Igor coelho partiu do sucesso do seu Flow Podcast para criar um ecossistema de programas do tipo na internet, criando um hub para os conteúdos mais interessantes (e atraentes para publicidade) das redes sociais.
Acompanhar a carreira de Igor Coelho, mais conhecido como Igor 3K, é ver um caso raro de comunicador irreverente e sem freios na língua que, em cerca de dois anos, mudou a história dos podcasts no Brasil, juntando uma veia empreendedora com a preocupação de nunca perder o espírito de se divertir com o que faz.
O que antes era unicamente o Flow Podcast, um programa descontraído, e muitas vezes polêmico, com uma linguagem coloquial e que trata de qualquer assunto interessante, agora se tornou o maior hub de podcasts do país. Tudo obra de uma cabeça que pensa sempre em estender as possibilidades de seus programas, construindo um ecossistema que vai de conversas de esporte a, num futuro breve, apresentações ao vivo.
Igor não ficou alheio às demandas desse crescimento e buscou profissionalizar processos. Um marco dessa virada foi a contratação de Sarah Buchwitz, ex-VP de marketing da Mastercard, para ser a nova CEO do Grupo Flow.
Saiba, nesta entrevista exclusiva, como um modelo de conteúdo disruptivo na internet soube se reinventar a cada dia para se tornar um chamariz de anunciantes. E isso sem nunca perder a sua essência.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como você descreveria agora o tamanho e o alcance do Flow após o crescimento desse business?
IGOR COELHO Esse alcance e tamanho hoje são alinhados com o que estávamos querendo fazer quando começamos a pensar na possibilidade de um ecossistema e de um mercado de podcast. Quando começamos a ganhar dinheiro, pensamos que poderíamos ser donos de um bolo inteiro pequenininho ou de uma fatia de um bolo muito maior – a partir do momento que existe um mercado, que existe gente olhando para isso como uma possibilidade para anunciar ou para fazer um projeto. Nesse momento, começamos a expandir e a criar programas para que fosse viável um mercado ali, e começamos a ajudar outros que estavam surgindo também. Então, hoje, o Flow funciona como um hub que facilita a criação de conteúdo. Por enquanto, muito focado no podcast, mas também com outras possibilidades.
EMPRESÁRIO DIGITAL Pode dar um exemplo?
IGOR COELHO No Flow Sport Club, que começa como um podcast com convidados, focado em esporte, hoje há dentro dele outros programas focados em outro tipo de conteúdo que não
necessariamente o podcast. É isso que a gente está tentando fazer. A Flow House, que está prevista para este ano, vai ser um lugar onde conseguiremos fazer isso de uma forma física. Vamos ter um espaço para apresentações ao vivo, então eu poderia fazer um programa lá, um show de comédia, alguma coisa assim. Estamos tentando mexer na comunicação do Brasil de uma forma mais autêntica, porque talvez a autenticidade seja a palavra-chave dos próximos anos.
EMPRESÁRIO DIGITAL E aí você também sai um pouco desse papel do cara que mais aparece, e divide esse espaço com outros para criar um ecossistema de mídia completo, correto?
IGOR COELHO Olha, existe um cenário em que eu vou saindo do set, e esses outros do nosso entorno vão tomando esse lugar. Eu tenho o meu espaço aqui e já existem outros programas que se parecem com o meu. Mas eu acho que, para surgir programas que conversam com uma quantidade maior de especialidades, está mais difícil, porque já existem alguns programas consolidados no Flow. E ainda há um mar de possibilidades de conteúdos a serem criados, que explorariam outras possibilidades, ou até alguns nichos dentro dos nichos. Por exemplo, temos um programa que trata de esportes. Mas dentro dele ainda não temos, por exemplo, um que trata só de tênis. E, se é possível criar um conteúdo que seja relevante e referência dentro
desse pequeno nicho, já é algo que tem a possibilidade de se tornar viável, a partir do momento que você consegue monitorar a sua própria audiência. Então tem um caminho para seguir ainda.
EMPRESÁRIO DIGITAL Na sua visão, até onde vai o negócio dos podcasts? Qual é o limite?
IGOR COELHO Acho que vai longe, porque esse tipo de conteúdo tem uma característica interessante: ele é mais sólido quando a gente está falando de uma geração de autoridade. Não é à toa, por exemplo, que vemos um cara que é coach ou está tentando vender algum produto, e no perfil dele há uma simulação de que está num podcast, falando uma parada seríssima, com legenda e tudo. O podcast também pode
ser um primeiro passo numa estratégia de marketing digital. E outras coisas são possíveis, mas talvez a mais óbvia e eficiente seja a monetização pela própria base. Se você criou uma comunidade interessada que o seu conteúdo continue existindo, ela financia. Algo que é extremamente comum em mercados mais desenvolvidos digitalmente, como nos Estados Unidos.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como você identifica o seu público no YouTube para mostrar aos seus anunciantes?
IGOR COELHO Temos algumas ferramentas para isso, e as próprias redes sociais entregam para nós. As pessoas que nos assistem já inseriram os dados ali e já fizeram sua conta. No YouTube, temos uma ferramenta bastante completa, com
informações de idade, de região, de interesses, que nos ajuda a entender quase que perfeitamente quem é o nosso público. Geralmente está na faixa de 18 a 35 anos, é um jovem adulto, com mais homens. Para estender esse público, o primeiro programa que colocamos dentro da nossa casa foi o Venus Podcast, para o público feminino.
EMPRESÁRIO DIGITAL Essa amplitude que você está dando agora para esse ecossistema também é uma forma de atingir outras marcas anunciantes? E você acha que algumas marcas têm restrição ao Flow?
IGOR COELHO Eu não sei se eu tenho restrição. Mas a verdade é que eu não sei se há uma sensação geral de que o Flow Podcast em si é um lugar seguro. O que eu quero dizer com isso? Os episódios numerados do Flow Podcast são sagrados para mim.
Então tem um monte de coisa de que eu não abro mão. Por exemplo, uma marca não pode jamais me pedir para eu fazer uma inserção no meio do programa, porque eu não vou fazer. Não tem conversa. Também não aceitamos de a marca pagar para trazer uma pessoa. Mesmo que seja uma pessoa famosa. Se eu não quiser e a pessoa também não quiser, eu prefiro não ganhar esse dinheiro. Assim como tem um monte de marca que olha para mim e pensa que eu não sou seguro. Isso porque não sabe direito qual é a minha linha, vê que eu já conversei com Lula e com Bolsonaro. E eu entendo. Espero que o que estamos construindo consiga capturar esse valor que foi gerado. Entendeu? E nesse sentido tem funcionado.
EMPRESÁRIO DIGITAL E você está fazendo algum trabalho para demonstrar que é seguro?
IGOR COELHO Ultimamente, eu tenho estado mais disponível para participar de conversas ou reuniões, estar em ambientes em que eu vou encontrar pessoas para dizer o que estamos fazendo, o que é o Grupo Flow. Então, estar presente, trocar essa ideia dá uma relaxada. É impressionante como começa a destravar.
EMPRESÁRIO DIGITAL Igor, na sua visão, existem alguns nichos de mercado que se beneficiariam mais de explorar esse mundo digital?
IGOR COELHO Eu acho que, em 2024, se qualquer negócio não está no digital, ele está agindo errado. E eu estou falando da padaria do bairro, de tudo. Precisa estar no digital. Principalmente as marcas que estão se propondo a trocar ideia com a galera que é jovem, de até 35 anos. Inclusive, experimentando coisas que não
experimentaria ou que não faria na TV. Eu gosto mais ainda da ideia de contar uma história digital, sabe? Uma história usando um criador. A comunidade que aquele criador construiu. Porque, como eu disse, a gente sabe quem é a nossa comunidade. E é com quem a gente se comunica com mais assertividade. Acho que é mais uma questão de modernização da galera que toma decisão. De o cara entender que existe um caminho que tem tudo para ser muito mais eficiente. E mais barato também.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como o Grupo Flow está funcionando como negócio e como essas áreas se conectam à proposta de valor que você tem?
IGOR COELHO O tamanho que a gente tem hoje às vezes dá uma assustadinha. Porque, se a gente for pensar do ponto de vista de como as coisas funcionam na internet, tivemos um crescimento, eu diria, natural. Mas, quando você transporta isso para o mundo real, foi muito rápido. Saímos de um conjunto de 15 pessoas, com todo mundo morando na mesma casa, almoçando junto, para 180 pessoas. E isso em um ano e meio. Passamos de um faturamento X para um faturamento 10 X. Então as coisas foram tomando uma proporção diferente muito rapidamente. O momento do grupo é justamente esse de se tornar mais eficiente, mais profissional e com os objetivos mais claros. Com mais responsabilidade no sentido de negócio. Até outro dia, estávamos dirigindo o negócio apenas com as pessoas que estavam aqui desde o começo. O Phoenix, que está à frente do Flow Games hoje, ele não era a melhor escolha de um executivo de um canal de games.
Era o cara que já estava conosco, viu o grupo crescer, participou da criação, botou uma grana junto com a gente, e está nessa posição fazendo um excelente trabalho. Não fui no mercado buscar. Mas agora estamos indo ao mercado para outras posições.
EMPRESÁRIO DIGITAL A chegada da Sarah Buchwitz, que era VP de marketing da Mastercard, para ser CEO do grupo, foi um marco dessa virada, correto?
IGOR COELHO Sim. Um marco na mudança de um negócio familiar, meio sem processo, para um business que tem auditoria, uma estrutura cada vez mais profissional.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você começou todo esse trabalho e agora tem uma CEO ao seu lado. Como é a relação entre vocês?
IGOR COELHO Não é justo dizer que eu fiz tudo isso sozinho. Lá no começo mesmo estávamos eu, o Monark e o Gian. E, assim, as decisões eram sempre em comitê. Já tirei par ou ímpar, já joguei moeda muitas vezes para decidir as coisas. Hoje eu sou o cabeça. Então eu tenho uma visão de como é que a gente vai fazer a parada. Mas eu não tenho o conhecimento que o Andre Gaigher [chefe de curiosidades e conselheiro do Grupo Flow, além de ser o antigo CEO da empresa] tem, por exemplo. Ele chegou meio despretensiosamente, com a ideia de fazer um programa, que hoje virou o Flow S.A., e se tornou o nosso executivo.
Foi ali que a gente começou a organizar o negócio. Setorizar, delegar, contratar. Com a chegada do Gaigher, começamos a enxergar novas possibilidades. Ao mesmo tempo, o objetivo mesmo era fazer um bagulho sensacional; ficar rico era a meta 3 ou 4. Foi mais ou menos nesse contexto que a gente convenceu a Sarah a vir para cá. Ela chegou para trabalhar com a gente, trazendo sua bagagem de executiva da Mastercard, e se encaixou. Eu a vejo defendendo a gente com propriedade. Ela já é brother também.
EMPRESÁRIO DIGITAL E quais são as suas principais expectativas em relação ao trabalho dela para os próximos tempos? Em relação à diversificação de plataformas, à construção desse ecossistema?
IGOR COELHO Temos muito claro qual é o objetivo do Grupo Flow, onde queremos chegar, e ela faz parte desse caminho, porque tem um conjunto de habilidades que a gente não tinha. Ela conhece todo mundo. Outro dia comentamos que, se tivéssemos uma conversa com uma empresa X, muita coisa destravaria, e ela disse que a CEO da empresa era amiga dela, e iria tomar café na quinta-feira. O fato de ela ter sido executiva há 20 anos ajuda para caramba. Já estar familiarizada com a coisa mais profissional… aliás extremamente profissional.
Não queremos virar Mastercard, mas nos tornar mais eficientes.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você tem sempre uma informalidade muito grande, assim, nas suas conversas, e agora trouxe o jornalista Carlos Tramontina, que vem de um trabalho mais ligado à tradição. Como você espera que seja o tratamento de conteúdo do Flow News?
IGOR COELHO O “Tramonta” faz parte da concepção da coisa. Já fazia um tempo que nós queríamos fazer algo com bancada, com jornalista comentando. E o Tramonta estava querendo fazer uma parada para internet. Trocamos uma ideia e decidimos fazer com ele. Vem junto a credibilidade de toda a carreira dele. Aí, juntando com a força da minha marca, o Flow News é um pé na porta. Prova que não somos só uns doidos da internet.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como você vê o Grupo Flow daqui dez anos?
IGOR COELHO É muito difícil dizer, porque não sei como a tecnologia vai estar, como o mercado vai estar, como o país vai estar. Mas estou muito feliz com a caminhada que a gente construiu. E ela só está começando. Espero que a gente sempre mantenha o espírito do começo, de fazer um troço maneiro, para se divertir.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você já disse que se sente um pouco desconfortável nas férias, porque o seu mundo é este trabalho aqui. Considera-se um workaholic?
IGOR COELHO Não sei se sou workaholic, mas eu tenho uma ligação com este negócio que é quase de pai e filho. É estranho de explicar. Eu só penso no Flow Podcast. O tempo inteiro. Toda hora estou imaginando como deixá-lo ainda melhor. E aí vem um monte de crise existencial. Será que eu sou bom o suficiente para fazer isso? Mas devo ser. Porque quando estou no Flow Podcast é o momento em que estou sendo eu de verdade.