Diversos fatores levaram os bancos centrais de todo o mundo a empreender estudos sobre as moedas digitais de bancos centrais. O anúncio que o Facebook estaria criando a sua moeda digital, a Libra, agitou o mercado. Soma-se a isso o surgimento e crescimento no volume de transações em criptomoedas, as stablecoins e as plataformas de finanças descentralizadas. Tudo isso junto poderia dar início a uma revolução sem precedentes no sistema financeiro mundial, sem que ninguém soubesse onde poderia parar e como tudo isso poderia atingir a estabilidade econômica das nações. Diante dessas possibilidades, os bancos centrais decidiram tomar medidas e iniciar pesquisas em relação às suas próprias moedas digitais, e assim, em agosto de 2020, o Banco Central (Bacen) do Brasil tomou uma iniciativa importante ao estabelecer um grupo de trabalho dedicado ao estudo da emissão de uma moeda digital brasileira.
Conhecida como CBDC (da sigla em inglês Central Bank Digital Currency), a moeda digital do Banco Central vem despertando a atenção. Atualmente, 105 países estão explorando moedas digitais centralizadas. Juntos, eles representam 95% do PIB global, sendo que 60% dos Bancos Centrais em todo o mundo esperam emitir uma CBDC nos próximos seis anos. Vale lembrar que a CBDC é uma representação digital do dinheiro que conhecemos hoje nas versões físicas (cédulas e moedas) e eletrônicas (o real escritural, por exemplo).As moedas digitais de Banco Central (CBDCs) desempenharão um papel fundamental na inovação dos meios de pagamento, oferecendo benefícios como maior eficiência, segurança e inclusão financeira. Ao eliminar intermediários e permitir transações diretas entre partes, as CBDCs podem agilizar os processos de pagamento, reduzir custos e facilitar transações transfronteiriças. Além disso, ao serem emitidas por bancos centrais, as CBDCs podem fornecer confiança e estabilidade, incentivando a adoção de tecnologias financeiras avançadas, como tokenização de ativos e contratos inteligentes. Essa inovação impulsionada pelas CBDCs tem o potencial de transformar radicalmente a forma como as pessoas interagem e realizam transações financeiras em um ambiente digital cada vez mais globalizado.
É difícil prever qual será a adoção das CBDCs pelas pessoas no dia a dia, ou até mesmo pelas instituições financeiras e grandes empresas, mas na esteira dessa inovação, sem dúvida, a reboque virão duas grandes transformações: a tokenização de ativos físicos e financeiros e o uso da inteligência artificial associada à programabilidade do dinheiro digital.
A tokenização de ativos é um processo pelo qual ativos como imóveis, ações, títulos de dívida ou até mesmo obras de arte são convertidos em tokens digitais (i.e., representações digitais dos ativos físicos), que podem ser negociados e armazenados em uma blockchain. Esses tokens representam uma fração do valor total do ativo e permitem que investidores comprem e vendam partes desses ativos de forma mais fácil e eficiente.
Um dos principais benefícios da tokenização de ativos é a maior acessibilidade e liquidez. Anteriormente, investir em certos ativos, como imóveis ou obras de arte, era (e ainda é) complicado e exigia altos montantes de capital. Com a tokenização, esses ativos podem ser divididos em partes menores, permitindo que investidores de diferentes perfis comprem frações do ativo, o que deve promover um enorme crescimento no mercado de investimento. Para se ter uma ideia do potencial da tokenização, segundo uma projeção da BinaryX, até 10% do PIB mundial estará tokenizado em 2027.
O sistema financeiro brasileiro já é um dos mais avançados do mundo e nos próximos anos uma série de transformações vai acontecer.
Quanto a combinação da inteligência artificial com a programabilidade do dinheiro digital (CBDC) e os contratos inteligentes, estes têm o potencial de transformar a forma como as pessoas lidam com suas economias, poupanças e investimentos. A inteligência artificial pode ser utilizada para analisar dados financeiros e comportamentais, fornecendo insights personalizados e recomendações precisas para auxiliar as pessoas na tomada de decisões financeiras. Além disso, por meio dos contratos inteligentes, as transações financeiras podem ser automatizadas e executadas com base em condições pré-programadas, eliminando a necessidade de intermediários e aumentando a eficiência dos processos. Isso permite que as pessoas gerenciem seus investimentos de forma mais autônoma, estabelecendo regras e parâmetros que atendam às suas metas e preferências. Com a interação entre inteligência artificial, dinheiro digital programável e contratos inteligentes, as pessoas poderão ter maior controle sobre suas finanças, otimizando seus recursos, maximizando suas economias e realizando investimentos mais informados e personalizados.
Também não podemos esquecer que nesta mesma evolução do sistema financeiro, estamos em meio à implementação do Open Banking (iniciativa que permite o compartilhamento seguro de dados financeiros de clientes entre instituições financeiras), o qual desempenhará um papel fundamental na integração entre a programabilidade do dinheiro digital (CBDC), os contratos inteligentes, a inteligência artificial e o setor financeiro. Com o Open Banking, os usuários têm a possibilidade de compartilhar seus dados financeiros de forma segura e controlada com terceiros, incluindo aplicativos de inteligência artificial e plataformas de investimento. Isso possibilita que a inteligência artificial acesse informações detalhadas sobre as finanças pessoais dos usuários, analise padrões de gastos, histórico de investimentos e outros dados relevantes. Com base nesses insights, os contratos inteligentes podem ser programados para executar ações automatizadas, como investir em determinados ativos ou otimizar uma carteira de investimentos de acordo com metas pré-definidas. Além disso, a combinação do Open Banking com a programabilidade do dinheiro digital (CBDC) permite que os usuários acessem serviços financeiros inovadores, como empréstimos descentralizados (pessoa a pessoa) ou serviços de gestão de ativos baseados em contratos inteligentes.
O sistema financeiro brasileiro já é um dos mais avançados do mundo e nos próximos anos uma série de transformações vai acontecer garantindo a bancarização de milhares de pessoas. Essa interação sinérgica entre as diversas inovações, combinadas aos meios atuais de acesso ao sistema financeiro, oferecem um cenário promissor para pessoas comuns gerenciarem suas finanças de forma mais eficiente, segura e personalizada, potencializando suas economias.