Quase oito anos após o Cade vetar a fusão entre Cogna (ex-Kroton) e Yduqs (ex-Estácio), os rumores sobre uma nova tentativa de união entre as duas gigantes da educação voltam a ganhar força. Segundo o BTG Pactual, o contexto atual oferece uma base mais favorável para o negócio, especialmente do ponto de vista de valuation e dinâmica competitiva do setor.
De acordo com relatório dos analistas Samuel Alves e Yan Cesquim, as ações de ambas as companhias são negociadas atualmente a múltiplos semelhantes — cerca de 4,5 vezes o Ebitda estimado para 2025 e 4 vezes o projetado para 2028 — eliminando o prêmio histórico da Cogna que inviabilizava uma fusão sob condições equânimes. Isso torna a proposta mais palatável para a Yduqs, que em 2025 acumula valorização de 81,3% em suas ações, atingindo um valor de mercado de R$ 4,2 bilhões. Já a Cogna registra alta de 167,6%, com capitalização de R$ 5,4 bilhões.
No plano estratégico, a fusão poderia reposicionar as empresas como formadoras de preço no segmento de educação a distância (EAD), que sofre com excesso de competição e compressão de margens. Para o BTG, um grupo combinado Cogna/Yduqs teria poder de barganha mais robusto, promovendo disciplina de preços e otimizando gastos com G&A e capex, ainda que o histórico do setor não mostre sinergias substanciais em consolidações anteriores.
Entretanto, o banco alerta para obstáculos regulatórios e operacionais. Apesar da queda relativa na participação de mercado desde o veto de 2017, a nova tentativa de fusão ainda enfrentaria resistência do Cade. Além disso, a Cogna diversificou significativamente seu portfólio nos últimos anos: cerca de 35% do seu Ebitda vem hoje do ensino básico, via Saber e Vasta, o que poderia limitar sinergias com o modelo predominantemente universitário da Yduqs.
O setor enfrenta também variáveis externas que aumentam a incerteza. A revisão regulatória no EAD e o programa Mais Médicos I, que pode redistribuir vagas de medicina entre instituições privadas, têm potencial de afetar o valuation de ambas as empresas. Embora o BTG mantenha recomendação de compra para Yduqs e posição neutra para Cogna, reconhece que notícias sobre possíveis fusões devem sustentar o momentum positivo das ações no curto prazo.
Nos bastidores, nem Cogna nem Yduqs confirmam ou negam tratativas. No mercado, no entanto, o movimento é acompanhado com atenção, considerando que a última década produziu uma explosão de M&As no setor de educação, envolvendo players como Vitru, Cruzeiro do Sul e Ser Educacional, além de fundos interessados em consolidar ativos em um ambiente ainda desafiador, mas de recuperação gradual.