A inteligência artificial é insaciável. À medida que os modelos crescem em complexidade, os data centers se multiplicam e a demanda por energia elétrica escala a níveis estratosféricos. O novo gargalo do Vale do Silício não é mais chip, nem talento, é eletricidade. E na ausência de alternativas realmente sustentáveis em larga escala, as big techs estão redescobrindo um velho conhecido: o átomo.
A mais recente movimentação veio da TerraPower, startup de energia nuclear fundada por Bill Gates, que anunciou uma rodada de US$ 650 milhões com participação da Nvidia e Hyundai. O objetivo: desenvolver reatores nucleares modulares (SMRs), estruturas padronizadas, menores e mais rápidas de serem implantadas, com promessa de segurança e escalabilidade.
Mas Gates não está sozinho. O Vale do Silício inteiro está acelerando o passo rumo à energia nuclear:
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Oracle já obteve licenças para construir três SMRs com capacidade combinada de 1 Gigawatt, exclusivamente para seus data centers de IA.
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Microsoft não só está financiando a Helion (startup de fusão nuclear), como também planeja reativar o reator de Three Mile Island, palco do maior acidente nuclear da história dos EUA.
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Google firmou um acordo com a Kairos para instalação de sete reatores modulares dedicados às suas operações.
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Amazon diversificou, investindo em três empresas de energia, sendo que duas trabalham diretamente com tecnologias nucleares.
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Meta garantiu fornecimento por 20 anos com a Constellation Energy, ligada ao centro de energia nuclear Clinton, em Illinois.
O pano de fundo dessa corrida é simples e alarmante: a demanda energética dos data centers deve mais que dobrar até 2030. Só os supercomputadores em escala zeta, segundo estimativas da AMD, vão consumir o equivalente à energia de 375 mil residências.
Ficar refém da matriz energética tradicional, instável, poluente ou insuficiente, virou risco estratégico. E embora a energia solar domine na China, com projeções de superar todas as fontes combinadas dos EUA nos próximos anos, o Ocidente parece estar apostando que os próximos chips serão movidos… à fissão nuclear.
Enquanto isso, no Brasil, o jogo também começa: Diamante, Terminus e INB anunciaram investimentos de R$ 30 milhões em micro-reatores nucleares capazes de operar por mais de 10 anos sem reabastecimento. Uma peça pequena, mas simbólica, nesse novo tabuleiro global.