A história da internet teve até aqui dois grandes períodos: a Web 1.0, quando surgiram os primeiros sites, ainda na década de 1990, e a Web 2.0, com o aparecimento dos gigantes digitais Google e Facebook, mais de uma década depois.
Agora, a Web3, também conhecida como Web 3.0, tem sido considerada por especialistas em todo o mundo como o futuro da internet, prometendo dar aos usuários o controle sobre seus dados, uma grande mudança em relação ao modelo atual, em que as informações estão concentradas nas mãos das chamadas big techs.
A base da Web3 é a tecnologia blockchain, que habilita a economia de bens digitais em escala, como os NFTs e metaversos. O blockchain traz mais segurança e transparência para as transações digitais, novas formas de monetização e verificação de identidade online.
O conceito da Web3 está ancorado em aplicações descentralizadas e interoperáveis na internet, que permitem aos usuários definir quando e porque transacionar seus dados.
Entenda e evolução da Web
A ideia de uma rede mundial de computadores, a World Wide Web (WWW), foi apresentada pelo físico britânico Tim Berners-Lee, no início da década de 1990. Surgia então a Web 1.0, marcada pelos surgimentos dos primeiros navegadores como Internet Explorer.
A segunda geração da internet, a Web 2.0, surgiu em 2004 e criou a ideia de ‘cadastro único’, onde usuários se conectam por meio de redes sociais, dando mais espaço aos criadores de conteúdo. É também nessa geração que surge a possibilidade de usar contas criadas em big techs, como o Gmail, para se conectar com diferentes sites.
Apesar do ganho em comunicação entre plataformas, a Web 2.0 amplificou o problema da Web 1.0: a centralização de dados. As big techs passaram a acumular cada vez mais dados, identificando essas informações como produtos valiosos. Não demorou muito para que os dados pessoais dos usuários passassem a ser comercializados, reduzindo a segurança e a privacidade dos usuários.
Gavin Wood, cocriador do Ethereum e fundador da Polkadot, cunhou em 2014 o termo Web3. A proposta de Wood é lastrear a Web 3.0 com blockchain, dando vida à Web3. A intenção é potencializar a independência dos usuários, devolvendo sua segurança esua privacidade, além de torná-lo proprietário do que produz na internet.
A Web3 se torna favorável à privacidade por associar o usuário a uma hash (uma espécie de código). A representação é feita geralmente pelo endereço de uma carteira, ou wallet, em vez de ser uma identificação de maneira personificada.
Em relação à segurança, o controle e poder dos usuários sobre suas próprias ações é retornado na Web3. Como exemplo, ele menciona a possibilidade de criar diversas camadas de segurança, como uma carteira em hardware protegendo a chave privada.
Aplicações reais
Em muitos casos, plataformas da Web3 não se diferenciam de aplicações da Web 2.0 em termos de experiência do usuário. Isto é, acessar e interagir com um site Web3 não é diferente de interagir com um site da segunda geração da internet.
Um caso de uso em ampla discussão atualmente: o metaverso. No Fortnite, jogo com média mensal de 270 milhões de jogadores em 2022, é um exemplo de metaverso da Web 2.0. O jogador utiliza uma moeda (v-bucks) e participa da economia do jogo, que chamamos de fechada, porque essa moeda é utilizada somente lá. Não há troca ou caminho de conversão para moedas do mundo real.
Com a Web3, alguns metaversos construídos nessa lógica possuem tokens que, no final do dia, continuam sendo as moedas dos jogos, mas também viram elementos de injeção de capital e atuam como utilidade financeira real, avalia Harada.
“Existem ainda outros exemplos de semelhanças, como MetaMask e PayPal; Brave e Chrome; entre ENS e GoDaddy; entre Audius e Spotify; e entre Rally e Medium”, comparando interfaces de plataformas Web 2.0 com o uso de aplicações Web3.
Internet Descentralizada
A Web3 tem como alicerce a descentralização e os criptoativos são a materialização disso, na visão de Harada. “Um tema está intimamente ligado ao outro, e em codependência. Dessa forma, uma plataforma Web3 acaba sendo impactada, viabilizada ou governada por algum tipo de criptoativo.”
Os criptoativos têm papel importante na Web3, servindo de incentivo para que as blockchains sejam mantidas no ar. Para que uma rede descentralizada funcione, são necessários dispositivos voluntários para mantê-la ativa. Os ativos digitais, nesse caso, são as recompensas para quem garante a funcionalidade da blockchain.
A Helium é um desses projetos onde os tokens servem de incentivo para manutenção da rede. O objetivo da Helium é criar uma rede wireless descentralizada voltada à Internet das Coisas, conectada por dispositivos específicos. Para incentivar as pessoas a adquirir e manter esses dispositivos, os usuários são recompensados com o token HNT.
Os casos de uso envolvendo Web3 e tokens, contudo, não se limitam à manutenção de blockchain. O comércio de conteúdo organizado pelo próprio criador, o pagamento pelos dados dos usuários (wallets) e a interação com certas aplicações também são exemplos válidos dessa nova geração da internet.