, quando eram proibidos o consumo e a produção de bebida alcoólica. Então naquela época havia bares e destilarias escondidos dentro de business normais, como restaurantes, padarias e lojas. Dessa inspiração, surgiu o conceito de speakeasy, que hoje não é mais secreto porque haja alguma proibição, mas secreto por outros motivos. Aqui a ideia não foi copiar nenhum desses que eu vi, mas criar um para São Paulo, ter um conceito e a grandiosidade de um projeto com o qual você se impressiona. Eu sentia falta desse lugar único na cidade, dessa referência que todos querem conhecer.

EMPRESÁRIO DIGITAL Sendo secreto, como vocês fizeram para selecionar e atrair as primeiras pessoas a passar por essa experiência?

DAVID POLITANSKI Pouca gente sabe, mas o Sweet Secrets, além de uma experiência secreta, é um members club, um clube de membros. Inicialmente as pessoas foram selecionadas a dedo; eu e meu sócio, Felipe Lombardi, escolhemos as cem primeiras, gente influente, mas pedindo para ser convidadas de novo, voltam, trazem pessoas interessantes… Essas são as próximas. E eu, proativamente, chamo para ser membro.

EMPRESÁRIO DIGITAL Que medidas vocês tomam para que continue secreto?

DAVID POLITANSKI O segredo continua bem guardado. Você não acha o endereço do bar nas redes sociais, não vê fotos do projeto em nenhum lugar. Não divulgamos o endereço, a pessoa realmente precisa conhecer alguém para vir. Além disso, em toda a comunicação, desde a reserva, no momento em que o convidado ou membro chega à loja de doces e ao entrar no ambiente secreto, falamos que é proibido tirar fotos e colocamos um adesivo na câmera do celular de cada um. Por ser um clube de membros, está havendo um respeito a essa regra. Ninguém quer prejudicar a pessoa que a convidou para essa experiência. Já na doceria, é tudo liberado, fotos, vídeos… todas essas pessoas interessantes e influentes que vêm tiram fotos desse ambiente bem cor de rosa. Isso chama atenção.

EMPRESÁRIO DIGITAL O que você pode revelar do tipo de experiência que o Sweet Secrets proporciona?

DAVID POLITANSKI É uma experiência completa. Desde descobrir o segredo do bar, o portal que é a loja, a passagem secreta… E aí você chega a um ambiente que é o contrário do que a pessoa vê antes da entrada: ela vive a Nova York dos anos 1920 e 1930. O que eu posso dar spoilers é que pensamos em cada um dos pilares para a pessoa ter uma noite incrível. Desde a arquitetura até a mixologia. Contratamos o terceiro melhor mixologista do mundo, o Aaron Diaz, que deu todo o treinamento para nossa equipe, montou a operação de bar, criou drinks autorais, todos servidos em peças de artistas peruanos, que a gente importou. Na gastronomia, todo o nosso cardápio foi criado pelo Luiz Filipe Souza, que é um chef Michelin e deu a consultoria. Temos ainda uma experiência artística, contamos com uma diretora de arte e atores contratados, que fazem interações com o público. Quase todas as noites temos música ao vivo e DJs convidados… e outras atrações que vou deixar para a imaginação de quem quiser conhecer. A ideia é haver uma curva de experiência. Não adianta nada a pessoa chegar a essa loja incrível, entrar por uma passagem secreta e depois ter uma noite convencional. Então, durante toda a noite, eu tento manter aquela sensação de energia positiva.

EMPRESÁRIO DIGITAL Como sua experiência de Head de Vendas para PMEs para Google Cloud, na América Latina, contribui para esse lado empreendedor no ramo de bares?

DAVID POLITANSKI De diversas maneiras. Eu tive a oportunidade de liderar um time global, antes dessa posição, e com isso tive experiências fora do país, gerenciando times de outros lugares do globo, e isso te mostra um tanto da cultura internacional. Além disso, o Google sempre busca excelência em tudo. Isso reflete aqui, na equipe, na seleção de cada pessoa que possa oferecer excelência de atendimento, de gastronomia, no administrativo… Ser alguém que faz gestão de pessoas no Google me ajuda a liderar pessoas num projeto como esse.

EMPRESÁRIO DIGITAL No Google você tem um alto cargo, que com certeza te demanda bastante. E aqui você participou de todo o conceito, das atividades… Como você consegue conciliar essas duas coisas?

DAVID POLITANSKI O Google é meu foco principal, onde eu passo a maior parte do meu tempo. No Sweet Secrets, eu busquei uma liderança de alta excelência para o bar logo poder funcionar sozinho. No começo demandou muito tempo e foco, que tomou todas as minhas horas extras. O Google é onde minha cabeça está 100% no horário comercial. Aí, as noites, madrugadas e finais de semana são para esse empreendimento. É puxado, corrido, mas é uma paixão. Eu tenho uma paixão enorme por trabalhar no Google e tenho paixão também por ter criado um empreendimento dessa proporção, e que está indo tão bem. Por mais que o tempo seja escasso e o dia a dia, bem desgastante, essa paixão me dá a recompensa por ter poucas horas de descanso.

EMPRESÁRIO DIGITAL Fale um pouco sobre sua trajetória de carreira. Como chegou a essa atividade no Google?

DAVID POLITANSKI Fiz o Insper, que é muito focado no mercado financeiro, então foi aí que eu comecei. Mas em pouco tempo vi que não era exatamente o que eu queria no longo prazo para minha carreira. E passei a ser headhunter do mercado financeiro. Era para uma startup inglesa, então não era tão focado em buscar candidatos, e sim em novos contratos. Mas, desde que comecei a trabalhar, me interessava mais pela área de relacionamento, a área comercial. Gostei muito de headhunting porque é uma grande escola de venda: o produto é uma pessoa, e o que você está vendendo para essa pessoa é uma mudança de vida. Mas também vi que não era o que eu queria para o longo prazo. Sempre fui apaixonado por tech, me descobri na área de vendas, então fui buscar na área de tech uma função de vendas. E foi aí que achei o Google. Comecei com novos negócios de pequenas empresas e em pouco tempo bati recordes na América Latina, ganhei destaque internacional e fui promovido para lidar com grandes clientes, ainda no Brasil. Então tive muito destaque de novo, o que me deu essa oportunidade de liderar o time global, para otimizar a performance de todos os times em todas as regiões. Depois da América Latina, passei um mês em Nova York, um mês em Dublin, que é o headquarter da Europa, e aí seis meses na Ásia. Singapura, Tóquio, Sydney… Essa experiência internacional me deu muita visibilidade, me fez entender muito a cultura de outros países, mas também saber como lidar com lugares únicos e específicos. Cada país da Ásia é um mundo diferente: a maneira como vai ligar para o cliente, fazer o follow-up, cobrar alguém… Para cada uma dessas culturas, você tem de se adaptar. Não pode achar que, porque deu certo na América Latina, vai replicar a estratégia. É muito mais o caso de escutar para então adaptar a sua estratégia de modo a maximizar a receita desses países. Depois de um ano, voltei ao Brasil, ainda na mesma equipe, e fui convidado a liderar o time de Google Maps da América Latina. Passei quatro anos nessa função, um produto bem conhecido, e recentemente mudei para head de vendas para PMEs do Google Cloud, liderando uma equipe que gerencia a base de clientes para a América Latina. E ainda arrumo tempo para me dedicar a essa paixão que é meu bar secreto.

Confira a entrevista em vídeo.

Mais em

Outubro 2024

Publicidade

Newsletter

Ao se cadastrar você declara concordar com nossa Política de Privacidade.