
Quando vejo eventos como a FESPA, fico com a sensação de que o Brasil tem um potencial gigantesco. Não apenas pela quantidade de pessoas que conseguimos atrair para um evento setorial, mas pela qualidade das empresas que, mesmo diante de um mercado instável, continuam acreditando e investindo para se manterem competitivas. O otimismo que se vende nos corredores é combustível, mas a pergunta que me vem é: estamos indo para onde?
Minha história com a FESPA vem de quase 30 anos. Lembro da empolgação ao conhecer os ensinamentos de Michel Caza, das trocas que objetivavam fortalecer um setor de impressão cuja presença é notória em todos os segmentos da economia. Aprendi com os melhores e vi iniciativas incríveis que pensavam o setor para além da simples venda do metro quadrado de estande.
Em um momento da minha jornada, a Federação das Associações me convidou para ser embaixador. Na minha limitação da época, fiz o que podia para trazer o nome da FESPA ao maior número possível de empresários brasileiros. Organizei grupos para visitarmos o evento na Europa, participei até que a entidade crescesse e uma nova gestão assumisse. Ontem, ao encontrar Neil Felton no corredor do evento, um filme passou pela minha cabeça. Sou grato à FESPA por ter feito parte da minha jornada, mas também sou consciente de que algumas barreiras e a politicagem me colocaram à margem de um projeto que poderia ter sido muito mais disruptivo.
Sim, uma coisa é colocar no LinkedIn que ajudamos a crescer o mercado e ser altamente inovador. Outra coisa é ver que as empresas estão consumindo um conteúdo raso, sem profundidade estratégica, sem capacidade de levar os negócios para um novo patamar. O evento que visitei teve bom público e bons expositores. Mas foi isso. Apenas isso.
Continuamos discutindo o papel do papel na impressão frente ao mundo digital. Misturamos gráfica, tecidos e comunicação visual, sem entender a diferença entre gravação, impressão e decoração. E, enquanto nos perdemos nesses debates, sinto falta do conteúdo de antigamente, quando os palestrantes vinham da indústria para compartilhar um conhecimento genuinamente qualificado. Hoje, vendemos promessas de times de alta performance, de um mercado vibrante, lucrativo e inovador. Mas onde estão os dados que mostram o futuro da impressão no Brasil?
O outsourcing, como bem exploraram alguns expositores, é uma tendência? Talvez. Máquinas mais rápidas, com melhor definição, imprimindo muito além do papel? Pode ser. Tintas com menos químicos que agridem o meio ambiente? Duvido. Mas quem está de fato investigando essas questões? Quem está analisando como a mudança do porte, faturamento e posicionamento das indústrias que usam comunicação visual impacta o setor?
E isso talvez pareça uma crítica, mas não é. É apenas um dado de realidade. Ao invés de apenas publicar que o evento foi um sucesso maior que o último, como sempre se faz, talvez seja a hora de parar e pensar: qual é o futuro dos eventos de impressão e do conteúdo que realmente agrega valor ao mercado?