Um dos maiores especialistas em comércio eletrônico do país, autor do best-seller Bora Vender, Alfredo Soares aponta: a evolução dos empresários determinará quais negócios sairão melhores da quarentena.
Como empresário que precisa lidar com um momento inédito neste século, de lojas físicas fechadas, indústrias hibernando, consumidores em modo de espera, preferindo investir somente no que é essencial… qual tem sido a sua reação a tanta incerteza? Recolheu-se no seu canto, como a economia em geral, esperando essa fase terrível passar? E se demorar para passar? (E o provável é que demore mesmo.)
Claro, cada caso é um caso. Mas, seja para se preparar para um momento melhor, seja para se reinventar agora ou respirar fundo e tocar o negócio adiante, só a inércia é imperdoável. Segundo nosso entrevistado desta matéria de capa, “a melhor estratégia é a atitude”. E ele pode dizer isso porque é um case de sucesso movido a iniciativas, um empreendedor que chega cada vez mais alto sempre vislumbrando o futuro com os pés fincados no autoconhecimento. E que agora ensina outros a empreender e a ter êxito em seus negócios – por meio de palestras, lives, livros e uma escola voltada para empreendedores e executivos.
O jovem empresário carioca Alfredo Soares passou por uma série de transformações profissionais ao longo da vida.
Começou a trabalhar na adolescência, criava e vendia cartões de visitas no Rio de Janeiro, até que montou um portal com soluções de marketing para pequenas empresas. Sempre indo adiante, transformou seu negócio em uma plataforma de hospedagem de sites, a Xtech – que, em três anos, movimentou R$ 547 milhões em vendas. Fez tanto sucesso que, em 2017, foi adquirida pela gigante Vtex, o maior nome do e-commerce da América Latina, da qual Alfredo agora é sócio-diretor.
Sempre inquieto, decidiu colocar todo o conhecimento adquirido ao longo dessa trajetória num livro, e isso mudou tudo (de novo): Bora Vender virou best-seller, vendeu mais de 50 mil cópias e o transformou numa autoridade nacional quando se trata de vendas e empreendedorismo. Na obra, ele explica que “vender deixou de ser a troca de produtos ou serviços por dinheiro e tornouse encantamento, conquista, fidelização e alinhamento de interesses”. Também diz que você deve valorizar a história do seu empreendimento, “pois atuar com propósito alivia o peso de rotinas operacionais”.
No mesmo ano em que lançou o livro, Alfredo Soares criou uma escola de imersão e mentoria em negócios, a Gestão 4.0, na qual tem como aliados Tallis Gomes, da Easy Taxi, e Bruno Nardon, do Rappi. Agora, com um segundo livro prestes a sair do forno, Alfredo Soares conversou com a reportagem da Empresário Digital. Compartilhou conosco o que vem aprendendo (e ensinando) neste período de isolamento social, e deixou uma mensagem para nossos leitores: “Não importa o segmento, a quarentena precisa ser marcada pela evolução das empresas e pessoas. O resultado de cada negócio é o efeito colateral do desenvolvimento das pessoas por trás dele”.
EMPRESÁRIO DIGITAL – Você começou cedo, fazendo cartão de visitas… Como descobriu a vocação para o empreendedorismo e as vendas? ALFREDO SOARES – Para isso, vou explicar o tipo de vendedor que eu sou. Porque há vários tipos de vendedores. No passado, todo cara muito simpático, que tratava bem as pessoas, era visto como um bom vendedor. Hoje em dia, vender está muito mais ligado à entrega do que à venda em si, é uma operação que se transformou numa jornada. E você tem, dentro de uma jornada de venda, vários processos. A empatia é um deles. E eu sempre tive esse lado da empatia, do carisma, de ser acessível, de aprender por meio de conversa. A famosa cara de pau. Então acabei me tornando um profissional muito vendedor por conta disso, pela vontade de atender os outros e de resolver problemas. Esse é o grande papel do vendedor hoje: resolver ou apontar a solução do problema do cliente.
ED – Qual a diferença entre uma pessoa que quer abrir um negócio e um verdadeiro empreendedor? ALFREDO SOARES – Eu acho que o empreendedorismo é um estilo de vida, assim como ser fitness, ser vegano… É um estado de espírito, mas que precisa estar sempre em treinamento, sempre sendo alimentado por você. Esse treinamento pode vir na forma de enfrentar problemas do seu negócio, empenhar-se para ser um indivíduo de alta performance, ser um cara positivo… Esse é o grande desafio, e a mídia acabou percebendo isso. Qual o perfil da pessoa que faz crossfit? É alguém que quer se superar o tempo todo, que quer romper os limites, solucionar seus problemas com força. Já o empreendedor, para mim, é o sujeito que vai resolver as coisas sempre com otimismo, com resiliência. E esse espírito empreendedor tem de ser cultivado o tempo todo.
Quando a gente vendia site, eu comecei a observar que as pessoas estavam, cada vez mais, querendo um espaço digital com mais informação, desejavam aproximar seus sites do que elas tinham no negócio físico. Foi só questão de acompanhar uma tendência que eu identificava no dia a dia, que eu via acontecer na minha frente.
ED – Que atitudes podem ajudar um negócio de ecommerce durante esta pandemia?
ALFREDO SOARES – A atitude mais positiva que você pode ter agora é não criar expectativas, trocar essa expectativa por otimismo, e se aproximar das pessoas, que são a grande fonte de inspiração e criatividade neste momento. Ter foco também ficou mais importante do que nunca. Numa situação dessas, você não pode errar muito, não deve ficar tentando atirar para tudo o que é lado.
ED – Neste momento sem loja física, um tráfego excessivo na rede pode ser um desafio para o ecommerce?
ALFREDO SOARES – Acredito que, mais do que na tecnologia, a gente pode ter algum gargalo na logística. E deve haver alguns pontos de gargalo quando a gente estiver falando em conversão, em muitas pessoas navegando. Mas a própria economia vai fazer com que os processos de compra mudem bastante. Por exemplo, outra questão iminente é o custo da mídia.
Cada vez mais, usar o digital para distribuir algo passa a se tornar um padrão, porém também um grande desafio, porque as pessoas estão se acostumando com o conteúdo. Precisa ser tudo muito legítimo para atrair atenção das pessoas. E o custo da mídia digital, automaticamente, vai aumentar bastante. Também é preciso levar em consideração que a quantidade de pessoas entrando não é proporcional ao número de consumidores entrando.
ED – Que líderes têm feito a diferença neste momento turbulento? ALFREDO SOARES – O Paulo Correa, CEO da C&A, o Alexandre Birman, CEO do grupo Arezzo, o Fred Trajano, CEO da Magazine Luiza… É muito claro para mim que as empresas que sempre trabalharam construindo marcas, tornando-se grandes veículos de comunicação, são as que estão se saindo melhor neste novo momento. E têm maior facilidade de se adequar ao novo consumidor. Acredito que, nesta pandemia, a lição mais importante que a gente tem é que ouvir é a melhor forma de vender. Mais importante que a sua capacidade de comunicação são os seus canais com o seu cliente, é estar próximo dele. Essa tem sido a grande sacada da quarentena, e acredito que o consumidor vai sempre querer buscar marcas, empresas, que o escutem. É a verdadeira troca. Já aquelas empresas que só saem colocando preço, e você compra se você quiser, quando chega um momento desses, a conexão com o negócio cai demais.
ED – O que te levou a ser sócio numa escola para empresários e executivos, a Gestão 4.0?
ALFREDO SOARES – A educação é a ferramenta de transformação mais poderosa que existe. Para a gente mudar o futuro, precisa mudar a base da educação brasileira, precisa ter educação financeira e de empreendedorismo desde a base da pirâmide. A mudança do Brasil, como nação, como comunidade, passa por dar importância à educação. No âmbito dos negócios, quando você quer criar uma empresa poderosa comercialmente, precisa começar a educar o seu mercado.
A educação é a ferramenta de transformação mais poderosa que existe.
Alfredo Soares
Precisa falar com o cara que vai ser o seu futuro cliente. Quanto mais você consegue construir essa estrutura, mais poderosa e conectada é a sua empresa. Então o que a gente faz nessa escola? Começamos mudando a cabeça de líderes, e agora, por meio do online, estamos fazendo isso chegar até os empreendedores, funcionários, e principalmente aos jovens, que são os grandes empreendedores do futuro.
ED – O que processo de escrever o livro Bora Vender te trouxe de aprendizado?
ALFREDO SOARES – Acredito que as pessoas hoje têm uma visão míope sobre aprendizagem. Cada indivíduo tem um processo de aprender diferente. E é óbvio que você precisa treinar e estar sempre mudando seus instintos, evoluindo, e assim criando novas formas de aprendizagem. É necessário entender a si mesmo e compreender como você, individualmente, absorve melhor a comunicação.
Vou dar um exemplo: tem uma pessoa que está dentro do cinema vendo um filme, mas se perde no raciocínio e, se você perguntar o que falaram na cena que ela acabou de assistir, a pessoa não sabe. Ou seja, está olhando para a tela, mas não consegue ler as entrelinhas, pegar detalhes, não entende o contexto. E tem pessoas que são assim na leitura ou quando estão num evento.
Por isso, entender a forma como você aprende é muito importante. E eu aprendi que, escrevendo livro, eu estou revisando tudo aquilo e criando meus conteúdos. O processo de escrever traz uma autorreflexão e um autodesenvolvimento muito grandes. É um momento de superação, de foco, de resiliência. Então acaba se tornando um grande desafio.
ED – E o que você pode dizer sobre o seu livro novo?
ALFREDO SOARES – Eu tive a ideia entre essas muitas lives que ando fazendo. Tinha escrito o Bora Vender no ano mais importante da minha vida, depois de eu já ter vendido a empresa para a Vtex e feito a transição – que é só um novo começo, não um fim de jornada. A gente estava lançando a escola Gestão 4.0, era um ano muito importante para eu tangibilizar.
O livro, então, foi um processo que me reinventou como profissional, como pessoa, me reposicionou, me deu um novo nível de credibilidade e de autoridade.
Alfredo Soares
O livro, então, foi um processo que me reinventou como profissional, como pessoa, me reposicionou, me deu um novo nível de credibilidade e de autoridade. Tornou-se uma grande plataforma de networking, de palestras e eventos. E isso acaba consequentemente me fazendo compreender o poder de um livro transformar a vida de uma pessoa. Aí aceitei o desafio de assinar um novo contrato e escrever um livro para 2021, já numa pegada mais para o varejo, mais caminhando para uma questão de desenvolvimento. Já não é um livro que só conta a minha história. As pessoas gostam da inspiração, da história, porque elas se motivam com aquilo, tiram energia e alguns insights dali. Mas esse meu segundo livro teve esse desafio de ser mais técnico, contar mais profundamente estudos de caso. Eu aceitei esse desafio e aí aconteceu a quarentena, e eu entrei nesse período em busca de encontrar uma nova missão, uma nova versão minha..
ED – Como isso mexeu com a sua ideia do livro?
ALFREDO SOARES – Eu estava passando por um momento de evolução pessoal, estava três meses planejando quais seriam meus grandes desafios do ano, e de repente me vejo terminando um relacionamento, numa quarentena, e logo em seguida entro numa nova fase de me questionar muito. As respostas vieram numa busca muito mais intensa de autodesenvolvimento, de profundidade das minhas relações, e me fez começar essa série inédita de lives no Instagram, com os maiores empresários do Brasil, e isso me deu muitos insights.
Depois de uma live com o Fred Trajano, tive a ideia de transformar esse conteúdo, essa busca, num livro que marcasse esse momento em que começo a encontrar minha própria evolução, como pessoa e profissional. Inspirado nas lives e em cases do varejo, em como empresários agiram na quarentena. Vai se chamar Bora Varejo. E eu espero que inspire as pessoas tanto quanto escrever foi uma inspiração para mim.