Gabriel Wickbold é um dos artistas mais aclamados da nova geração de fotógrafos. E mais bem-sucedidos também – além de seus projetos autorais, ele é embaixador de marcas como BMW e Panerai.
Muitos artistas se orgulham de dizer que não se envolvem com a parte comercial de seus trabalhos. A cabeça estaria tão voltada para a criatividade artística que não sobraria espaço para pensar em dinheiro. Esses precisam contratar alguém que negocie suas obras por eles, que providenciem a estrutura necessária para que possam desenvolver sua arte e, claro, que cuidem de sua saúde financeira. Já Gabriel Wickbold é um artista que rompe com esse padrão.
Um dos fotógrafos mais em alta na cena de fotografia artística do Brasil, ele tem conseguido conciliar, com grande sucesso, seu trabalho autoral com um perfil empreendedor e uma visão de negócio. Desde o momento em que decidiu seguir a profissão de fotógrafo, ao lançar a série “Brasileiros” – um trabalho que começou numa viagem pelo Rio São Francisco em 2006 –, Gabriel imediatamente construiu um estúdio e passou a fotografar para moda e publicidade – trabalhos que lhe permitiam manter-se desenvolvendo arrojados – e elogiados – projetos autorais.
Hoje, dando um passo além, o artista criou uma galeria com seu nome, abrindo um espaço para intercâmbio entre outros fotógrafos do Brasil e do mundo, e que é também um empreendimento digno dos melhores homens de negócios.
Conheça o pensamento desse homem interessado em investigar a natureza humana em seus trabalhos, e que, diferente dos artistas mais blasé, adora se envolver com as questões de business que o seu talento proporciona.
EMPRESÁRIO DIGITAL – Como foi o começo do seu envolvimento com a arte?
GABRIEL WICKBOLD – Foi cedo, logo aos 12 anos, quando escrevi um livro de poesia, o que despertou um olhar artístico. Escrevia sobre o universo da criança, e aquilo era um exercício de criação. A música veio na sequência e também me desafiou criativamente. Eu me renovei, me inspirei, comecei a ter sonhos e ambições, quis tocar, fazer shows, compor… e fiz tudo isso. Nesse processo, também me apaixonei pelo universo do estúdio, que é de muita criação, de você saber usar aquelas ferramentas para realizar a melhor gravação possível. E com isso aprendi como é importante você dominar uma técnica para chegar a um resultado de qualidade. Então você vê que há um caminho lógico nessa minha trajetória: eu comecei a escrever poesia e aquilo acabou virando um livro; depois o meu hobby de tocar guitarra acabou virando CD, e também minha própria produtora para alavancar os shows e projetar minha banda… Então o tempo inteiro eu estava lidando com empreendedorismo e arte.
Na praia, eu carregava umas peças no braço e algumas na mochila enquanto minha esposa ia na frente, vestindo minhas criações. Os vendedores tradicionais de praia usam uma estrutura sobre rodas que dá para carregar um mix grande de produtos, mas que não é nada atraente. E, se você reparar, esse comerciante anda perto da água, onde a areia é mais fresquinha.
Minha apresentação do produto contava com uma modelo (minha esposa), e eu ia oferecendo de guarda-sol em guarda-sol, graças à mobilidade de não ter aquela estrutura toda. Assim eu ia até a parte quente da areia, onde a concorrência era menor. As pessoas falam de marketing de influência como se dependesse de influencers, mas não se restringe a isso. É basicamente utilizar uma imagem ou uma pessoa para demonstrar o seu produto. E eu já fazia.
ED – Como evoluiu a conceituação da sua marca?
GIULLIANO PUGA – Naquele começo, eu ainda era adolescente e tinha uma conexão muito forte com a cultura pop, hip-hop e streetwear. Então a marca tem esse DNA. Mas, um pouco mais tarde, minha esposa estava participando de competições de bodybuilding, então me pediu para desenhar algumas roupas de fitness para ela, e eu já desenhei essas peças com a minha visão de design – com bastante estampa e logo. Resultou num tipo de roupa que, embora voltada para performance, também tem uma faceta de design casual. Esse movimento estava acontecendo em outras partes do mundo, e a gente foi precursor aqui na América Latina. É aquela questão de inconsciente coletivo: uma coisa que está acontecendo globalmente vai inspirando o design.
ED – E como foi a consolidação da operação comercial via redes sociais?
GIULLIANO PUGA – A minha única forma de comunicação, naquele momento, era por meio das redes sociais. E estou falando do comecinho dessa história toda, ainda no tempo do Orkut. Desde então, a gente vem modificando o modelo de negócio a cada novo momento. Comecei muito pequeno, minha primeira venda online, se não me engano, foi em 2006. Entre 2010 e 2011, houve o boom dos smartphones, massificando o acesso do grande público às redes sociais. E isso deu muito certo para nós: a marca explodiu utilizando as redes como alavanca. Vale lembrar que, à época, estávamos praticamente sozinhos nesse caminho, havia pouquíssimas empresas que utilizavam esse tipo de ferramenta, que hoje é tão comum. Conforme evoluímos, fui sempre tendo uma ou outra loja física. Até hoje temos, mas ela serve para pilotar modelos de negócio e escalonar, seja para outras lojas, seja para o multimarcas, que é o nosso maior canal de vendas.