A indústria de venture capital no Brasil começa a mostrar sinais de recuperação após um período de retração iniciado em 2021. As gestoras Valor Capital e Canary, focadas em startups em estágio inicial, já levantaram juntas mais de US$ 200 milhões — o equivalente a mais de R$ 1 bilhão na cotação atual — para seus novos fundos de investimento. O movimento representa um avanço relevante em um ambiente ainda marcado por juros elevados e incertezas macroeconômicas.
A Valor Capital, fundada por Clifford Sobel e Scott Sobel, está estruturando seu quinto fundo voltado a empresas em early stage. A gestora já captou US$ 100 milhões, com meta de atingir US$ 250 milhões. Em seu histórico de captação, os fundos anteriores movimentaram US$ 30 milhões (primeiro), US$ 80 milhões (segundo), US$ 200 milhões (terceiro) e mais de US$ 250 milhões no quarto. O portfólio atual inclui nomes como Gympass, CloudWalk, Bitso, Olist e Merama. A nova rodada seguirá o mesmo modelo de cheques entre o seed e a Série B.
A Canary, por sua vez, também captou US$ 100 milhões e busca fechar seu quarto fundo com US$ 120 milhões. A gestora mudou o perfil de seus investidores, hoje com 85% da base formada por cotistas institucionais como o IFC (ligado ao Banco Mundial), BID e DEG, entidade de fomento ligada ao governo alemão. A meta é investir entre 30 e 35 startups nas rodadas seed e Série A, reduzindo a dispersão observada nos fundos anteriores. Entre os investimentos da Canary estão Alice, Gupy, Hashdex, Isa Saúde, Caju e Cayena.
A retomada das captações não se limita às duas casas. A Big Bets captou R$ 150 milhões no first closing de seu segundo fundo, com meta de R$ 300 milhões. A DGF, uma das gestoras mais tradicionais do setor, levantou R$ 200 milhões e também mira R$ 300 milhões. Já o Pátria arrecadou R$ 157 milhões em três semanas para seu fundo de growth em parceria com a Igah Ventures.
Segundo a plataforma Distrito, o volume de investimentos em startups brasileiras em 2024 somou US$ 2,14 bilhões, alta de 13,83% em relação a 2023. No primeiro trimestre de 2025, o volume chegou a US$ 371,7 milhões, um crescimento de 5% sobre o mesmo período do ano anterior. Apesar da queda no número de rodadas (-27,7%), o volume médio por transação aumentou, evidenciando maior concentração de capital em empresas com tese mais sólida.
O levantamento da Distrito também aponta 53 operações de fusões e aquisições entre startups no primeiro trimestre de 2025, um crescimento de 35% em relação ao mesmo período do ano anterior. A consolidação do mercado aparece como uma estratégia complementar às novas rodadas de captação.