A Amazon acaba de estrear uma nova estratégia de monetização cruzada entre mídia e e-commerce com o lançamento do “Shop the Show”, funcionalidade que transforma filmes e séries do Prime Video em vitrines interativas de produtos. Inicialmente disponível nos Estados Unidos, o recurso já cobre mais de 1.300 títulos e permite que os usuários comprem itens vistos nas produções diretamente pelo app da Amazon, eliminando a fricção entre o desejo e a compra.
O modelo reforça o conceito de commerce-driven-entertainment, tendência que vem ganhando força à medida que grandes plataformas assumem o controle de toda a cadeia – da atenção ao checkout. Segundo a própria Amazon, 89% dos espectadores já buscaram ou compraram algo em seus celulares enquanto assistiam a conteúdos de vídeo. A empresa agora busca capturar essa intenção de compra no próprio ecossistema, transformando o conteúdo em mídia proprietária 100% rastreável e transacional.
O movimento segue a lógica de verticalização iniciada com a aquisição do estúdio MGM em 2021, que custou US$ 8,5 bilhões, e se alinha à estratégia de outras gigantes do varejo digital. O Mercado Livre, por exemplo, lançou sua própria plataforma de streaming em 2023, com foco em conteúdo gratuito financiado por publicidade. Já o TikTok Shop começou a operar no Brasil em maio de 2025 e, em menos de uma semana, movimentou mais de R$ 12 milhões em vendas, segundo dados internos divulgados por parceiros da rede.
Ao centralizar dados de audiência, comportamento e consumo em um único ecossistema, a Amazon transforma o funil de vendas tradicional em um circuito fechado, no qual awareness, interesse, consideração e conversão ocorrem na mesma interface. Com isso, reduz custos com mídia paga, melhora a assertividade das recomendações e impulsiona vendas por impulso com base em contexto emocional e aspiração estética.
A iniciativa também sinaliza uma mudança no papel da mídia como canal de performance. Em vez de alugar espaço em plataformas de terceiros, varejistas com capital e dados suficientes estão criando seus próprios canais de influência e conversão, integrando narrativas de marca a rotinas de consumo. Para o mercado, o desafio será acompanhar essa fusão entre storytelling e checkout, que tende a reconfigurar os orçamentos de marketing, mídia e tecnologia nos próximos ciclos.