O Google pode ser forçado a vender o Chrome, seu navegador com 3 bilhões de usuários ativos mensais e 61% de participação no mercado global. O processo, motivado por acusações de práticas anticompetitivas no setor de buscas e publicidade, abre espaço para o maior leilão de tecnologia da década. Estimativas indicam que o ativo poderá alcançar um valor entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões, movimentando o setor e redesenhando o mapa de poder na internet.
O caso antitruste, em curso nos Estados Unidos, aponta que o domínio do Google nas buscas online oferece vantagens desproporcionais na corrida pela inteligência artificial. A acusação sustenta que esse monopólio viabiliza um ciclo de reforço, em que produtos baseados em IA, como assistentes e navegadores, acabam sendo usados para manter a hegemonia do buscador.
A OpenAI, que testemunhou a favor do governo norte-americano, já declarou interesse público e estratégico em adquirir o Chrome. A empresa argumenta que, com acesso às APIs do Google, poderia oferecer uma experiência de navegação e pesquisa significativamente melhor aos usuários do ChatGPT. O movimento sugere uma ofensiva direta ao principal canal de aquisição de tráfego do Google.
O impacto potencial da venda extrapola o mercado de navegadores. O Chrome está diretamente ligado à estrutura do Android e à receita publicitária derivada do acordo com a Apple, que ultrapassa US$ 20 bilhões por ano. A substituição do motor de busca padrão no Safari, por exemplo, seria uma consequência com forte efeito nas finanças e na dinâmica do setor.
Outros players do mercado, como a Perplexity AI, também demonstraram interesse no navegador. A empresa é uma das startups mais capitalizadas da nova geração de buscadores com base em IA. O cenário reacende o precedente criado em 2001, quando a Microsoft, acusada de práticas semelhantes com o Internet Explorer, escapou da venda de ativos após aceitar uma série de restrições sob supervisão federal.
A decisão final do tribunal poderá abrir uma nova janela de mercado para empresas que desejam controlar a principal interface entre usuários e a web. A eventual transação do Chrome, caso concretizada, reconfigurará fluxos de receita, estratégias de IA e a competição por atenção no ambiente digital global.