Acordo Mercosul-UE enfrenta oposição crescente liderada por CEOs franceses
A resistência francesa ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia ganhou novo impulso com o posicionamento de Olivier Leducq, CEO da Tereos, uma das maiores cooperativas agrícolas da França. Em publicação recente, Leducq destacou preocupações com a “concorrência desleal” que o pacto traria ao setor agrícola europeu, devido às diferenças regulatórias entre os blocos.
A Tereos possui uma operação robusta no Brasil, com faturamento de R$ 6,7 bilhões na safra 2023/2024. O grupo processou 21 milhões de toneladas de cana em sete usinas no estado de São Paulo, consolidando-se entre os cinco maiores do setor no país. A receita é derivada da venda de açúcar, etanol e bioenergia, com destaque para práticas sustentáveis que têm sido um pilar da atuação da empresa no Brasil.
A manifestação de Leducq reforça uma sequência de posicionamentos críticos de grandes empresas francesas, incluindo Danone e Carrefour, que recentemente restringiram compras de soja e carne do Mercosul, alegando questões ambientais e de rastreabilidade. A França, representando a segunda maior economia da União Europeia, pressiona outros países-membros a reavaliar os termos do acordo.
Enquanto isso, o Brasil busca anunciar a homologação do pacto durante a próxima Cúpula do Mercosul, em dezembro. O acordo é defendido por líderes europeus como Olaf Scholz e Ursula von der Leyen, que veem no tratado uma oportunidade de ampliar o comércio entre as regiões.
A Tereos também enfrenta pressão no mercado brasileiro após a declaração de Leducq. Setores agrícolas e consumidores sugeriram boicotes aos produtos da marca, incluindo o açúcar Guarany, o segundo mais vendido no Brasil. A empresa emitiu nota esclarecendo que o comentário buscava discutir diferenças regulatórias que impactam a competitividade entre os blocos e não questionava a qualidade dos produtos brasileiros.
O mercado agrícola sul-americano movimenta cifras expressivas. Apenas o futebol, por exemplo, registra R$ 52,9 bilhões anuais, representando 0,72% do PIB brasileiro. O setor agropecuário, responsável por grande parte das exportações do bloco, continua sendo um dos principais motores econômicos da região, enfrentando resistência crescente de competidores globais.