Qualidade do conteúdo é o diferencial do livro digital e do impresso, afirma Youngsuk Chi
Ao fazer a palestra de abertura do 3º CongressoInternacional CBL do Livro Digital, nesta quinta-feira, 10 de maio, no auditório da Fecomercio, em São Paulo, o presidente da IPA (International Publisher Association) e do Comitê de Gerenciamento da Elsevier, Youngsuk Chi, salientou que o livro impresso não é ameaçado pelo e-book. “O essencial será sempre a qualidade. O trabalho do editor será fazer com que os conteúdos sejam confiáveis e bons”.
Para Youngsuk Chi, o livro digital não acabará com o impresso porque a leitura vaialém do formato, pois as pessoas leem em váriasmídias. “O essencial é o conteúdo e sua acessibilidade. O e-book agrega a possibilidade de, ao mesmo tempo, podermos ler, visualizar imagens e ouvir sons”. O especialista lembrou que várias tecnologias capazes de suportar os formatos de e-Pub foram surgindo e, com elas, plataformas para atender o público. “Com isso, os dispositivos de leituras tiveram uma queda de preço, bem abaixo dos 300 dólares. Os mais caros agregam outros serviços, como celular e TV digital”.
Youngsuk Chi lembrou que omomento da virada do preço surgiu com a internet, que gerou massa e fez com que os dispositivos ficassem mais acessíveis. “Hoje, contudo, as pessoas querem conteúdo gratuito, mas isso precisa ser pago por alguém, como um patrocinador. E de nada adianta termosmuito conteúdo disponível, como já ocorre, se corremos o risco de encontrarmaterial de qualidade questionável”. Nesse aspecto, evidencia-se a importância do trabalho do editor de fazer com que os conteúdos sejam confiáveis e de qualidade.
O especialista enfatizou, ainda, que os leitores, muito impacientes,querem ter acesso ao conteúdo com apenas dois cliques. Por isso, o mercado editorial hoje é mais importante do que já foi em qualquer outro momento da história,para atender a essa demanda afoita por conteúdo de fácil acesso e qualidade.
A revolução digital é apenas uma evolução, ressaltou Youngsuk Chi, explicando que aimprensa de Gutemberg, há cerca de 550 anos, impôs os mesmos desafios à sociedade da época que os e-books estabelecendo agora. “Com a internet, surgiram várias comunidades e a informação foi democratizada, o conhecimento ficou bem mais distribuído. O Google calcula que antes da internet havia 130 milhões de títulos de livros disponíveis. Depois de seu advento, o número passou para 676 milhões. Surgiram novos leitores e autores como resultado das novas possibilidades, inclusive escritores que publicam seus livros sem a intervenção das editoras”.
Segundo o presidente da IPA, as editoras já não fazem parte apenas do mundo da edição impressa. Elas expandiram sua atuação para o meio digital e são parceiras das empresas de tecnologias que disponibilizam tais meios de interação entre leitores e os livros. “Haverá uma guerra pela disputa de quem será o curador do conteúdo digital, aquele que irá controlar os modelos de negócios criados neste momento e ainda não finalizados”.
Nesse novo cenário, será preciso prover a informação certa, para o público certo, na plataforma adequada. Não basta apenas prover conteúdo. É preciso oferecer também a experiência, como valor agregado. E isso terá seucusto, disse Youngsuk Chi, acrescentando:“Há algo triste acontecendo, uma percepção de que o valor percebido do conteúdo está em declínio. Isso não é verdade, pois o valor real está aumentando, a despeito da existência de conteúdo gratuito.
Futuramente, é possível que as editoras, apesar do investimento que fazem na produção dos livros, acabem por não cobrar pelo conteúdo, apenas pela experiência. A maior mudança será no modelo de negócios. “Não tenho certeza de como será, mas os leitores poderão pagar para alugar conteúdos, ter sua propriedade ou compartilhá-los temporariamente. A questão dos direitos autorais vem incentivar a criação, mas não o comércio. A ideia é não erguermos muros ao redor do conteúdo. Tudo pode ser oferecido de graça, mas alguém terá de pagar a conta”, concluiu o presidente da IPA.
Idealizado e realizado pela Câmara Brasileira do Livro desde 2010, oCongresso Internacional CBL do Livro Digital e a própria entidade constituem o principal fórum brasileiro para a discussão e debate das tendências desse novo mercado. A 3ª edição realiza-se hoje (10/05) e amanhã (11/05). Seu tema central é “A nova cadeia produtiva de conteúdo – do autor ao leitor”. O evento conta com a participação de grandes nomes do Brasil e do exterior.
A exemplo dos anos anteriores, serão dois dias de análises e discussões sobre os temas mais relevantes relativos ao livro digital, a perspectiva do mercado, os modelos de negócios, aspectos tecnológicos, direitos autorais e o comportamento do leitor. Todo esse conteúdo é debatido por acadêmicos, profissionais e executivos que são referência do setor. “Na edição deste ano, queremos passar por toda a cadeia produtiva do livro digital, a fim de oferecer soluções e buscar alternativas para um mercado cada vez mais dinâmico e exigente”, afirma Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).