Em 2010, enquanto o mundo ainda lidava com as consequências da Crise Financeira Global, soube da criação do Bitcoin logo no seu início. Interessei-me e estudei sobre o assunto. Dois conceitos me chamaram bastante a atenção: uma regra fixa de criação de quantidade limitada da nova moeda e uma tecnologia de criptografia que permitiria que ela pudesse ser emitida, transacionada e guardada no meio digital, sem nenhum governo por trás (Blockchain).
O primeiro conceito me conquistou de cara. Naquele momento, era claro para mim que a única forma de evitar uma nova Grande Depressão seria que governos e bancos centrais em todo o mundo dessem estímulos fiscais e monetários em magnitude nunca antes vista. Em português claro, eles teriam de encher o mundo de dinheiro; como efetivamente fizeram nos anos seguintes e, mais recentemente, em escala ainda maior, em resposta à crise econômica causada pela pandemia do coronavírus.
Em sua essência, economia é uma ciência simples, apoiada em uma única regra: quando a oferta aumenta, o preço cai. O contrário acontece quando a oferta cai e vice-versa. Isto determina o preço de produtos, serviços, imóveis, salários, taxas de juros e de câmbio.
Em função do aumento substancial da oferta de moedas como dólar, euro, real e outras, eu sabia que o preço de todas elas em relação a outros ativos teria de cair. Assim, uma nova moeda que por regra não teria grande aumento de oferta – como o Bitcoin – deveria subir significativamente de preço em relação às tradicionais, ao longo dos anos seguintes.
À época, achei eu, o problema poderia estar na procura por essa nova moeda. Será que as pessoas colocariam seu dinheiro em um ativo que poucos entendiam exatamente como funcionava e que fora supostamente criado por um tal de Satoshi Nakamoto, que ninguém sequer sabe se realmente existe? Será que o Bitcoin seria aceito como meio de pagamentos?
De lá para cá, meus medos se provaram infundados. As criptomoedas têm se tornado cada vez mais aceitas e regulamentadas, com crescente número de empresas que pagam salários e investem nelas. No último trimestre, todo o lucro da Tesla originou-se de seus investimentos em criptomoedas e venda de créditos de compensação de emissão de carbono.
Criptomoedas e tokens possibilitam projetos que vão da preservação da Amazônia a ativos ligados ao futebol, viabilizando transações e investimentos, mesmo de valores baixos. Podem ser comprados e vendidos com facilidade e segurança e
guardados digitalmente através de plataformas como o Mercado Bitcoin – a maior plataforma de criptomoedas e ativos digitais na América Latina.
Para completar, as taxas de juros – que haviam se tornado negativas até em países desenvolvidos na mesma época da criação do Bitcoin – também ficaram negativas no Brasil e causaram forte desvalorização do Real. Investidores brasileiros também buscaram outros tipos de investimentos.
Em 2010, até pensei em comprar Bitcoins. No entanto, o medo de que ninguém os quisesse no futuro ou de que alguém sumisse com os meus ativos, somado ao fato de eu não saber exatamente como comprar e guardá-los, me fizeram não comprar. Naquele momento, 1 Bitcoin custava US$0,01 ou R$ 0,017. Atualmente, custa cerca de R$300 mil. Naquela época, R$100 investidos, valeriam aproximadamente R$175 milhões hoje. Desde a criação, o Bitcoin passou por várias correções de preço de mais de 80%, três delas só nos últimos oito anos.
Dessa oportunidade que perdi e de todo o dinheiro que eu poderia ter ganhado, tirei cinco lições importantes:
- Há 11 anos, deveria ter feito um pequeno investimento em Bitcoin a longo prazo, com muito pouco a perder e uma eventual possibilidade de ganhar muito;
- Criptomoedas já estão maduras o suficiente para serem encaradas como uma classe de ativos a receber alocação em carteira de investidores, condizente com sua volatilidade e correlação com outros ativos e também com o perfil de risco de cada um;
- O investidor tem que estar preparado para correções cíclicas muito significativas de preço. Grandes correções ocorrerão de tempos em tempos;
- Em toda classe de ativos há os bons e os maus. A longo prazo, é provável que muitas criptomoedas deixem de existir. Outras permearão cada vez mais nosso dia a dia e, compensando a volatilidade no meio do caminho, terão valorizações estelares;
- Hoje, estou convencido de que as criptomoedas vieram para ficar e compõem uma classe de ativos que precisa ser conhecida por qualquer um que tem um dinheirinho para investir.