Celulose e papel: crise internacional afeta vendas, mas indústria investe tecnologia e aplicações
As exportações brasileiras de celulose e papel terão redução este ano, devido aos efeitos da crise internacional, mas a despeito da previsão de que a retração ainda deverá persistir, a indústria instalada no País está investindo em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e aplicações a partir da base florestal, e que permitirão reduzir o impacto de crises futuras que possam afetar o mercado de celulose.
Esta foi uma das conclusões apresentadas por dirigentes das entidades representativas da indústria de celulose e papel na coletiva de abertura do ABTCP 2012 – 45º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel, que começou hoje(9/10)em São Paulo, promovido pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), em parceria com a Tecnicelpa (Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel) e a Riadicyp (Associação Ibero-americana de Docência e Investigação em Celulose e Papel).
Segundo Carlos Farinha e Silva, conselheiro da ABTCP e VP da Pöyry (multinacional finlandesa de serviços de consultoria e engenharia), as exportações brasileiras em 2012 se situarão pouco abaixo das 8 milhões de toneladas de celulose e dos 2 milhões de toneladas de papel exportadas em 2011. Já a produção de celulose deverá cair para o patamar de 12 milhões de toneladas, e a de papel, para 8 milhões de toneladas em 2012.
A presidente da Bracelpa – Associação Brasileira de Celulose e Papel, Elizabeth Carvalhaes, confirmou que houve perdas importantes de receita e volume nas vendas de celulose e papel, tanto no mercado externo quanto interno, ao mesmo tempo em que a indústria nacional tem enfrentado a alta dos custos de produção – destacadamente da folha de pagamento, causa dos aumentos reais, que se contrapõem à queda da produtividade -, mas por ser este um setor focado no longo prazo, isso não deve impactar nas projeções em prazos maiores. “É foco para o Brasil, no curto e médio prazo, sair da caixa de celulose e papel, investir em inovação e biotecnologia e partir para os múltiplos usos da madeira”, afirmou a presidente da Bracelpa.
Os grandes produtores já estão claramente acenando para abrir o leque de produtos florestais, com foco na geração de energia, produção de madeira para aplicações como pellets (que demanda um tempo de plantio do eucalipto diferente). “O investimento de US$ 22 bilhões a US$ 24 bilhões previstos pelo setor não está voltado exclusivamente ao fornecimento da celulose, mas aos vários usos da madeira”, ressaltou ela.
O presidente da ABTCP, Lairton Leonardi, observou que o setor vem construindo sua visão de futuro, a partir dos estudos sobre biorrefinarias e suas múltiplas aplicações. Algumas conquistas, a partir de Pesquisa & Desenvolvimento, já foram obtidas, como as embalagens mais leves e resistentes e o desenvolvimento de papeis tissue de maior qualidade e também de maior resistência, entre outras inovações.
A produção florestal tem produtividade extremamente alta, e os trabalhos para elevar essa produtividade também continuam. Iniciativas para reduzir o desperdício, tanto na produção quanto na área administrativa – que envolve P&D –, e o investimento no desenvolvimento de pessoas bem formadas e comprometidas com os processos são outros pontos fundamentais que caracterizam a evolução da indústria de celulose e papel. “Temos desafios no presente, mas a visão de futuro do setor passa pelo desenvolvimento e diferenciação”, acrescentou o presidente da ABTCP.
Segundo Maria Cristina Areas, coordenadora da Ryadicip, o foco da edição deste ano do Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel promovido pela ABTCP – voltado às diferentes aplicações técnicas e diferentes processos envolvendo a indústria de base florestal – confere ainda mais relevância ao evento. “O Congresso da ABTCP já se tornou um dos mais importantes do mundo no âmbito industrial, superior aos eventos realizados na Europa e nos Estados Unidos, e este ano, especialmente, a apresentação de trabalhos científicos e tecnológicos voltados aos novos usos dos produtos florestais torna o congresso ainda mais interessante”, observou ela.
Antônio Fernandes dos Santos Prates, presidente do conselho diretivo da Tecnicelpa, também destacou o Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel promovido pela ABTCP como um dos maiores do mundo, seja pela importância do Brasil na produção de eucalipto – no qual é o país mais competitivo -, quanto pelo caráter técnico bastante avançado do evento. “Em breve, poderá haver uma nova indústria de celulose e papel, voltada a múltiplos usos da matéria-prima, de forma sustentável, e os estudos realizados e apresentados no evento contribuem fortemente nessa direção”, acrescentou Santos Prates.