Eu já chorei escutando Alcione Albanesi. Chorei e não larguei o lápis, como quem precisa continuar desenhando uma história viva enquanto ela passa diante dos olhos. Porque quem escuta Alcione, escuta algo maior do que uma biografia. Filha de Guiomar de Oliveira Albanesi, hoje com 98 anos, Alcione vem de uma linhagem que já iluminava corações muito antes da energia elétrica alcançar tantos cantos do Brasil. Foi dona Guiomar, ao lado de Serafim Albanesi, quem deu início ao Perseverança, em 1964, nome que diz tudo. É dessa fonte de fé e ação que brotou a mulher que hoje transforma vidas com o mesmo brilho nos olhos da menina que rifava seus brinquedos para arrecadar dinheiro e ajudar os outros. Perseverança é escola que não esmorece. A matriarca é árvore e raiz. Um ser de fé e ação.
Dessa fonte, Alcione não apenas bebeu, mas multiplicou. Fez da vontade o motor, e da compaixão, o combustível. Criou a FLC, desafiou gigantes, acendeu o mercado de lâmpadas e iluminou o Brasil com inovação, ousadia e muito suor. Mas, como toda alma inquieta que sabe que o verdadeiro brilho não vem da vitrine, Alcione foi além, vendeu a FLC no auge para acender outras vidas.
Hoje, ela lidera o Amigos do Bem, um dos maiores projetos sociais do país.
O sertão nordestino, que antes chorava silenciosamente, agora canta com escolas, moradias, poços e dignidade. Alcione entra onde o Estado não chega. E não entra sozinha. Entra com fé, com amor e com gente. Gente como os quatro filhos, com quem dividiu, numa noite de 2003, uma decisão irrevogável. Reuniu-os na sala de jantar, pediu que vestissem roupa social, porque o momento era sério, e declarou: “Estou começando um projeto e vou até o fim. Com saúde, sem saúde, feliz, infeliz, de qualquer jeito eu vou até o fim”. Nenhum boardroom seria mais simbólico.
Richard, seu filho, eu conheço. Um empresário brilhante, CEO da The LED. Cresceu vendo a mãe cruzar o mundo 71 vezes para trazer inovação. Aos 13 anos, já a acompanhava nas viagens à China. Hoje, ilumina estádios, aeroportos, grandes palcos, mas nunca deixou de admirar o palco silencioso onde sua mãe sempre brilhou, como o das causas invisíveis aos holofotes. Essa família não é só de empresários, filantropos ou visionários. É uma família de luz. E não falo em metáfora barata. Falo da luz real que chega onde o escuro ainda é regra. Da fé que move caminhões de alimentos, carretas de esperança e jornadas de transformação.
Alcione não precisa ser canonizada. Precisa ser multiplicada. Porque o que ela e sua família construíram da fundação espiritual de seus pais, à fábrica de LED, ao sertão nordestino é mais do que uma trajetória. É uma usina. E não de energia elétrica, mas de energia humana. Ela disse que tem um contrato com Deus. Eu acredito. Porque se o céu tem algum plano de contingência para a Terra, ele certamente inclui algumas Albanesis. Essa não é só uma crônica. É um agradecimento. Por cada criança que aprendeu a escrever, por cada poço que brotou água, por cada vida que deixou de ser esquecida. Por cada clarão em pleno sertão.
Sim, Alcione acendeu lâmpadas. Mas o que ela nunca contou é que, na verdade, o que ela mais acende são almas. Obrigado em nome de muitos.