Toda edição desta revista é, no fundo, um convite à travessia. Mas esta aqui, com Pedro Zannoni na capa é um aviso. Um sinal de que o tempo da superfície passou. O tempo dos slogans, dos dashboards decorativos, das metas que se repetem como mantras vazios. Zannoni nos mostra que liderança não é sobre vencer partidas, mas sobre compreender o jogo. E que, para jogar bem, é preciso antes saber perder o ego, o controle, a pressa.
Ex-tenista, ex-professor, atual CEO de uma das marcas mais icônicas do planeta, ele nos entrega uma fórmula sem fórmulas: constância vence velocidade. Estratégia vence improviso. E escuta vence ego.
Mas essa escuta não é trivial. Ela exige disposição para o desconforto, para rever a tradição sem descartá-la, e para adaptar a visão global à pele de cada mercado. Foi isso que ele fez na Lacoste, transformou uma marca de legado em um organismo vivo. Com atenção aos detalhes, com respeito ao time, com clareza de onde se quer chegar e sobretudo, com coragem para mudar o que precisa ser mudado.
Esse movimento reverbera em toda a edição. Quando Israel Kenan aponta que o lucro no varejo de moda não está mais no produto, mas na oferta, ele está falando da mesma virada de chave: ganhar dinheiro não é sorte, é método. E método, no novo capitalismo de marca, passa por experiência, repertório e conexão emocional. A experiência virou diferencial competitivo. A escuta virou ativo estratégico. E o consumidor, esse ser tão volátil quanto exigente, percebe com exatidão quando uma marca entrega presença ou apenas presença digital.
Steven Phil, em seu ensaio sobre a cultura da performance, vai além e mostra que o erro, antes motor do aprendizado, foi transformado em desvio moral. Vivemos uma era que almeja perfeição maquinal, mas produz esgotamento humano. E enquanto a inteligência artificial alucina com lógica, o ser humano adoece tentando não tropeçar.
É nesse contexto que a liderança de Zannoni se coloca. Porque ele não busca a imagem ideal do CEO blindado, infalível e distante. Ele opera com vulnerabilidade estratégica aquela que não teme reconhecer os limites, mas sabe como transformá-los em força.
Andrea Dietrich também tocou nesse ponto quando nos alertou: a IA não representa o fim do trabalho, mas o fim do trabalho sem alma. O futuro não nos pede mais técnica, nos pede mais tato. Pensar criticamente. Sentir com profundidade. Criar com propósito. E para isso, não há ferramenta, só formação. Não há algoritmo, só autoconhecimento. Por isso a matéria de capa é mais que uma entrevista, é um espelho. Um convite à reflexão sobre o tipo de liderança que estamos construindo nas empresas, nas equipes, nos próprios discursos.
Ao final desta leitura, talvez você, leitor, perceba o que nós percebemos ao montar essa edição: não estamos mais diante de um mercado movido por fórmulas. Estamos diante de um cenário onde sensibilidade e estratégia se entrelaçam. Onde o branding é feito de verdade e o valor, de coerência. Pedro Zannoni não apenas dirige uma marca com um crocodilo no peito. Ele a transforma em símbolo de resiliência elegante, de potência silenciosa e de uma liderança que sabe… o jogo só termina para quem para de aprender.
Que esta edição seja, como o próprio Zannoni, um lembrete, ou você vira espelho… ou vira vitrine.