“Estamos vivendo um ponto de inflexão. Ao mesmo tempo em que a tecnologia avança numa velocidade sem precedentes, a humanidade clama por algo ancestral: a conexão.”
O SXSW 2025 não foi sobre o que as máquinas são capazes de fazer, mas sobre o que nós, humanos, estamos esquecendo de fazer. Em meio a mais de 1700 painéis, 215 ativações, 31 experiências imersivas de realidade estendida e a presença de gigantes como Amy Webb, Scott Galloway, Kasley Killam, Frederick G. Pferdt, Esther Perel e Brené Brown, a fala que mais ecoou foi: “A revolução não é sobre chips, é sobre vínculos”.
A inteligência artificial dominou os debates – sim, com seus modelos generativos, agentes multimodais e códigos abertos que tornam o futuro exponencial. Mas o que realmente impactou foi o chamado à construção de pertencimento. Porque a IA pode ser rápida, mas não é empática. Pode ser lógica, mas não sente. E, sobretudo, não pertence a nada.
Brené Brown sintetizou com precisão: “A conexão é a energia que existe entre as pessoas quando elas se sentem vistas, ouvidas e valorizadas”.
E aqui mora a grande contradição do nosso tempo: no mundo digital, expor-se virou um risco. Quanto mais nos conectamos virtualmente, mais tememos o julgamento. Mas é justamente na autenticidade que reside nossa força.
Mesmo assim, 85% dos líderes ainda associam vulnerabilidade à fraqueza. E isso custa caro: 65% das pessoas deixam seus empregos por causa da liderança — não pelo salário.
Por outro lado, ambientes que cultivam confiança geram 76% mais engajamento, e 90% dos colaboradores afirmam valorizar líderes autênticos e transparentes — dados extraídos das pesquisas conduzidas por Brené ao longo de sua carreira.
Esther Perel foi certeira: vivemos na era da conveniência extrema. Um clique, um match, uma resposta automática. Mas relacionamentos humanos não seguem a lógica dos algoritmos. Eles exigem tempo. Frustração. Coragem. Vulnerabilidade.
Quando evitamos o desconforto, colapsam os vínculos. E nesse vácuo relacional, a solidão se instala como uma epidemia silenciosa — mais letal do que fumar 15 cigarros por dia, segundo Kasley Killam.
Se a indústria de saúde mental já movimenta centenas de bilhões de dólares, a grande aposta para os próximos anos é o crescimento da chamada “saúde social”. Por isso, o chamado mais urgente não foi por mais inovação, mas por reconexão.
Enquanto CEOs discutiam superinteligência, as vozes mais provocativas diziam: Precisamos reumanizar os algoritmos e digitalizar a empatia. Porque sem conexão, o avanço é só aceleração.
E, como alertou Douglas Rushkoff: “Nada na natureza cresce exponencialmente para sempre, exceto o câncer. E ele mata seu hospedeiro”.
No fim, ficou claro: a verdadeira ruptura do nosso tempo não é entre homem e máquina. É entre humano e humano. E a pergunta que ecoava em cada painel, cada conversa, era direta e essencial: Como construir um futuro que valha a pena viver, juntos?
O SXSW 2025 respondeu com ousadia:
- Com empatia.
- Com comunidade.
- Com pertencimento.
Porque, no fim, a verdadeira disrupção é continuar humano.