Ninguém esperava passar por uma pandemia, muito menos que ela poderia passar de um ano, tendo que manter todo mundo isolado dentro de casa, longe dos amigos, vizinhos e dos entes queridos.
Nada mexe mais com as pessoas do que ver amigos, pessoas próximas e até mesmo familiares indo embora, perdendo a batalha para um inimigo invisível e pouco conhecido.
O Brasil está chegando em quase 400 mil mortes e mais de 13 milhões de pessoas infectadas pela COVID-19. Passamos por momentos de escolas fechadas, com alunos sem conseguir estudar; diversos empreendedores e empregados tendo que se adaptar com a nova rotina de trabalho e ao sistema home office; alguns comércios parados e tantos outros que se encerraram no meio dessa crise.
Os escritórios luxuosos em que muitos pais trabalhavam e as piscinas de bolinhas e escorregadores a que seus filhos estavam acostumados, foram trocados pelo ambiente de casa, exigindo muita habilidade para equilibrar tudo isso: pais e filhos realizando suas atividades dentro de um único espaço, na maioria das vezes, sem condições adequadas. Todo mundo fazendo o que pode para dar conta da nova rotina.
Além da grande transformação social, a pandemia fez com que algumas empresas buscassem criar iniciativas para apoiar seus colaboradores psicologicamente: atividades, happy hours virtuais e exercícios físicos remotos, entre outras. Porém, recentemente realizei uma pesquisa com os funcionários de diversas companhias e o resultado que eu obtive foi: 65% deles afirmaram que as suas empresas não adotaram nenhum tipo de iniciativa para cuidar do equilíbrio emocional de seus colaboradores.
O fato é que cada vez mais estamos vendo as pessoas lutando contra os seus monstros, mas todos estão cansados, as crianças estão exaustas de ficarem em casa, os pais estão sem energia com a dupla e até tripla jornada árdua, adquirida pelo isolamento social e tendo ainda que lidar com uma reunião atrás da outra. Fora isso, ainda tem o barulho da reforma do vizinho bem na hora da sua vez de falar na reunião virtual, das notícias no jornal do crescente números de vítimas que abala a todos e, por fim, dos jogos políticos irresponsáveis.
Por dentro, todos estão ansiosos, inquietos e fragilizados. E por fora, tentando ser fortes e otimistas. O atendente está assim, os colaboradores, o vendedor, o gerente, o CEO da empresa e até mesmo, o cliente. É claro que a liderança tem papel fundamental para garantir o bem-estar da equipe, mas não podemos jogar a responsabilidade apenas para uma camada, pois não há outra forma de ter relações saudáveis nesse momento de pandemia, se não for com muita empatia e generosidade.
Algumas ações podem ser a saída para que as companhias possam minimizar os impactos desse desequilíbrio global, cuidando do emocional dos seus funcionários, ou seja, cuidando de quem cuida dos seus clientes. De modo geral, olhando para dentro das empresas que tenho mantido contato ao longo do ano que passou, vejo que é importante dar tempo às suas equipes. Nem que seja concedendo uma hora a mais no horário de almoço, um dia extra de descanso ou duas horas na semana, reduzir a carga de trabalho, etc.
Algumas ações podem ser a saída para que as companhias possam minimizar os impactos desse desequilíbrio global, cuidando do emocional dos seus funcionários, ou seja, cuidando de quem cuida dos seus clientes
Gisele Paula
Faça um one-to-one com seu time e tente entender a dor de cada um. Crie rituais de trabalho, mas também momentos para a descontração (hora do cafezinho, do happy hour, pausa para o descanso, para o estudo, para a troca de ideias, etc). E ainda, crie hábitos saudáveis na companhia com programas que promovam atividades saudáveis de alimentação e exercício físico. Ofereça flexibilidade e diálogo, e esteja aberto, de fato, a sugestões de mudança. Algumas empresas nos EUA adotaram até licenças remuneradas para profissionais que estão neste momento exercendo papel de cuidador de algum familiar doente.
E por fim, dê tempo às pessoas. Porém, esteja perto delas compreendendo os sinais de descompasso emocional da sua equipe. Todos nós podemos ser mais leves na comunicação, mais tolerantes e tentar criar menos embates. Quando nos desarmamos, percebemos que todos estão no mesmo barco, lutando para que tudo isso passe e assim criamos pontes para favorecer uma vida um pouco mais leve neste momento crítico. Empresas que desejam prosperar, vencer essa crise, se tornar sustentáveis e vender mais, precisarão olhar para quem cuida dos seus clientes. Cuidar de quem cuida, para ir mais longe.